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Vício nas ‘telas’ causa distúrbios e prejudica as crianças na escola

Especialistas ressaltam importância do brincar para os pequenos e a responsabilidade dos pais

Por Bia Moço
07/10/2018 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


Cada vez mais se ouve falar em crianças com depressão, hiperatividade, ansiedade e dificuldade no aprendizado, o que tem deixado pais e responsáveis preocupados. No entanto, esquecem que a oferta das famosas telas, como tablets, celulares e computadores, podem ser os principais causadores destes distúrbios. Segundo especialistas, os pequenos precisam ter tempo de brincar, seja ou não ao ar livre.

Conforme explica a pediatra e professora da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Denise de Oliveira Schoeps, é comprovado cientificamente que brincar estimula o cérebro. Além da concentração e criatividade, também são desenvolvidos sensos motores e de aptidões. A especialista ressalta que as crianças precisam de companhia infantil e também de estímulo adulto. Parques, praças e espaços adequados fazem a diferença. “A oferta excessiva de tecnologia causa diversos problemas. Além do isolamento social, é notável o sedentarismo, obesidade e irritabilidade. Isso tudo porque as telas, usadas de forma errada, têm influência severa no sistema nervoso, principalmente de bebês”, explicou a médica.

A orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria, inclusive, é a de que crianças não utilizem tecnologia por mais de duas horas diárias, além de que, até os 2 anos, não devem ter acesso a celulares e tablets. “É importante para a vida formadora da criança que os pais lhes deem atenção e brinquem junto, o que hoje, também pelo vício dos adultos no celular, é deixado de lado”, critica Denise.

Exemplo de dedicação à brincadeira, a dermatologista Mariliza Tanaka, 39 anos, impôs limites em sua casa. Os dois filhos, Laura, 5, e Henrique, 3, só podem usar o tablet aos fins de semana, e se houver merecimento. “Somos disciplinados. Sou uma acumuladora nata e tenho quartinho cheio de sucata. Todos os dias crio novas brincadeiras, confecciono e fico com eles durante o tempo que destinamos ao brincar”, conta.

Com a casa sendo uma “verdadeira bagunça” ela diz pensar no futuro dos filhos. “Acredito que brincar desenvolve tanto o físico quanto o intelecto. Prezo muito pelo futuro deles. Um dia terão todo esse acesso (tecnológico), então que sejam crianças enquanto têm de ser.”

Embora a maioria dos pais saiba a importância de brincar, é comum alegarem a falta de tempo e de vontade, ou também falta de espaços adequados. No entanto, além do mal psicológico que o uso excessivo das telas faz as crianças, há questão latente: o desinteresse pela escola.

A psicóloga Ana Paula Magoso Cavaggioni explica que o excessivo uso da tecnologia, como, por exemplo, da internet, pode gerar prejuízos na formação intelectual da criança. “Também pode prejudicar a formação social deles já que, muitos permanecem dentro de casa, brincando sozinhos com recursos tecnológicos, privando-se do convívio com outras pessoas.”

De acordo com a especialista, por conta do vício nas telas, atualmente os pequenos têm mais dificuldade de estudar e de se concentrar na sala de aula. Isso porque a falta dos aparelhos causa uma dependência, o que os deixa elétricos – uma abstinência tecnológica.

A manicure Anair Quirino da Silva, 34, é mãe de dois meninos: Guilherme, 12, e Leonardo, 9. Os irmãos, que são viciados em jogos e vídeos, para não “perderem tempo”, recusam passeios em família. “O Léo teve até queda de notas na escola. Aos fins de semana, peço para que ele desça e brinque com as crianças no condomínio, mas ele vai para lan house do prédio. É muito difícil”, disse a mãe.

O pai dos meninos, Silvano Barros, 48, reconhece que tem culpa. “Somos a direção dos nossos filhos. Se ofertamos o aparelho e não estamos impondo limites, erramos duplamente.”

Colégio insere prática do brincar no aprendizado

Brincar e educar são situações que caminham juntas. Essa é a visão da diretora e mantenedora da Cycle International School, escola particular no bairro Jardim, em Santo André, Camila Nascimento Siqueira. Com visão educadora, ela ressalta que as crianças têm de ser vistas como seres que os adultos esperam para o futuro.

“Temos de ter crianças preparadas para a vida. Enquanto são pequenos, a brincadeira faz parte de todo um desenvolvimento, tanto físico quanto psicológico e intelectual”, explicou.

Para Camila, embora a tecnologia esteja inserida na vida dos pequenos, é importante as escolas entenderem que a época mudou, dessa forma, não deixando as crianças perderem o interesse no ensino.

A psicóloga Ana Paula Magoso Cavaggioni ressalta que, atualmente, a criança é ouvida e considerada como alguém que tem algo a dizer, e a educação não é mais exercida de forma vertical, mas horizontal. “Alta exposição a tecnologia diminui a capacidade de captar detalhes durante uma conversa, prejudica a leitura de informações não verbais e reduz, inclusive, a possibilidade de reconhecer o contexto emocional de algumas situações.”

INCENTIVO - Diversas escolas da região, particulares, municipais e estaduais, são conveniadas à Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Em setembro a organização realizou mais uma edição do Encontro Nacional do Programa Escolas Associadas, que reúne unidades educacionais de todo o Brasil que buscam novas formas de ensinar, inclusive, preservando valores essenciais para as novas gerações, inclusive, utilizando o método coletivo da brincadeira.

Camila ressalta ir além do pedagógico formando cidadãos para o mundo. A escola procura também evitar uso de tecnologia e incentivar o coletivo das crianças, seja em casa ou na unidade. “Para nós, brincar é coisa séria”, aponta Camila, que com uso de sucatas e recicláveis destaca a inserção dos alunos em contexto de troca, presente em todas as aulas.
 




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