Mais de 17.000 crianças aguardam por uma vaga em creches da rede pública do Grande ABC. O déficit é a maior demanda registrada nos conselhos tutelares da região. A falta de oferta chega ao Ministério Público, que exige que os municípios prestem contas à Justiça pela omissão na educação infantil. O caso mais crítico está em Diadema, com 8.500 menores de zero a seis anos na fila de espera.
As prefeituras resistem em revelar o tamanho do problema. Questionada por mais de três semanas, a cidade de Rio Grande da Serra não passou os dados, apesar de não negar que existe déficit na rede. Em Mauá, os números só foram obtidos com o MP. O município necessita criar mais 4.199 vagas. A secretária de Educação, Ângela Donatiello Lopes, não aceitou dar entrevistas. Uma negativa comum a todas as cidades.
A surpresa é que, apesar de mais populosas, Santo André e São Bernardo estão na frente na ampliação do número de vagas em suas redes próprias ou conveniadas. Ambas necessitam colocar 4.700 crianças na escola pública. A Prefeitura de Santo André, que precisa de mais 1.300 matrículas (o déficit já foi de 8.000), anunciou que durante este ano, 1.200 novas vagas estarão à disposição. Chance para quem precisa trabalhar e não tem com quem deixar os filhos.
É o caso da diarista Suzana Santos Constantino, 21 anos. "Preciso arrumar dois lugares, para minha filha Maria Eduarda, 1 ano, e Fernando, 3. Sempre falam que não tem vaga, principalmente para o mais filho. A menor ainda consigo levar para o trabalho, mas o Fernando não pára. Não tenho como trabalhar com ele nem com quem deixar", conta.
A falta de respostas faz com que muitas mulheres percam a chance de arrumar serviço. A justificativa das administrações municipais é que a fila nunca acaba por mais que creches sejam construídas ou ampliadas.
Para garantir sobras, pelo menos por algum período de tempo, a Prefeitura de São Bernardo garante que abrirá 4.260 vagas para alunos de zero a seis anos. A demanda oficial está em 3.400. O município é o que mais atende crianças nesta faixa etária. São 34.300 matrículas na rede própria ou conveniada.
O promotor público da Vara da Infância e Juventude de Diadema, André Pascoal da Silva, diz que todo menor tem direito à educação, conforme estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente. "A procura é muito grande e, muitas vezes, o Ministério Público tem que ingressar com ações. Não dá para atender os pedidos de maneira individual", explica.
O não cumprimento da lei é considerado violação de direitos. No conselho de Ribeirão Pires, cidade com déficit de 1.300 vagas, as mesmas reclamações. "É o que mais ouvimos aqui. Pais pedindo matrícula na educação infantil", diz a conselheira Edna Amante.
A Prefeitura diz que providencia um cadastro único para facilitar a criação e a seleção de vagas. Diadema está em negociação com o MP e São Caetano é o único da região que garante não tem crianças na fila de espera.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.