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Trabalho e estudo: vida difícil para estudantes
Dé Oliveira
Especial para o Diário
21/12/2004 | 09:17
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Todos dias, a estudante Débora Freire, de 19 anos, acorda às 6h e, depois de um rápido café da manhã, vai para o cursinho. No percurso do ônibus, de 20 minutos, aproveita para estudar um pouco. O dia de aulas começa às 7h e termina às 12h30. Rapidamente, a aluna volta para sua residência, no bairro Olímpico, em São Caetano, almoça e retorna aos livros. Depois de cerca de uma hora e meia de estudos, sai para o trabalho, em uma locadora de vídeos. Entra às 16h e sai às 22h. De volta para a residência, enfrenta o cansaço e encontra forças para estudar um pouco mais, antes de adormecer e retomar a rotina no dia seguinte.

Se para quem se dedica exclusivamente aos estudos a fase que antecede as provas dos vestibulares já é estafante, o que dirá para quem tem de conciliar estudo e trabalho, assim como Débora. Na maioria das vezes, são pessoas cujas famílias não têm condições de custear o valor de uma mensalidade na faculdade. "Eu que tenho de pagar o meu cursinho e também vou ter de arcar com a mensalidade da minha faculdade", conta Débora, aluna do curso pré-vestibular do Objetivo de São Caetano.

Menos opções de escolha de cursos e faculdades para se inscrever é outro problema enfrentado por essa parcela de estudantes. O fator locomoção é um dos empecilhos apontados pelos alunos, cujas opções ficam restritas aos locais próximos à residência ou ao trabalho. "Queria tentar vaga em uma universidade pública, mas acho complicado conseguir", diz a estudante Débora.

Os números do perfil socioeconômico dos inscritos na Fuvest para o vestibular 2005 mostram que a participação de estudantes de baixa renda é menor quanto mais concorrida é a carreira. Para o curso de Medicina, por exemplo, 80,8% dos inscritos declaram pertencer a famílias com renda superior a R$ 1.500.

Quando começou a fazer o cursinho, no início do ano, Débora nutria esperanças de conquistar vaga em alguma universidade pública gratuita para estudar Enfermagem. Após iniciar as aulas no cursinho, percebeu, no entanto, que não teria condições de concorrer com os demais. A estudante, que terminou o Ensino Médio há dois anos em escola da rede pública, ficou desanimada e pensou em desistir. "Se pudesse só estudar, meu desempenho poderia ser muito melhor", lamenta Débora, que em seu emprego ainda trabalha a maior parte dos fins de semana e feriados. "Não dá tempo de estudar."

Na opinião de Débora, o sacrifício vale a pena. Depois de refazer os planos, se inscreveu em vestibulares de faculdades cujas mensalidades cabem em seu orçamento. Há duas semanas, participou do vestibular do Imes (Universidade de São Caetano) e conseguiu ser aprovada.

Rotina parecida à de Débora enfrenta a aluna do Curso Singular Anglo Renata Meneghetti, também de 19 anos. Moradora de Santo André, ela trabalha das 8h às 17h como analista de suporte do Hospital Mario Covas. Depois, vai para o cursinho, onde fica todas as noites até às 23h. Os horários do almoço e os intervalos entre os trajetos para casa, trabalho e cursinho são utilizados para o estudo. "Como rapidinho para poder estudar", conta a estudante, que pretende cursar Medicina e se inscreveu nos vestibulares da Fuvest, Unifesp, Unesp, Unicamp e Faculdade de Medicina do ABC.

Por ter escolhido uma das carreiras mais concorridas do mercado, Renata se prepara para enfrentar outra vez a estafa caso consiga uma das vagas nas faculdades onde se inscreveu. Como o curso de Medicina exige aulas em dois períodos, terá de reorganizar o horário de trabalho. "Vou ter de conseguir um trabalho à noite". Além disso, precisará conseguir algum tipo de subsídio aos estudos para permanecer no curso, já que seus pais não têm condições de arcar com as despesas.




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