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Cores por todos os lados

Chilena, que hoje vive em Mauá, espalha a arte do grafite pelas periferias do Brasil e do mundo

Caroline Manchini/Especial para o Diário
16/09/2018 | 07:44
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Mônica Ancapi, 42 anos, chegou ao Brasil ainda criança. Ela e a família tiveram de deixar o Chile na década de 1980 para fugir do regime autoritário de Augusto Pinochet, ditador que governou o país por quase duas décadas. A escolha de São Bernardo como destino se deu por conta da concentração de indústrias instaladas no Grande ABC, já que lá seu pai exercia a função de metalúrgico e, uma vez em solo brasileiro, poderia encontrar boas oportunidades de emprego.

E foi nessa época que Mônica, que hoje mora em Mauá e tem o grafite como profissão, percebeu sua afinidade com a arte. “Sempre gostei de desenhar, tanto que guardo até hoje dezenas de cadernos com ilustrações que fazia”, lembra. Anos depois dos primeiros traços, decidiu aprimorar suas habilidades e entrou para Faculdade de Artes, localizada em Santo André.

Com o diploma em punho, fez também pós-graduação em arte educação e especialização em gravura na USP (Universidade de São Paulo). Imersa no universo artístico desde então, ela teve oportunidade de conhecer o grafite em 2011, quando participou de ocupação artística em uma construção abandonada nas imediações da estação andreense Prefeito Saladino. “Cheguei lá, vi diversos grafiteiros e me apaixonei pelo trabalho. Esse estilo de pintura dá liberdade ao artista.”

Antes disso pintava apenas em telas e as exibia em salões de arte do Brasil e exterior – já expôs na Espanha, Canadá, entre outros países –, mas decidiu também migrar para o grafite. “Em exposições a sua arte é mostrada para um grupo limitado de pessoas. Aqueles que não têm acesso à cultura ficam de fora.” Instigada a mudar essa realidade, decidiu levar ‘suas cores’ para as periferias, nos lugares mais remotos e carentes. Tanto é que, pelo menos uma vez por mês, se dedica a trabalhos sociais, nos quais grafitou diversos estados brasileiros e todos os países da América Latina, com exceção da Bolívia. “Todo mundo precisa de arte e, de alguma forma, ela precisa estar presente na vida dessas pessoas”, reflete. Muro de escola é um exemplo deste tipo de trabalho.

Tendo como referência a natureza de lugares que visitou, suas pinturas, sempre cheias de cores vivas, ilustram pássaros, borboletas, flores e, em quase todas, a figura feminina. Mônica acredita que a mulher tem de estar presente em todos os contextos, inclusive na arte.

“Gosto de trazer o colorido porque o mundo já é muito cinza. As cores vibrantes despertam alegria e bons sentimentos”, reflete. Além dos muros, Mônica continua com as suas telas e planeja, para o primeiro semestre de 2019, abrir exposição individual na Bélgica. Quer também espalhar sua paleta por toda a Europa. Para ela, que aos 8 anos não se intimidou com as fronteiras do seu país para tentar nova vida, também não há barreiras para a arte.  




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