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Sem ódio’, Atila critica Alaíde: ‘Tripudiaram da minha reclusão’

Prefeito de Mauá quebra silêncio, reclama de postura da vice, mas garante que retorna 'de coração limpo'

Raphael Rocha
14/09/2018 | 07:13
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Claudinei Plaza/DGABC


Na primeira entrevista após retomar o cargo de prefeito de Mauá, Atila Jacomussi (PSB) não poupou críticas à agora vice-prefeita Alaíde Damo (MDB) e ao grupo político que ela alçou para os principais setores do Paço enquanto o socialista esteve impedido de exercer a função. Embora por diversas vezes tenha pregado que evitará adotar a vingança como critério administrativo, Atila alfinetou os antigos aliados.

Sem citar especificamente o episódio, Atila criticou a comemoração feita pela ex-deputada Vanessa Damo (MDB) quando o TRF (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região estipulou medidas restritivas ao socialista depois de sua soltura por força de liminar expedida pelo ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal). À época, vazou vídeo do sistema interno de segurança da Prefeitura que mostrou Vanessa celebrando a decisão enquanto deixava o gabinete.

“Você nunca pode tripudiar quando alguém está em uma cama de hospital, quando a pessoa está reclusa. Não pode comemorar reclusão de ninguém para alcançar outros objetivos. Para ser um grande político você precisa ser um grande ser humano. Tem de gostar das pessoas. Isso tudo é passageiro. Fui eleito por quatro anos, poderei ser reeleito se assim for a vontade do povo e de Deus. Não quero alcançar objetivos tripudiando ou comemorando o insucesso de outros”, disparou Atila, para, na sequência, abrandar a crítica contra Vanessa. “Respeito muito a Vanessa. Fui deputado com ela. Tenho proximidade. Não tenho problema com a Vanessa e acho que ela não tem problema comigo. Não tenho raiva nem mágoa. Voltei com o coração limpo.”

Atila ficou 125 dias afastado da Prefeitura de Mauá, período que se iniciou no dia 9 de maio, quando ele foi preso na esteira da Operação Prato Feito, da PF (Polícia Federal), que apura suposto esquema de desvio de recursos para merenda e uniforme escolares em 30 cidades paulistas. Embora não houvesse inicialmente mandado de prisão contra ele, o socialista foi detido porque policiais encontraram R$ 87 mil em espécie em sua casa e outros R$ 588 mil, em dinheiro vivo, na casa do então secretário de Governo, João Gaspar (PCdoB). Atila ficou 37 dias preso, inicialmente na sede da PF em São Paulo, no bairro da Lapa, depois no presídio em Tremembé, no Interior. Ele negou as acusações (veja mais abaixo).

O prefeito concedeu entrevista ao lado de seus advogados, de seu pai, o presidente da Câmara, Admir Jacomussi (PRP), de sua mulher, Andreia Rolim Rios, e de dois de seus aliados mais fiéis, Israel Aleixo, o Bell (PSB), e Márcio de Souza (PSB) – os três últimos voltarão a ocupar cargos no primeiro escalão, sendo que Bell vai virar secretário de Governo, enquanto Márcio retornará à chefia de Gabinete. Outras alterações já aconteceram (veja mais abaixo).

Foram várias as vezes que Atila garantiu que não governará com o fígado. “Retorno com coração cheio de amor. Não venho com ódio ou vingança. O amor constroi”, ressaltou ele, sem, portanto, perder a oportunidade de questionar as atitudes de Alaíde. “Minha grande missão é fazer o povo sorrir de novo. Não é governo de família, de um grupo. Sou prefeito do povo, dos mais humildes, da periferia, daqueles menos favorecidos. Não sou prefeito do nepotismo, sou prefeito do povo.”

Especificamente sobre a relação com Alaíde, Atila afirmou que a emedebista não entrou em contato com ele desde a prisão. “Com todo respeito ela é vice-prefeita. Durante meu retorno, eu não conversei com ela. Infelizmente ela talvez não tenha tido tempo, durante esses quase 120 dias (de ausência do comando do Paço), de me ligar. Mas entendo. Talvez ela estivesse com muito trabalho. Isso faz parte. Respeito. A dona Alaíde é senhora de quase 70 anos (tem 69), eu respeito os idosos. Para ser respeitado você tem de respeitar o ser humano.” 

Decreto de calamidade financeira será reavaliado

O prefeito de Mauá, Atila Jacomussi (PSB), estimou que até terça-feira anunciará se revogará o decreto de calamidade financeira, estipulado por Alaíde Damo (MDB) durante o governo interino. “Vamos avaliar, com toda a equipe de governo”. No começo de julho, Alaíde adotou a medida alegando que o deficit financeiro da Prefeitura de Mauá poderia chegar a R$ 150 milhões neste ano caso as despesas não fossem represadas.

 “A situação econômica da cidade nunca foi fácil. Quando assumimos (em 1º de janeiro de 2017), tínhamos quase R$ 1,3 bilhão de dívidas globais. Quase R$ 400 milhões de dívida de curto prazo deixados pela administração do ex-prefeito Donisete Braga (hoje no Pros). São números, não críticas. Não fiz política de transferir responsabilidade. Em nenhum momento assinei decreto de calamidade financeira. Em vez de arrumar desculpa, procurei trabalhar”, citou.

 O socialista argumentou que, por estar há algumas horas de volta ao Paço, não conseguiu tomar pé de todas as decisões administrativas da gestão Alaíde, como o comunicado de descontinuidade do contrato com a FUABC (Fundação do ABC). Ele projetou reunião na próxima semana com a direção da entidade para entender como andam as tratativas para construção de um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta). “Só sei o que li na imprensa.”

 Por outro lado, assegurou que retomará programas de sua gestão, como o café para o trabalhador no terminal central da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e a reabertura do PS (Pronto-Socorro) do Hospital de Clínicas Doutor Radamés Nardini.

 “Saúde é prioridade no nosso governo. Devemos entregar várias obras. Mauá está renascendo. Se o dia tem 24 horas, vou trabalhar 72 horas para reconstruir essa cidade. Mauá agora tem 470 mil prefeitos. A população será grande mestre de obras para a gente reconstruir essa cidade, reconstruir com amor”, disse. 

Prisão foi desnecessária, diz advogado

Advogado do prefeito de Mauá, Atila Jacomussi (PSB), Daniel Bialski avaliou como desnecessária a prisão de seu cliente, decretada pela Justiça no dia 9 de maio, depois que policiais federais encontraram R$ 87 mil em espécie na residência do político.

 “Felizmente foi reconhecido que a prisão era desnecessária, que não haviam indícios de envolvimento dele com a Operação Prato Feito, da Polícia Federal. Ele foi mantido preso pela questão do dinheiro, que estava plenamente justificado. No fim, as medidas impostas foram de forma abusiva, por isso buscamos a revogação e por isso foram revogadas. Não havia razão ou justificativa para afastá-lo das funções públicas”, disse Bialski. “O Atila tem ficha ilibada, pessoal e profissionalmente, sempre agiu com lisura. Antes da vida pública, como vereador, deputado e como prefeito.”

 Segundo o advogado, a demora para o retorno de Atila ao Paço se deu pelo momento político do País. “Infelizmente o Brasil vive momento muito difícil. A discussão sobre impunidade de agentes públicos dificultou um pouquinho e delongou esse procedimento.”

 Atila garantiu ser inocente e que, na audiência de custódia, quando sua prisão foi decretada, explicou e comprovou a origem do dinheiro. “São de e aluguéis, do meu trabalho e da pensão do meu filho (Iago). Não existe nenhum envolvimento da cidade de Mauá e da minha pessoa com a Prato Feito. Nenhuma das empresas indiciadas tem contrato com a cidade de Mauá. A merenda em Mauá não é terceirizada. Sei da minha inocência, será comprovada brevemente.”

Treze secretários são demitidos; antigos aliados estão em xeque 

No primeiro dia após retornar à Prefeitura de Mauá, Atila Jacomussi (PSB) promoveu a exoneração de 13 integrantes do primeiro escalão da gestão interina de Alaíde Damo (MDB). Ele argumentou que outras trocas serão avaliadas tendo a capacidade técnica como critério.

 Ontem mesmo foram exonerados Antônio Carlos de Lima (Governo), Cássia Cogueto (Relações Institucionais), Caio Evangelista (Cultura), Marcelo Lima Barcellos de Mello (Saúde), Temístocles Cristófaro (Planejamento), Michel Bianchini (Trânsito), Laura Demarchi (Política para Mulheres), Paulo Cordeiro (Administração), Marcos Ratti (Habitação), Erenita Eman (Gabinete), Denise Debartolo (Educação), Luiz Alfredo dos Santos Simão (Segurança) e Mauro Moreira (Saneamento Básico do Município de Mauá). Apenas Marcos Maluf foi anunciado pelo prefeito, como novo titular de Administração.

 Após a entrevista coletiva, Atila se reuniu com o núcleo duro de seu governo e deu pistas sobre quem formará a linha de frente da retomada da gestão: Israel Aleixo, o Bell (PSB), liderará a Pasta de Governo; Márcio de Souza (PSB) ficará na chefia de Gabinete e na Comunicação; e a primeira-dama Andreia Rolim Rios tende a resgatar o posto de secretária de Política para Mulheres. José Vianna Leite e Paulo Barthasar também devem retornar ao primeiro escalão.

 Sobre algumas figuras políticas ligadas a ele, mas que se aproximaram de Alaíde, Atila também alfinetou. “As pessoas fazem opções na vida. Talvez quiseram se aproximar, de forma política, para ajudar ou não. Na vida você tem de ter lado e honestidade. Sou um cara que prezo pela minha palavra, pela minha honra e pela minha família.” 

 CANUTO

 Coordenador do PSDB na região, Márcio Canuto anunciou que entregará o cargo de secretário de Meio Ambiente. O tucano citou fragilidade da liminar obtida por Atila que, segundo ele, pode ser derrubada futuramente. “Decidimos abandonar o governo porque não queremos compactuar com tudo isso. Achamos que Mauá não merece mais uma instabilidade.”




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