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Acordo de Sharm el-Sheikh coloca problemas a Arafat e Barak
Do Diário do Grande ABC
18/10/2000 | 14:41
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Tanto para o líder palestino, Yasser Arafat, como para o premier israelense, Ehud Barak, a aplicaçao dos acordos acertados na véspera em Sharm el-Sheikh, Egito, para pôr fim à violência, anuncia-se difícil e politicamente arriscado.

A Autoridade Palestina se comprometeu nesta quarta-feira em um comunicado a ``agir para acalmar a situaçao'. É a primeira vez que assume um compromisso público semelhante.

Ao que parece, Arafat está decidido a cumprir seus compromissos, inclusive se estes ``lhe foram impostos' pelos países ocidentais e árabes, segundo Ghassan al Khatib, analista palestino. O problema é saber se tem os meios para fazê-lo, isto é, se controla a rua.

O dirigente de Israel assegura que tem, e que um apelo de sua parte será suficiente para pôr fim aos ataques contra israelenses.

Mas a destruiçao, a 7 de outubro, por uma multidao enfurecida de palestinos, da Tumba de Josué, lugar santo judaico no norte da Cisjordânia, e em particular o linchamento de dois soldados israelenses a 12 de outubro em Ramalá, demonstraram que no contexto apaixonado que reina atualmente Arafat é, às vezes, superado por sua base.

Sua autoridade para alguns dirigentes palestinos é cada vez mais posta em dúvida. O líder do Fatah na Cisjordânia, Marwan Barghuthi, a quem Israel apresenta como verdadeiro instigador do levante nos territórios, afirmava semana passada que ``Arafat pode dar ordens à polícia (palestina), mas nao a mim ou ao povo'.

Terça-feira, mal terminada a cúpula de Sharm el-Sheikh, Barghuthi garantia que a revolta palestina continuará.

Al Khatib estima que atualmente o controle de Arafat da situaçao é ``fraco' e que a única alternativa que tem é considerar os sentimentos de sua base.

``Arafat nao pedirá a Barghuthi que faça algo que ele (Barghuthi) nao possa fazer', afirmou.

``Para ser forte, Arafat deve falar a linguagem das ruas, caso contrário perderá a confiança das ruas em benefício de gente como a do Hamas', continuou.

O Hamas, Movimento de Resistência Islâmica, é uma formaçao integrista palestina responsável pela maioria dos atentados cometidos contra Israel nos últimos anos e cada vez mais popular entre os jovens palestinos.

Arafat nao é o único a ter problemas. Barak também os tem com a aplicaçao dos compromissos de Sharm el-Sheikh, mas sao de outra ordem e se referem à reativaçao do processo de paz.

Barak, que desde julho já nao tem maioria no Knesset (Parlamento), iniciou semana passada negociaçoes com os líderes dos principais partidos israelenses, encabeçados pelo Likud (oposiçao de direita), de Ariel Sharon, para formar um ``governo de emergência nacional'.

Mas o Likud se opoe decididamente ao reatamento das negociaçoes de paz nas bases da cúpula de Camp David (de 11 a 25 de julho passado), que fracassou, porque considera que Barak fez ali demasiadas concessoes, em especial sobre Jerusalém.

``Sharon tinha dito a Barak que se regressasse (de Sharm el-Sheikh) com algo além de um cessar-fogo, nao haveria governo de emergência nacional', declarou um expert israelense, Mark Heller.

Isso explica por que, segundo o jornal Haaretz, o chefe do governo israelense, ``preocupado' com esse assunto, conseguiu convencer o presidente americano Bill Clinton a que suprimisse da declaraçao final o fato de que os negociadores das duas partes estariam proximamente convidados a Washington para retomar as negociaçoes.

Assim, Clinton se limitou a dizer que ``consultará as partes nas duas semanas próximas', mas foi suficiente para que nesta quarta-feira Sharon rompesse suas discussoes com Barak.

Se a violência acabar e se retomarem as negociaçoes, ``nao haverá base para um governo de emergência nacional', estimou Heller.

O parlamento recomeça suas sessoes no final de outubro, e se Barak continuar à frente de um governo minoritário, com uma nova série de negociaçoes israelense-palestinas à vista, sua queda seria inevitável.




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