Cotidiano Titulo
O aniversário da Val
Rodolfo de Souza
23/08/2018 | 07:00
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 O trânsito está lento nesta noite em que me dirijo a uma pizzaria que por certo já ferve com a presença dos meus amigos que não se fazem de rogados quando o assunto é comemorar qualquer coisa. O que dirá, então, o aniversário da Val, acontecimento tão aguardado.

Por isso, não permitirei que primeira e segunda marchas logrem tirar o meu ânimo neste momento de aperto no tráfego do meu Grande ABC. Ainda que, uma avenida de lanternas vermelhas à minha frente, esteja determinada a sabotar o meu entusiasmo.

Claro que a comilança já deve bater a terceira rodada, enquanto este faminto cristão amarga o engarrafamento, sina de quem vive em lugares onde o número de carros extrapola o entendimento.

Droga! Deveria ter feito outro caminho, aquele que desprezara porque, com certeza, estaria até a tampa de veículos indo para casa ou para as pizzarias, bares, churrascarias, templos do prazer desta vida que merece ser celebrada todos os dias, seja lá como for. Por isso, tenho que me conformar, é hora de pico. Aliás, toda hora é hora de pico no meu Grande ABC de tanta gente, carros e professores aniversariantes. Por que a Val não marcou para as duas da madrugada? Sabia que eu teria que viajar de Santo André a São Caetano. Mesmo assim, prossigo animado. Se os meus amigos são capazes de transformar em festa a dureza do dia a dia, o que farão num evento como este?

E se eu deixasse o carro aqui e fosse a pé...? Uns dez quilômetros, talvez... Alternativa prática para quem vive numa cidade que tem automóveis demais e ruas de menos. Um paraíso de prédios e avenidas inventadas, um dia, para o ser humano caminhar, mas que hoje estão repletas de pessoas com seus carros, como eu. Mas é preciso insistir. Não vou sucumbir ao desânimo e perder o aniversário da Val, por nada!

Uma fila à direita tentando convergir para uma ponte pequenininha com um semáforo logo à frente: para tudo. Tenho que sair daqui, ir mais para lá, para a esquerda. Aliás, direita e esquerda estão sempre se contrapondo. Como não lembrar disso agora? Até porque, com o trânsito fluindo, pensamos. Com ele parado, pensamos ainda mais. Pensar, aliás, é passatempo predileto das mentes em ebulição. Aborrece-me, inclusive, pensar que a festa vai longe enquanto eu padeço aqui neste mar de carros.

Impiedosos motoristas! E se eu lhes dissesse que vou à festa da Val? Possivelmente abririam passagem! Até porque, há razão de sobra para se comemorar aniversário, sinônimo de mais um ano de pé sobre esta imensa e selvagem planície que gira e gira, devorando nossos dias e nossas horas.

Pronto. Parece que agora vai.

Ah! Finalmente estou perto! Mas onde diacho se meteu a tal pizzaria? Pelo que disse a Val, é fácil chegar. É logo ali, perto não sei de quê. Boto o Wase para funcionar. Atrapalhou-se o pulha. Paro, então, e decido usar outro expediente tecnológico e, por meio de mensagem, Roberta me passa as coordenadas. Legal!

Cheguei! Nossa! Finalmente sou parte da festa da Val, e isso me faz esquecer os percalços urbanos, me lançar de cabeça na gritaria, na cantoria, na comilança e no tilintar de copos que aguçam ainda mais os ânimos. E lá estão todos eles envolvidos numa atmosfera de alegria contagiante que, somada ao cheiro da boa comida, me aquece o coração. E a Val, deslumbrante, vem ao meu encontro. Descubro ali, então, mais do que uma comemoração. Aquela gente toda, na verdade, se confraterniza em torno da Val que sempre reúne a turma nesta data. Ocasião em que não poderia faltar, claro, a fantástica figura do Risonho com seu senso de humor e presença de espírito, imprescindíveis quando o assunto é festejar.




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