No artigo, Fernando Henrique ataca “a falta de um projeto de longo prazo para efetuar as mudanças que já estavam em curso nas políticas sociais e na máquina estatal”. O ex-presidente também diz que “a sensação de mal-estar registrada pelo presidente (Lula) vem da inoperância gerencial e dos recuos na regulação de uma economia moderna de mercado”.

O ex-presidente escreveu ainda que o Ministério da Fazenda “parece sitiado em seu bom senso”. Foi a crítica mais direta feita por Fernando Henrique ao governo Lula desde o seu início.

O presidente do PT, José Genoino, reagiu afirmando que Fernando Henrique está, na prática, assumindo o papel de líder da oposição ao governo. “Acho que Fernando Henrique deixou a postura de ex-presidente para assumir a de um dos líderes da oposição. Minha opinião é que a transição negociada acabou há muito tempo e foi bom que o PSDB tivesse tomado a iniciativa de começar as críticas”, disse.

Genoino também atribuiu à “herança” do governo anterior as dificuldades enfrentadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Genoino destacou o “êxito” do governo na macroeconomia do país e as iniciativas adotadas por Lula na retomada da construção civil, recuperação de estradas e no anúncio da política industrial que, acredita, ajudarão o país a recuperar índices de crescimento e a gerar empregos.

“Ele (FHC) deveria falar do crescimento da dívida pública no governo dele. Acho que esse é o principal ponto da herança. O de que a dívida se multiplicou”, acusou. “Fernando Henrique deveria opinar sobre os momentos graves da crise cambial quando ele presidia o Brasil”.

O presidente do PT, entretanto, deixou sem resposta a avaliação do ex-presidente que afirmou que, na “falta de um projeto de governo consistente com a realidade, os líderes políticos ziguezagueiam entre a paralisação administrativa e as tentações voluntaristas de volta a um passado impossível de ser retomado”.

No artigo, Fernando Henrique afirma ainda que o governo perdeu a oportunidade de crescer em 2003 e possivelmente este ano, quando poderia se favorecer das taxas de juros internacionais.

Fernando Henrique diz ainda que o “erro do governo é de base”. E que “começou com a repetição demagógica de ter recebido uma herança maldita”.

Genoino assegurou que as críticas do ex-presidente não interromperão o diálogo do governo com os governadores tucanos. “Nossa relação com os governadores e com setores do PSDB continuam do mesmo jeito. As negociações pontuais que sempre foram feitas no Congresso não vão sofrer influência com esse artigo de Fernando Henrique”, frisou.

Para o futuro líder do governo na Câmara, deputado Professor Luizinho (PT-SP), o ex-presidente “não tem direito nem autoridade para falar mal do governo Lula”. “Do jeito que ele entregou o país, é claro que tinha conhecimento prévio das dificuldades”, alegou. O deputado disse que Fernando Henrique “está sendo precipitado”.

Professor Luizinho insistiu que Fernando Henrique Cardoso deveria saber que, com juros de 25% e a escalada inflacionária, a recuperação dessa retração levaria um tempo. “Por isso é que a crítica é leviana.”