Bando atuava em várias rodovias do Estado e focava aço, cobre e polietileno, entre outros materiais
Operação da Polícia Civil, deflagrada na manhã de ontem, prendeu uma das maiores quadrilhas especializadas no roubo de cargas em rodovias do Estado, algumas que cortam a região. O foco dos ladrões eram caminhões que transportavam polietileno (termoplástico comumente usado na fabricação de embalagens e encanamentos), combustível, alumínio, bobinas de aço e cobre. Nada menos do que 21 dos cerca de 30 integrantes do bando foram presos, entre eles o chefe de todo o esquema. A polícia trabalha agora na segunda fase da operação, que investiga as empresas que receptavam os materiais, mas a polícia não deu detalhes.
Iniciada há seis meses, a Operação Ouro Branco envolveu 120 policiais do Grande ABC, Litoral e Interior. Segundo André Santos Legmaioli, delegado titular da Dise (Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes) de Santo André, o trabalho começou devido ao alto índice de roubos de carga na região, sobretudo de algumas matérias-primas de alto valor, como o polietileno.
“Com base no trabalho da inteligência, conseguimos chegar nesses indivíduos. Nós temos hoje (ontem) 25 mandados de prisão temporária decretados pela Justiça e 38 de busca e apreensão, mas existem mais pessoas envolvidas, um outro nicho dentro da organização”.
Durante a operação da polícia, foram apreendidos seis carros, seis carretas, três motocicletas e dois cavalos, todos utilizados pela quadrilha. A polícia também localizou oito aparelhos inibidores de sinais (utilizados para roubo de cargas e sequestros relâmpagos de motoristas), oito armas de fogo e cerca de 1.500 pinos de cocaína
O nome da operação é referência à forma como os bandidos chamavam o polietileno, carro-chefe da quadrilha. “O polietileno é uma liga plástica, matéria-prima para uma infinidade de produtos. Então, tanto o pequeno empresário quanto grandes empresas têm interesse em adquirir esse produto por um preço relativamente baixo”, disse o delegado.
As cargas valiam entre R$ 500 mil e R$ 800 mil, segundo o delegado. Foram apreendidos e levados à sede da Dise de Santo André centenas de documentos, computadores, armas, cofre e potentes jammers, como são chamados os bloqueadores de sinais.
Um dos pontos que mais chamaram a atenção da investigação foi a organização dos bandidos. Eles se dividiam em áreas administrativa, logística e financeira, além de setorizar funções como roubadores, estelionatários, laranjas, receptadores e motoristas chave na mão, caminhoneiros que facilitam os assaltos em troca de benefícios.
PRESOS
Fabio Henrique Munoz (chefe), Marcel Brene da Silva (gerente), Lucas Silva (laranja), Jones Marques da Silva (Pequeno), Anderson Rosalino (Lagoa), Marcelo Rogério Morata (empresa), Flávio dos Santos (Flavinho), Bruna Viana, Marco Aurélio Ariozo, Caio Cuzziol Lima, Eder Cuzziol Lima, Ivanildo Martins (Neguinho), Cristian Basílio (Papito), Diego Brandino Edilclei (Padoca), Rafael Cândido da Silva (Rafa 1), Rafael Alves Christianini (Rafa 2), José Francisco Domingos (Francisco), Siomara Laureano Coutinho e Alexandre (Alex). Outros dois detidos não foram identificados até o fechamento desta edição.
Bando faturava até R$ 10 mi por mês com os produtos
A quadrilha levantava entre R$ 8 milhões e R$ 10 milhões por mês com a venda das cargas roubadas em cinco rodovias do Estado, entre as quais Rodoanel Mário Covas e Via Anchieta, que cortam o Grande ABC. O bando tinha dois galpões em Mauá, onde guardava as cargas roubadas e nos quais tinha total controle por câmeras de segurança, que inclusive permitiram a integrantes do bando fugir porque viram a chegada da polícia.
O delegado explicou que desde 2016 a polícia notava algumas atuações do grupo, que, apesar de não ter relação com a organização criminosa PCC, tem integrantes vinculados ao grupo.
Da quadrilha, dois irmãos já estavam detidos e atuavam de dentro do CDP (Centro de Detenção Provisória) de Mauá, um foi preso na segunda-feira, quatro no dia 13 e três no dia 14 de julho. De acordo com o investigador chefe Cristiano Souza, o líder da quadrilha foi preso em flagrante na segunda-feira, em Sorocaba, quando transportava carga roubada. Eles vão responder por organização criminosa, e de acordo com a função de cada um dentro do esquema.
Polícia estima que 50 empresas compravam as matérias-primas
A Polícia Civil acredita que aproximadamente 50 empresas podem estar envolvidas na receptação dos materiais roubados. Segundo o delegado, o foco da segunda parte da Operação Ouro Branco é encontrar os empresários que “botam lenha” na indústria do roubo. “Já vamos mapear e investigar, pois existem empresas que vivem apenas disso.”
Os materiais roubados pela quadrilha são de alto valor. Sabe-se que os produtos eram vendidos por valores muito menores que os praticados no mercado, e acabavam rapidamente,
O cumprimento dos mandados foi feito a partir das 6h de ontem, nas cidades de Ribeirão Pires, Mauá, Santo André, São Caetano, Diadema, Praia Grande, Guarujá, São Paulo, Sorocaba, Arujá, Suzano, Itu e Colina. Na ação, os policiais fizeram buscas e apreensões em galpões, residências e também empresas. O nome dos compradores ainda não pode ser divulgado para não atrapalhar a investigação, segundo a polícia.
Uma empresa de Cabreúva, na região de Sorocaba, é considerada a principal compradora. O dono está preso. Já se sabe que eram usadas notas frias na comercialização dos produtos. Computadores e inúmeros documentos foram levados para investigação, a fim de ajudar na descoberta dos envolvidos na compra dos materiais. A polícia também vai pedir a quebra de sigilo telefônico dos envolvidos.
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