Ser vice é o sonho de boa parte dos políticos deste País: vive em palácio, com ampla mordomia, dezenas de assessores, cozinha boa e gratuita, com os vinhos que escolher, carros, motoristas, bom salário, despesa zero, e não tem nada para fazer. Há políticos que usam dinheiro público até para tomar Chicabon. Por que, então, os principais candidatos não conseguem vice?
Bolsonaro, ainda em alta, tentou o senador Magno Malta, os generais Mourão e Augusto Heleno, a advogada Janaína Paschoal, o astronauta Marcos Pontes e o príncipe (sim, os temos!) d. Luiz Philippe de Orléans e Bragança. Nenhum aceitou. A aposta de hoje é que insista em Janaína.
Alckmin, dono da maior coligação, tentou o industrial Josué Alencar, a senadora gaúcha Ana Amélia, o ex-deputado federal Aldo Rebelo. Falhou.
Marina Silva queria o ator Marcos Palmeira. E não tem outro nome.
O PT não tem nem candidato à Presidência, quanto mais à vice. Quer porque quer lançar Lula, mesmo sabendo que, pela Lei da Ficha Limpa, é inelegível. Pensou-se em Manuela d’Ávila, mas é a candidata do PCdoB à Presidência. Ela até toparia, mas numa improvável união das esquerdas.
Meirelles é candidato do MDB. Mas sem chance. E, portanto, sem vice.
Que explica que políticos experientes rejeitem um cargo que iria projetá-los? Medo, talvez, da crise. Como diz a música de Ataulfo Alves, “laranja madura/ à beira da estrada/ tá bichada, Zé, ou tem marimbondo no pé”.
Adeus, dr. Bicudo!
Inteligente, culto, corajoso, com caráter impecável; o dr. Hélio Bicudo, um dos poucos procuradores a lutar contra o Esquadrão da Morte e os torturadores do governo militar, foi-se ontem, 31. Quem o levou não foi a idade, 96 anos: foi o amor, a tristeza pela morte de sua mulher, Déa, há meses. Bicudo, católico, foi fundador do PT e tentou evitar o “nós contra eles”. Chegou a levar a um comício petista o diretor de O Estado de S. Paulo, Júlio de Mesquita Neto. Desiludido com o PT, deixou-o; mais tarde, assinaria o pedido de impeachment de Dilma. Trabalhei com ele, sempre discordando, por 12 anos. Sempre, como hoje, lhe prestando homenagens.
A hora dos candidatos
Hoje, quarta, o PCdoB deve lançar Manuela d’Ávila. Mas pode mudar e decidir que o partido, aliado do PT desde 1989, vai se aliar a outros. Outros quer dizer PT – mas como indicar a vice de Lula se Lula dificilmente sairá? Amanhã o MDB deve lançar Henrique Meirelles.
Mas surpresas podem acontecer: há uma ala que não o quer, liderada por Renan Calheiros. Mas, se não for Meirelles, quem será? Renan, não: por causa da eleição em Alagoas, onde seu filho disputa a reeleição, prefere apoiar o PT. E não pode disputar uma eleição que possa perder, Sabe o foro privilegiado, né?
Sábado o PSDB e seus aliados do Centrão lançam Geraldo Alckmin; a Rede, Marina Silva; o Podemos, Álvaro Dias. E o PT deve insistir em Lula.
Famintos e bagunceiros
Militantes do MST decidiram ontem iniciar greve de fome em frente ao Supremo, pela libertação de Lula. O STF ordenou que saíssem, ficaram; a Polícia os tirou.
Não faça o que eu faço
Qual a opinião de Lula sobre greves de fome? Em 2010, estava em Cuba quando o preso Orlando Zapata morreu após quase três meses sem comer. Lula disse: “Greve de fome não pode ser utilizada com o pretexto de direitos humanos para libertar pessoas. Temos de respeitar a determinação da Justiça e do governo cubano de deter as pessoas em função da lei de Cuba”. Completou: “Imagina se todos os bandidos presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade”. Ou seja, dissidente político, desde que em Cuba, é para Lula exatamente a mesma coisa que bandido.
Renovação
Esperando ansioso as eleições para renovar os quadros políticos? Pois, de acordo com as últimas pesquisas, a primeirona na luta pelo Senado em Minas é Dilma Rousseff, PT, com 27,8% das intenções de voto. Para a segunda vaga, quem surge é Aécio Neves, PSDB, com 20,8%.
Pode ou não pode?
O colunista Cláudio Humberto (www.diariodopoder.com.br) levanta uma nova hipótese sobre Dilma: ela pode ser declarada inelegível, apesar de o impeachment ter poupado seus direitos políticos. “Dilma”, diz Cláudio Humberto, “é ficha suja: foi condenada por um órgão colegiado (o plenário do Senado), no processo de cassação, e teve as contas de 2015 rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União.” Estaria, portanto, sujeita aos efeitos da Lei da Ficha Limpa. Mais, sempre segundo Cláudio Humberto: se o caso for levado ao Supremo, há ministros dispostos a anular o “fatiamento” do impeachment, pelo qual Dilma, apesar de condenada, manteve os direitos políticos, que deveriam ter sido suspensos por oito anos.
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