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Reciclagem ainda insignificante

Santo André é a única cidade do Grande ABC que tem sistema para coleta e destinação de pilhas e baterias

Por Bianca Barbosa
Especial para o Diário
29/07/2018 | 07:00
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EBC


É difícil imaginar quantas pilhas e baterias são usadas no dia a dia. Elas estão no controle remoto, na câmera, no celular. Só de pilhas, são vendidas 1 bilhão de unidades por mês no Brasil. Toda essa quantidade tem vida útil curta e precisa ser descartada em algum momento. Um grande problema ambiental se esconde nesse ponto, pois o descarte irregular de pilhas e baterias joga quantidades exorbitantes de elementos químicos na natureza, fato que afeta diretamente quem vive no local e arredores. No Grande ABC, apenas Santo André tem esquema de coleta e transporte do material para reciclagem em outro município, dado preocupante para uma região de sete cidades.

De acordo com o diretor do Departamento de Resíduos Sólidos do Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André), José Elídio Rosa Moreira, a autarquia trabalha para coletar pilhas e baterias de forma correta e eficiente desde 2007. “Em 2017, foram coletadas mais de 5.000 toneladas”, apontou. Além de possuir 20 estações de coleta, o Semasa dispõe tambores especiais em mais de 80 pontos.

Depois de recolhidas, pilhas e baterias são encaminhadas para a empresa Suzaquim, em Suzano, que recicla todos os componentes. “Para esse transporte e destinação, o Semasa possui o documento oficial da Cetesb, que é o Cadri (Certificado de Movimentação de Resíduos de Interesse Ambiental)”. Em 2017 esse processo custou aproximadamente R$ 12 mil aos cofres públicos. “O grande benefício para a cidade é não ter esse tipo de material descartado no seu aterro sanitário ou mesmo levado por rios e córregos. O Semasa incentiva o descarte correto pela população, mantendo pontos de coleta adequados e ainda com peças educativas na sua página do Facebook e site”, explicou o diretor.


PERIGO

As pilhas são compostas de metais pesados e tóxicos, como mercúrio, chumbo e cádmio. Segundo a professora do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade Metodista Viviane Pereira Alves, esses elementos, quando descartados incorretamente, podem contaminar o solo e a água subterrânea. “Se estes metais entrarem para a cadeia alimentar, podem causar sérios problemas à saúde, como câncer e danos ao sistema nervoso central, pois são bioacumulativos e não biodegradáveis.”

O mercúrio, por exemplo, é responsável por distúrbios renais e neurológicos, além de mutações genéticas, alterações no metabolismo e deficiências nos órgãos sensoriais. O chumbo gera perda de memória e o cádmio é agente cancerígeno.

DEMAIS CIDADES

Hoje, Mauá dispõe de coletas de pilhas e baterias em supermercados e farmácias, porém, a medida envolve apenas a iniciativa privada. “No momento, a Prefeitura busca parcerias para a coleta desse tipo de material. A intenção é dar destinação correta a esses produtos e beneficiar o meio ambiente”, aponta o Paço.

A administração de São Bernardo esclareceu que estuda a abertura de dois pontos de coleta espontânea. Em nota, informou que “atualmente esse serviço é feito em supermercados e depósitos de materiais para construção.”

Em São Caetano, as pilhas e baterias fazem parte da logística reversa, portanto, não são de responsabilidade do município. “Existem empresas particulares que fazem a coleta (principalmente hipermercados), porém, não temos o controle de quantidade nem dos locais de descarte”, detalha.


Custo é empecilho para reutilização do material

Poucos materiais são tão caros para reciclar quanto pilhas e baterias. A tonelada dos produtos para a reciclagem custa, em média, R$ 900. A professora Viviane Pereira Alves explica que o processo é possível, porém, oneroso, pois “envolve diversas etapas, iniciando pela triagem, de acordo com a composição do material, trituração, neutralização, separação das partes sólida e líquida e análise química, entre outros”.

Em 2007, o Diário fez reportagem sobre o assunto que mostrava o passo a passo do processo. As pilhas são separadas das baterias, e a parte plástica é reciclada individualmente. Depois, são levadas para um moinho, passam por uma peneira rotativa e vão para um reator químico, onde são colocados ácidos, água e submetidos ao calor produzido pelo gás GLT. Nesse processo, tudo o que for polímero se solta, formando um emaranhado de fios de plástico, que deverão ser retirados mecanicamente e encaminhados para a reciclagem de plástico.

O conteúdo é prensado em forno a mais de 1.300°C, assim os metais são neutralizados e deixam de ser perigosos. Depois, o material é micronizado até virar pó e toma diferentes cores, de acordo com a composição. Por fim, o conteúdo sólido pode ser utilizado como corante para fabricação de vidros, pisos e cerâmicas.

RESOLUÇÃO

Na tentativa de diminuir as consequências causadas pelo descarte irregular desses materiais em aterros, a lei número 12.305, de 2 de agosto de 2010, promove a logística reversa. Trata-se de instrumento que devolve ao setor empresarial a responsabilidade de dar destinação final ambientalmente adequada a esses materiais, ou reaproveitá-los.

Apesar de 11 anos terem se passado desde a última reportagem do Diário, que mostrava que apenas 5% das pilhas e baterias eram recicladas em Santo André, pouca coisa mudou no restante da região. O município ainda é pioneiro no Grande ABC, e neste ano coletou média de 450 quilos por mês, mas as outras seis cidades não têm projetos implementados.




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