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A parte que cabe a elas

As pintoras modernistas Anita Malfatti e Tarsila do Amaral ‘passaram’ pela região

Miriam Gimenes
24/06/2018 | 07:00
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Reprodução


 A movimentação que pode ser notada hoje na Avenida Presidente Kennedy, em Diadema, mais precisamente na altura do número 39 – em frente à rodoviária – nem de longe lembra o que ocorria no endereço na década de 1960. Era neste local, cujo terreno hoje abriga uma perfumaria e hospital, que a pintora Anita Malfatti (1889-1964), um dos principais nomes do Modernismo brasileiro, passou os últimos anos de sua vida e fez ali, em seu ateliê, suas derradeiras pinturas.

A artista – que dividia a casa com a irmã, Georgina – achou o ambiente bucólico de Diadema ideal para produzir sua arte. Comprou o terreno em 1950 e, segundo a sobrinha Dóris Maria Malfatti (que faleceu em 2009) descreveu no livro Minha Tia Anita Malfatti, foram 14 últimos anos de vida simples ‘sem trololós’, um retorno ao natural e ao essencial.

“Ela sempre passeava pela cidade à tarde e nas oportunidades que a vi era uma pessoa muito agradável”, lembra o memorialista Walter Adão Carreiro, que guarda no Centro de Memória de Diadema diversos recortes sobre a vida e morte da modernista, inclusive uma cópia de sua certidão de óbito – ela morreu aos 75 anos. “Ela sempre tinha um paninho cobrindo a mão direita, para esconder a deficiência”, acrescenta. A artista nasceu com atrofia, o que a fez desenvolver a arte com a mão esquerda.

A simpatia descrita por Adão é confirmada por Vania Silvia Esquível Denari, filha de Sylvia e de Evandro Caiaffa Esquível, ele prefeito de Diadema por duas vezes. Quando jovem, era amiga pessoal da modernista. “Anita era muito conhecida lá (em Diadema), todo mundo gostava dela. Era muito sociável. Toda vez que saia de casa, costumava levar uma rosa para quando encontrasse um conhecido presenteá-lo”, lembra.

Vania, que hoje mora em Santos, diz que algumas vezes a acompanhava nestes passeios. Era uma época em que Diadema tinha ruas de terra e muitas árvores. Por isso, a artista sempre portava um bloquinho e uma canetinha, para registrar as paisagens que pudessem render pinturas. “Quando marquei meu casamento (1961) fui levar meu convite para ela. E o único presente que pedi foi uma obra. Disse: ‘Quero ter um quadro seu’. Ela pintou umas flores”. Tanto o casamento com Valter Denari quanto a pintura persistem até hoje, em sua casa. “Não tem nada que pague isso. Guardo com o maior orgulho”, completa Vania.

Ela, que depois dos 60 anos se tornou também artista plástica – e chegou a fazer exposições – diz que teve muita influência de Anita em sua vida. “Cheguei a levar o quadro para as minhas alunas quando dava aulas, para verem os tons e os traços, elas adoraram.”

Pouco antes de morrer, Anita vendeu a casa de Diadema, que foi demolida e passou a abrigar o hospital, tempos depois.

TARSILA
Tarsila do Amaral (1886-1973) foi outra modernista que passou, ao que tudo indica, parte de sua infância em um sítio que hoje pertence a Valéria Marchi e sua irmã, em Ribeirão Pires. O terreno era do pai da artista, José Estanislau do Amaral Filho. “Aqui devia ser uma casa de veraneio da família Amaral. Meu avô comprou deles, por causa do meu pai, que era veterinário e gostava muito de bicho, em 1934”, diz a proprietária. A casa matriz ainda existe, mas sofreu muitas alterações desde a compra. “O que têm intactos da época em que compramos é o chafariz e o lago, que não foram alterados”, completa.

O avô de Tarsila acumulou diversas fazendas em São Paulo, que foram herdadas pelo seu pai, mas com a crise de 1929, os fazendeiros que viviam do café sentiram no bolso e tiveram de se desfazer de grande parte de seus bens, o que foi o caso deste de Ribeirão. O lugar, o qual chegou a ser cogitado tombamento, sem sucesso, tem ares de paraíso.




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