Memória Titulo Memória
O tempo contado pelas figurinhas da Copa
Por Ademir Medici
21/06/2018 | 07:00
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A Memória de hoje leva a assinatura de uma dobradinha: pai, Antonio Ferrasoli, e filha, Maria Angélica Ferrasoli. O pai juntou figurinhas e fez um álbum maravilhoso. A filha debruçou-se sobre o álbum, e destacou a Seleção Brasileira campeã na Suécia, em 1958.

Sr. Antonio (Jaú, 1925 – Grande ABC, 2005) trabalhou como metalúrgico em várias montadoras do Grande ABC, a partir do fim da década de 1940, e participou ativamente dos movimentos sindicais e políticos.

Angélica, jornalista profissional, tem uma linda carreira, iniciada no Diário. Ao enviar o texto, não citou o nome do pai. E justificou-se: “Vai parecer personalista demais”.

Toda competência e modéstia de uma repórter do seu tempo. Sensível. Que outro dia visitou a Redação, tantos anos depois, relembrando as coisas boas vivenciadas aqui no Diário. Pois Angélica é também nostálgica, sem ser nenhum pingo piegas.

O gol que nasce da emoção do torcedor

Texto: Maria Angélica Ferrasoli

A primeira vez em que o Brasil ganhou uma Copa do Mundo, 29 de junho de 1958, não ficou na minha memória – e nem poderia, porque eu só nasceria seis anos depois. Nesse curto período, o País deu uma cambalhota sobre sua euforia desenvolvimentista para se espatifar numa escura noite golpista. Mas em 1958... ah, em 58 os brasileiros e o mundo ainda viviam em deslumbramento: descobertas científicas, corridas espaciais, Brasília, a bossa nova, ideologias sem arranhões... Todos os intactos sonhos dos anos dourados.

E acho que foi assim que, num daqueles dias que imagino iluminados, um jovem operário sempre abraçado a seu radinho de pilha, interessado especialmente no noticiário político-sindical, resolveu dar início a uma bela coleção de figurinhas dos craques da Seleção Brasileira de 1958. 

Estão lá, em curiosas imagens meio fotografia, meio pintura, o menino Pelé, com seus 17 aninhos; o atacante Garrincha; capitão Bellini; Nilton e Djalma Santos, Zagallo, Mazzola, Didi, Vavá – por sinal, parece que eram tantos os apelidos dos jogadores brasileiros que os anfitriões suecos até se confundiam na narração. 

Então, quando chegou a partida decisiva, justamente Brasil x Suécia, sobre um gramado ainda molhado de chuva, os brasileiros tiveram medo de que a troca de camisa desse azar. Oito anos antes, na fragorosa derrota para o Uruguai, a cor azul ainda fazia parte do uniforme oficial, embora o branco predominasse. O que os salvou da superstição foi a fé, com a menção à cor do manto de Nossa Senhora. O Brasil, porém, começou perdendo, ampliando o temor inicial. Mas o que se viu na sequência foi só consagração: a dança da dupla Garrincha e Vavá, com dois gols nascidos de idênticos passes; Pelé ampliando a vantagem com direito a chapéu... Ao final, 5 X 2!

É claro que quase todas essas informações estão hoje na internet. O que não vai ser possível encontrar é o cuidado com que aquele jovem operário colecionou e guardou seu álbum, ao lado de espécie de almanaque das Copas publicado em 1970, do qual busquei a maioria dos dados acima. Ao lado de seu querido radinho de pilha.

Cinquenta anos depois, álbum e almanaque são registros de um cotidiano e contam um pouco a história da vida de um homem, suas paixões e emoções. Porque as Copas, os ídolos, as premiações e o próprio futebol, hoje tão mercantilizado, são só uma parte dessa história – quem faz o gol, acredite, é a emoção de cada torcedor, cuja memória, contada ou resgatada, ultrapassa os limites do tempo.


NOTA DA MEMÓRIA

Além desta bela e comovente narrativa, Angélica enviou várias imagens mais. Que ótimo! Temos outros relatos de leitores queridos sobre a Copa de 58 que, graças à generosidade da jornalista e ao cuidado do sr. Antonio, agora ganharão ilustrações. Aguardem. E que o Brasil avance um pouco mais, né? Não seja tão mole como no 1 a 1 da estreia.

Diário há 30 anos

Terça-feira, 21 de junho de 1988 – ano 31, edição 6784

Manchete – Governo joga duro para não aprovar a anistia fiscal

Adeus em Mauá – Vereadora Léa Aparecida de Oliveira morre em acidente automobilístico na Avenida João Ramalho.

Adeus no Rio – Falece a intérprete de Noel Rosa, Aracy de Almeida, aos 74 anos.

Memória – Vila Baeta FC, 50 anos.

Crônica (Guido Fidelis) – A difícil vida do vestibulando.

Polícia – Incêndio na Loja Glória de Santo André, na Rua Coronel Oliveira Lima, em Santo André

Em 21 de junho de...

1563 – Padre Manoel da Nóbrega parte da aldeia de Iperoig (hoje Ubatuba) para São Vicente. Deixa o padre José de Anchieta como refém entre os Tamoios.

1918 – Noticiado o encontro dos despojos embalsamados do padre Diogo Feijó, no interior da igreja de São Francisco, em São Paulo. Estavam num sarcófago de chumbo.

O padre Diogo Antônio Feijó (São Paulo, 1784-1843) foi estadista, regente imperial, deputado geral por São Paulo, senador e ministro da Justiça.

A guerra. Do noticiário do Estadão: a situação na Áustria; a diminuição da ração do pão; agitação em todo o Império; a iminência da declaração da lei marcial em Viena.

1938 – Fundado o Vila Baeta FC, em São Bernardo: 80 anos de uma linda história, glória e resistência.

Os sócios Ricardo Albrisi e Tomaz Talento compram áreas de antigas olarias dos Perrella, no Centro de Mauá, e ali criam o Curtume Mauá.

1998 – Padre Leo Commissari é assassinado quando voltava para casa, em favela do Jardim Silvina, em São Bernardo.

Santos do Dia

Demétria. Mártir. Viveu em Roma no século IV. 

Luís Gonzaga (o Patrono da Juventude; Itália: 1568-1591)

Municípios Brasileiros

Celebram aniversários em 21 de junho:

Em São Paulo, Analândia, Cedral e Iacri

No Ceará, Crato

Em Santa Catarina, Ilhota, Imbituba, Nova Veneza, Rio Fortuna e Santa Cecília

Em Alagoas, Ouro Branco

No Piauí, São Pedro do Piauí

Fonte: IBGE




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