Setecidades Titulo Cenário alarmante
Um a cada cinco novos casos de Aids surge entre jovens na região

Doença acometeu 204 pessoas em 2017, sendo 39 delas com idade de 15 a 24 anos

Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
10/06/2018 | 07:00
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EBC


 Na comparação entre 2016 e 2017, os novos casos de Aids em quatro cidades da região (Santo André, São Bernardo, Mauá e Ribeirão Pires) tiveram queda de 11,6%. Na contramão, aumentou a incidência da doença no público jovem, de 15 a 24 anos, em 11,4% no mesmo período, com prevalência entre homens homossexuais (veja os números na arte acima). As demais cidades não informaram.

Os novos casos totais de Aids (doença desenvolvida quando a infecção pelo vírus HIV acarreta desgaste do sistema imune) reduziram de 231 para 204. Já entre os jovens, passaram de 35 para 39, representando 19,1% dos novos casos em todas as faixas de idade – praticamente um a cada cinco infectados.

No ano passado, dos registros confirmados entre jovens de Mauá, quatro eram homens homossexuais. Em Ribeirão Pires, das 15 pessoas diagnosticadas, 12 pertencem ao grupo. Em Santo André, a Prefeitura informou que foram dois diagnósticos envolvendo a população LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), mas fora da faixa dos 15 aos 24 anos. São Bernardo também não fez a separação por idade, informou apenas que, dos 89 casos totais, 43 foram após relação homossexual.

Estudo realizado pelo Ministério da Saúde, em 2016, aponta prevalência de 18% da doença no grupo de homens que fazem sexo com homens. Em 2009, a taxa era de 12,8%. “Esse aumento é observado em todo o mundo e retrata que os gays e os jovens têm sido mais vulneráveis à Aids”, frisou a Pasta, em nota.

O presidente da ONG ABCD’S (Ação Brotar pela Cidadania e Diversidade Sexual), Marcelo Gil, vê o cenário com preocupação. “Com o avanço da comunicação e a facilidade dos aplicativos (de encontros para relações sexuais), acaba tendo forte aceleração de contaminação do vírus HIV. Essa juventude não viveu a presença de pessoas que morreram pela Aids e pensa que é um mito”, disse, enfatizando a necessidade de se criar, na região, coordenadoria voltada ao público LGBT, que trabalhe, entre outras questões, a prevenção.

Outra situação que aflige Gil é o uso da PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), utilização diária de medicamentos antirretrovirais ofertados pelo SUS (Sistema Único de Saúde), desde o fim de 2017, para pessoas soronegativas antes de uma exposição de risco ao HIV. “Nos aplicativos, as pessoas não usam preservativo e estão tomando a PrEP, mas, com isso, estão pegando outras doenças sexualmente transmissíveis.”

A coordenadora adjunta do Programa Estadual DST/Aids, Rosa de Alencar Souza, salientou que a PrEP faz parte de um “conceito de prevenção combinada”. “Tem pessoas que não vão conseguir se prevenir se não for usando medicamento. Muitas vezes, é por um período, até passar a conseguir usar camisinha, fazer um acordo (com o parceiro).”

 

AÇÕES

Para especialistas, a abordagem com a juventude não tem sido feita como deveria. “Tem que parar um pouco com o preconceito sobre o que vai ser falado na escola. Muito provavelmente o que será falado o jovem está vivenciando na prática. A escola não estaria se antecipando, mas colocando informações e fazendo a discussão”, falou o consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia Wladimir Queiroz.

“Falta discutir as doenças de forma um pouco mais séria. O papel do preservativo, cuja cultura no Brasil é muito ruim. É questão de educação, formação”, frisou o infectologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Jorge Senise.

As prefeituras informaram tratar o tema nas escolas e nos locais frequentados pelos jovens.




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