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Indicação de premiê pró-UE agrava crise e aproxima Itália de nova eleição
29/05/2018 | 10:58
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O presidente da Itália, Sergio Mattarella, indicou nesta segunda-feira, 28, Carlo Cottarelli, ex-dirigente do FMI, como primeiro-ministro provisório. O economista substituirá Giuseppe Conte, jurista e professor universitário indicado na semana passada, que renunciou no fim de semana após uma tentativa frustrada de liderar uma coalizão entre o partido populista Movimento 5 Estrelas (M5S) e a Liga, de extrema direita.

Cottarelli, de perfil tecnocrata, deve ficar no poder só até a realização de novas eleições. Sua nomeação agravou a crise política iniciada com as eleições legislativas de março. Desde então, os partidos se sucedem na tentativa de formar uma maioria estreita no Parlamento, sem sucesso. Na semana passada, Conte, acusado de mentir em seu currículo, chegou a aceitar a missão de formar uma coalizão entre o M5S e a Liga, mas a tentativa durou três dias.

A decisão de Conte de nomear para o cargo estratégico de ministro da Economia o eurocético Paolo Savona, crítico contumaz da moeda única europeia e da Alemanha, levou Mattarella a usar seus poderes constitucionais para vetar o novo governo. Desautorizado em uma decisão inédita por parte de um chefe de Estado, Conte renunciou sem se submeter ao voto de confiança do Parlamento italiano.

"Não posso aceitar que um responsável tido como partidário de uma linha pudesse provocar, provavelmente, talvez até inevitavelmente, a saída da Itália da zona do euro", justificou Mattarella, ao anunciar a escolha de Cottarelli.

O presidente alegou ainda que o plano de governo da coalizão entre M5S e Liga era infundado e não trazia estimativas realistas de financiamento. Economistas italianos previam que as medidas a serem adotadas pelo governo de Conte, como corte de impostos, criação de uma renda mínima universal de ? 780 e a redução da idade mínima de aposentadoria, criaria um buraco no orçamento avaliado entre ? 100 bilhões e ? 150 bilhões por ano. Isso agravaria a situação do país, que já tem a segunda maior dívida da UE, atrás apenas da Grécia, com 132% do PIB.

O veto de Mattarella foi criticado pelos dois partidos que liderariam a coalizão, já que Cottarelli deverá formar um "governo técnico", sem nomeações ligadas a partidos políticos e, portanto, distante do plano de governo que M5S e Liga vinham preparando. Pesquisas de opinião mostraram que 60% dos italianos não aprovaram a atitude do presidente.

Cottareli é conhecido na Itália como "Senhor Tesoura", após sua passagem pelo FMI. Aos 64 anos, ele foi uma espécie de ministro da desburocratização do governo de Matteo Renzi, do Partido Democrático, sem grande sucesso.

Seu maior desafio agora será obter o voto de confiança do Parlamento, assim como outro tecnocrata, Mario Monti, que governou entre 2011 e 2013 sem passar pelo crivo das urnas. Se não for aprovado pelo Parlamento, Cottareli poderá apenas gerenciar os assuntos correntes do Estado, sem realizar reformas, à espera das eleições, que devem ser marcadas para setembro.

Populistas

Indignados com a decisão do presidente Sergio Mattarella de vetar a coalizão entre Movimento 5 Estrelas (M5S) e Liga, líderes populistas denunciaram nesta segunda-feira um "golpe de Estado" e defenderam a destituição do chefe de Estado. A iniciativa foi anunciada pelo líder do M5S, Luigi Di Maio, cujo partido foi o mais votado na eleição de março.

Segundo Di Maio, Mattarella poderia ser julgado pelo Parlamento por crime de "alta traição" e "atentado à Constituição". "Ao levar essa crise ao Parlamento, evitaremos que ela se espalhe", disse Di Maio. "Com a Liga, temos a maioria. E a Liga vai se engajar. Ela deve ir até o fim." O líder da Liga, Matteo Salvini, ainda não se posicionou. Seria necessário a maioria dos votos para o impeachment do presidente.

As chances da iniciativa prosperar, porém, são limitadas. "O recurso que Di Maio tentará não tem nenhuma chance de dar certo. É muito provável que seus idealizadores sejam obrigados a recuar", afirma Piero Ignazi, cientista político da Universidade de Bolonha. A opinião é compartilhada por Vera Capperucci, professora da Escola de Governança da Universidade Luiss Guido Carli, de Roma. "Formalmente, o presidente respeitou a Constituição e a acusação de 'alta traição' não para em pé", afirma.

Para os analistas, a aparente derrota dos partidos antissistema frente a Sergio Mattarella pode esconder um argumento perfeito para a campanha eleitoral, na qual eles denunciariam o presidente como o chefe máximo de um sistema político dirigido não por Roma, mas pela União Europeia. Segundo Vera Capperucci, a vantagem agora está nas mãos de Matteo Salvini e da Liga. "A meu ver, o mais provável é um forte avanço da Liga, como já prognosticaram os institutos de pesquisa", adverte. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.




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