Esportes Titulo Escândalo no esporte
Fernando entra na mira do Senado

Técnico de ginástica rebate acusações de abuso sexual e é questionado sobre desvio de verba

Dérek Bittencourt
17/05/2018 | 07:00
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Marcos Oliveira/Agência Senado


O técnico de ginástica Fernando de Carvalho Lopes atendeu à convocação e depôs ontem na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) de Maus-Tratos do Senado, em Brasília. Desde que as acusações de abuso sexual e assédio moral contra ele voltaram à tona, há 18 dias, o treinador afastado pelo Mesc (Movimento de Expansão Social Católica) ainda não tinha ido a público falar sobre o assunto – exceção feita ao Diário, na semana passada, na qual confirmou que iria a Brasília e tinha “muito a falar” –, e afirmou estar sendo vítima de vingança por conta do seu comportamento rígido, além de ter negado as denúncias.

“Não tenho culpa nenhuma em assédio sexual. Sou pessoa rigorosa, brava, que falava palavrão, é uma coisa. Agora, assédio sexual, não. Nunca tive intuito ao assédio. O que sempre fiz foi brigar, gritar, cobrar.” No fim, foi questionado sobre envolvimento no desvio de verba do Ministério do Esporte a atletas.

Durante uma hora, Fernando de Carvalho e o advogado Luis Ricardo Davanzo participaram da oitiva comandada pelos senadores Magno Malta e José Medeiros, que primeiramente deixaram o treinador falar um pouco a respeito de si e sobre as acusações para, depois, fazerem série de perguntas relativas ao caso. E o convocado respondeu a maioria delas.

“Sou pai, sou o primeiro a falar que sou contra tudo isso e correria atrás de todos os direitos possíveis para meus filhos. Mas entendo também que no volume que é colocado sobre mim, da forma que são feitas as falas e acusações, não vejo outra coisa a não ser vingança”, disse o técnico, que argumentou: “Fui treinador que trabalhou com rendimento. É impossível você agradar todo mundo. Com certeza causei mais descontentamentos do que satisfações. Muitos atletas procuraram vir treinar comigo, de outros Estados. Só que nunca fui técnico manso. Pelo contrário. Extremamente rígido. As crianças treinavam muitas vezes chorando, porque tinham que cumprir as tarefas. Criei muitos inimigos. Cortei bolsas de estudos de atletas quando deixavam de render, cortei salários de atletas, demiti auxiliares técnicos, sempre prejudicando as pessoas que não seguiam minha linha de trabalho. Sempre fui extremamente rigoroso nas minhas ideias e convicções que levavam a um resultado. Sinto que nesse caminho acabei criando, sim, muitas desavenças”, disse o técnico, que aguarda convocação para depor no inquérito da Polícia Civil.

O treinador também relacionou a denúncia inicial, em 2016, à briga de cinco treinadores por três vagas na comissão técnica da Seleção na Olimpíada do Rio. “Alguém precisava cair. A vida de treinador sempre foi complicada, a gente sempre buscou defender nosso trabalho, teve a ambição de conseguir o melhor cargo dentro do grupo, então sempre tinham muitas desavenças e discussões de opiniões”, comentou ele, que acredita em armação para ele, mas disse estar estudando quem seria o mentor.

Magno Malta ainda apresentou a Fernando trechos dos depoimentos dos atletas. O treinador afirmou conhecê-los, mas negou as acusações. “Como nunca ninguém se manifestou? Como nunca teve uma reclamação no meu nome? Falar que dez, 20, 30, 50 se acanharam?”, questionou em determinado momento.

O senador ainda solicitou quebra dos sigilos telemático (envolve e-mail redes sociais e aplicativos), fiscal e telefônico do treinador nos últimos cinco anos. Fernando será reconvocado após análise dos dados e também do comparecimento de outros envolvidos no caso.

OUTRA ACUSAÇÃO

Fernando ainda foi questionado pelo envolvimento em caso de desvio de verba destinada a atletas do Mesc. De acordo com Magno Malta, o Ministério Público investiga denúncias de que o treinador desviava parcela do dinheiro que vinha do governo para os ginastas. Em depoimento, uma das vítimas teria declarado que parte do montante iria para gastos com manutenção e aparelhos. “Era orientação que recebia da supervisora”, explicou ele, em referência a Ivonete Fagundes, funcionária da Prefeitura e convocada para comparecer à CPI. Procurada pelo Diário, ela não foi localizada. 




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