Antônio Desidero Alves, o Ceará, segue foragido após matar colega morador de rua em Sto.André
Policiais do 1º DP (Centro) de Santo André identificaram, na manhã de ontem, o morador de rua que matou um colega e feriu outro a facadas após briga motivada por lugar na fila do Bom Prato da cidade, na terça-feira. O autor do crime, Antônio Desidero Alves, conhecido como Ceará, segue foragido. Em nove meses, quatro munícipes em situação de rua foram mortos após discussões.
Peterson Alves Machado, 32 anos, levou uma facada no peito. O homem chegou a ser socorrido e a passar por cirurgia de urgência no CHM (Centro Hospitalar Municipal), mas não resistiu aos ferimentos. Ele foi enterrado ontem.
Já Fabio Melo Santos segue internado em estado grave, porém estável, na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Estadual Mário Covas, em Santo André. Ele foi atingido por golpes de faca no abdômen, costas e pescoço.
A polícia informou que mantém diligências na região central da cidade na tentativa de localizar o criminoso. Alves foi identificado a partir de imagens de câmeras de segurança da região onde ocorreu a briga, na Avenida General Glicério.
SITUAÇÃO COMUM
Testemunhas ouvidas pela equipe do Diário destacam que casos de brigas envolvendo moradores de rua na área central da cidade é comum. Em nove meses, já são três episódios com quatro mortes.
O proprietário de pastelaria localizada na esquina da Rua Cesário Mota com a Avenida General Glicério, David Stivie, 22 anos, presenciou todo o ato. De acordo com ele, é comum ver os moradores de rua discutindo no local. “Eles (mendigos) transitam pela avenida o dia todo. Normalmente estão embriagados e discutem.”
Stivie relata ter visto o momento em que Ceará fugiu, após o crime, com a faca em mãos. “Ele desceu a Cesário Mota correndo, muito assustado e nervoso. Os outros dois mendigos estavam muito feridos. Um (Santos) estava desmaiado em frente ao restaurante e o outro (Machado) se arrastou até aqui.”
Em agosto do ano passado, discussão entre mendigos acarretou na morte de Fabio Netto das Neves e Michael Steer Renshaw. Os dois foram atingidos por golpes de barra de ferro pelo também morador de rua Manoel Almeida da Silva, preso três dias após as mortes.
Em janeiro, casal teve os corpos queimados após disputa por espaço para dormir. Adaildo de Jesus morreu e a companheira, Ducineia da Costa, se recuperou, após ficar 100 dias internada.
A Secretaria de Cidadania e Assistência Social da Prefeitura justificou que tem empreendido esforços para atender os moradores de rua, entretanto muitos “fazem uso de substâncias psicoativas, diminuindo as possibilidades de superação da condição de rua”. A Pasta afirma ainda que tem reforçado a atuação da abordagem social no município.
Precariedade do serviço motiva problema
Uma das principais explicações para os casos de violência entre moradores de rua de Santo André é a falha do serviço de assistência social. Isso é o que considera o advogado e coordenador da Comissão da Infância e Juventude do Condepe (Conselho Estadual de Direitos Humanos), Ariel de Castro Alves. Para ele, a inexistência de programas complementares é determinante para que a população em situação de rua não possua expectativa de melhoria de vida. “Essas pessoas vivem submersas em situação de negligência, desumanidade e violência. E ainda faltam vagas em albergues municipais.”
O especialista avalia que os abrigos oferecem atendimento de baixa qualidade, tendo em vista que o morador de rua, além de precisar de lugar para dormir e realizar higiene pessoal, deve ser incluído em serviços de distribuição de renda, como Bolsa Família, ter acesso a cursos profissionalizantes, retornar ao mercado de trabalho, além de ingressar em programas de recuperação voltados a dependentes químicos. “Deveriam também estar em programas de habitação. Os albergues não oferecem serviços nem os encaminham para programas específicos. Oferecem local para dormir e, durante o dia, eles ficam nas ruas, totalmente abandonados”, considera Alves.
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