Márcio Bernardes Titulo Coluna
Emocionante
Por Do Diário do Grande ABC
10/05/2018 | 12:35
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(São Paulo) – No comecinho da minha carreira de repórter deparei-me com um fato inusitado. Em uma quarta-feira a noite o Comercial jogou na Jóia, o estádio Francisco de Palma Travassos. No intervalo reparei um jovem nas cadeiras cativas, usando óculos escuros e com um radinho de pilha colado no ouvido. Pensei com os meus botões:” Por que esse rapaz está usando óculos escuros a noite?”. Um amigo leu meu pensamento e disse que ele era cego. Ou melhor, deficiente visual, que é o politicamente correto nos dias de hoje. Fui até ele e perguntei se ele estava gostando do jogo. Imediatamente ele respondeu: “ Márcio Bernardes! ” e abriu um sorriso. Perguntei como ele havia reconhecido minha voz tão imediatamente.

Sua resposta encheu meus olhos de lágrimas:” Te ouço na 79 todos os dias. Gosto muito de você”. Não preciso nem dizer como isso marcou a minha vida.

Sempre entendi que a transmissão esportiva no rádio traz muito mais emoção do que na televisão. E para os deficientes visuais significa a visualização do jogo. Quando o locutor diz bola pela direita, quem não enxerga constrói a imagem no cérebro e sabe que a jogada está acontecendo por aquele setor.

Essa semana fui assistir “Teu mundo não cabe nos meus olhos”. Edson Celulari interpreta de forma magistral um deficiente visual, dono de uma pizzaria no Bexiga, herdada do pai e que tem a fama de fazer a melhor pizza da cidade. Casado com Clarice, personagem interpretada por Soledad Villamil, ele vai ao Pacaembu em todos os jogos do Corinthians, uniformizado, com a bandeira do Timão e seu radinho de pilha. Além da mulher, leva a filha adolescente Alicia, interpretada por Giovana Echeverria, e o garçom da pizzaria, interpretado por Leonardo Machado.

A história do filme se passa em 2012 e termina com a transmissão de Corinthians e Chelsea em Yokohama.

Durante o filme chorei e fiquei muito emocionado de novo. Porque sei que tenho uma grande audiência de milhares de deficientes visuais que amam o futebol como todos nós. E recordei da minha ex-aluna, Maria Lucia do Nascimento, grande jornalista, fanática santista e amiga até hoje. Lembrei também do André Ferreira, outro deficiente visual, santista dos quatro costados e meu companheiro na equipe de esportes da rádio Transamérica, brilhantemente comandada por Eder Luiz, que aliás, é um dos locutores que provocam toda a criatividade mental dos deficientes visuais .

Esse texto é dedicado ao Vitório, personagem do Edson Celulari no filme. À Lúcia, ao André, àquele meu amiguinho comercialino de Ribeirão Preto, que nunca mais encontrei e à todos aqueles que superam certas adversidades, mas não deixam de curtir o seu time, colocando a sua própria emoção em todos os jogos, com uma visão inigualável.
 




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