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Zulaiê Cobra agarra candidatura ao Senado
Eduardo Reina
Juliana de Sordi Gattone
Lola Nicolás
Do Diário do Grande ABC
28/05/2005 | 07:27
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Aos 62 anos, a deputada federal e advogada criminalista Zulaiê Cobra Ribeiro (PSDB) acha que agora é o momento para tentar alçar vôos mais altos. Após duas eleições em que se viu preterida pelas lideranças tucanas durante as prévias do partido, Zulaiê diz ter apoio do prefeito de São Paulo, José Serra, e do governador Geraldo Alckmin para disputar a vaga de candidato de São Paulo ao Senado. Motivo: ninguém do partido quer concorrer com o petista Eduardo Suplicy. "Ele já é uma lenda", define Zulaiê. No entanto, a tucana não poupa críticas ao senador e diz, sem rodeios, que ele é lento e atrapalha o trâmite dos projetos favoráveis a São Paulo. "Ninguém lá dentro leva ele a sério." Suplicy está entre os 100 políticos mais influentes do Congresso desde 1994, quando o Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) iniciou ranking dos parlamentares mais prestigiados.

Em 2002, ao tentar espaço na legenda para concorrer à mesma vaga, Zulaiê foi vencida pelo vereador José Anibal. Em 2004, nas prévias para candidatura a prefeita de São Paulo, não teve apoio de nenhuma ala do PSDB. "Alckmin fez investimento errado", sentencia a deputado sobre o apoio do governador ao secretário de Segurança, Saulo de Castro Abreu Filho. "O governador sabe que errou. Tanto é que sentiu que não foi bem e no último momento chamou o Serra", afirma. Quando questionada sobre a existência de grupos que apóiam Alckmin e outros que estão do lado de Serra, Zulaiê diz: "Não tem grupo Alckmin. Eu não sei quem é o grupo Alckmin."

DIÁRIO - Qual o motivo da visita no ABC?

ZULAIÊ COBRA - Olha, estou em franca campanha ao Senado. É uma campanha dentro do partido, estou fazendo vários municípios do Estado, mas somente em encontros internos do partido. São reuniões com vereadores, encontro de prefeitos. Estou fazendo a minha pré-candidatura ao Senado para 2006. Como não é uma candidatura majoritária, preciso muito estar na imprensa, em vários lugares, discutindo problemas e situação do país. Como deputada federal, tenho dificuldade muito grande, porque vou para Brasília na terça-feira e volto na quinta-feira à noite. Então, tenho somente sexta-feira, sábado, domingo e segunda-feira.

DIÁRIO - Em 2004, a sra. teve dificuldade para emplacar a pré-candidatua à Prefeitura de São Paulo. Havia disputa muito grande no partido. Quais as garantias que a sra. tem do PSDB para essa candidatura ao Senado?

ZULAIÊ COBRA - Minha pré-candidatura à Prefeitura foi realmente algo muito difícil porque tínhamos, além de mim, José Anibal e Walter Feldmann. Havia também o secretário de Segurança do governo de São Paulo, Saulo de Castro. Tinha uma má vontade muito grande do governador Geraldo Alckmin para conosco. Ele não queria nem o Anibal, nem o Feldmann e nem Zulaiê. Só que para o Feldmann falou que não queria, para o Zé Anibal deixou, mas para mim ele não teve coragem. Então, eu peitei e continuei pré-candidata e não deixei nem Feldmann e nem Anibal saírem. Levamos uma candidatura até as vésperas de 16 de maio (quando houve a definição do partido). Tenho muito orgulho de minha pré-candidatura à Prefeitura de São Paulo porque consegui fazer com que tivéssemos nossa pré, forçamos o Saulo, que teve de ir onde nós iámos. Fomos para todos os 41 diretórios da capital e aí o Saulo também tinha que ir, mesmo com muita dificuldade, porque ele também era muito complicado, secretário, cheio das quantas... Metido que só ele. Então, forçamos que todos fizéssemos o mesmo ritual. O Zé Anibal não queria andar muito, mas tinha de ir, o Feldmann desanimado: 'Zulaiê, isso não vai dar em nada'. E eu dizia: 'Vamos, vamos trabalhar o partido'. E a legenda cresceu, gostou muito, nós podemos não ter tido resultado com relação a não sermos candidatos. Aí veio o Serra. E ele me ligou no dia 11 de maio e disse: 'Graças a você, Zulaiê, porque você é a mais briguenta do partido, eu estou candidato a prefeito'. Porque houve um embate, o governador sentiu. No dia 16 de maio, ia ter a derrota do candidato dele, o Saulo, ou a vitória, mas ele seria sempre derrotado. Porque se o Saulo ganha, ele (governador) perde, porque o partido não queria ele (Saulo).

DIÁRIO - E desta vez?

ZULAIÊ COBRA - Agora, esta pré-candidatura vem de uma maneira melhor porque é uma vaga só para o Senado. E nós temos Eduardo Suplicy, que é o senador que deixa o Senado e vai disputar reeleição. É um candidato que as pessoas temem muito. Então, qualquer homem do partido, pode citar todos, Zé Anibal, Alberto Goldmann, Arnaldo Madeira, Aloísio Nunes Ferreira, os grandes nomes do PSDB, todos ficam com um pé atrás para disputar com Suplicy. E eu já coloquei a minha candidatura desde o ano passado para o governador, ele achou uma atitude correta e eu disse: 'Governador, só abro mão da candidatura se for o sr. o candidato ao Senado'. E ele disse: 'Para o Senado eu não sou'. E para o governo do Estado eu não vou disputar pré-candidatura. Porque Geraldo Alckmin, hoje, está em um patamar de aceitação e de influência do partido. Ele vai escolher o candidato, depende dele. E agora estão falando até de Fernando Henrique Cardoso como possibilidade. Então, para governo é algo difícil, complicado. Eu aprendi no partido que tem um momento de forçar e em outro não dá. Para Senado eu posso. Estou nisso porque quero muito. Acho que São Paulo não tem senador. É uma judiação. Os três senadores por São Paulo não dão conta de fazerem absolutamente nada pelo Estado, que é terra arrasada. E Suplicy é um dos piores senadores que temos.

DIÁRIO - Por que?

ZULAIÊ COBRA - Porque ele atrapalha mais do que ajuda. E tudo que tenho de informações, desde o governo Mário Covas até o Geraldo Alckmin, é que ele é muito lento para decidir. Às vezes dificulta, porque atrapalha a votação de uma matéria importante para São Paulo. Ele quer questionar tanto, saber tanto, que dá impressão que está contra São Paulo.

DIÁRIO - Mas deputada, o Suplicy, apesar desse jeito de ser que a sra. acabou de descrever, é unanimidade dentro do PT. É carismático e não divide o partido. A sua candidatura mostra uma divisão dentro do PSDB de São Paulo...

ZULAIÊ COBRA - Não, não mostra. Não tem nenhuma divisão, porque ninguém quer. Ninguém quer e eu estou sendo ovacionada. O próprio governador falou que eu sou a única que pode enfrentar e ganhar do Suplicy. Essa é a realidade.

DIÁRIO - Apesar de todos esses poréns que a sra. coloca contra o Suplicy, porque os outros políticos têm tanto medo dele?

ZULAIÊ COBRA - Porque ele se tornou uma lenda. O Suplicy é mais lenda do que realidade. Quando ele ganhou as duas eleições, foi por sorte. A primeira dele, em 1990, foi porque aquele jornalista, Ferreira Neto, quase ganhou. Então, o PSDB derrubou todos os votos no Suplicy. Ele foi eleito com votos do PSDB.

DIÁRIO - Mas a atração do Suplicy por votos não é porque ele faz o gênero abandonado, com carisma a parte emocional. Não é isso que cativa?

ZULAIÊ COBRA - Acho que era, mas agora o povo não quer mais isso. O povo quer gente forte, decidida, que enfrente dificuldade. O Suplicy está em dúvida se assina ou não a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Correios. Sozinha, eu peguei 110 assinaturas. Eu sou muito forte nessa questão de arrumar, ir lá... É uma pena que eu não seja a líder, o Goldmann ficou sendo líder, até porque colocou a candidatura antes de mim. Eu tenho feito um trabalho de vice-líder muito bom lá. Então, o Suplicy teve o tempo dele, teve realmente uma aceitação até por esse jeito carente, é uma lenda. Mas ele deixou muito a desejar ao longo desses 16 anos no Senado. No plenário do Senado, que eu freqüento muito, a gente vê que ele não é muito respeitado até por uma série de situações. O próprio PT não quer saber mais dele. Ele virou de coitado, vítima de Marta, porque ela casou e aprontou, para algoz.

DIÁRIO - A sra. tem apoio de quem na sua candidatura?

ZULAIÊ COBRA - Por enquanto, tenho Serra abertamente. Alckmin já está me apoiando, não abertamente, porque ele não faz nada abertamente, é muito receoso. Fernando Henrique também gostou da idéia, mas ainda não tenho aceitação. E estou buscando nomes no PSDB.

DIÁRIO - Mas até agora ninguém falou abertamente da sua candidatura. Aliás, a sra. é a primeira a falar.

ZULAIÊ COBRA - Nós estamos começando agora. No partido, todo mundo já sabe. Mas fora do partido...

DIÁRIO - Esse relato que a sra. fez sobre os apoios do ano passado pode ser considerado uma crítica ao governador?

ZULAIÊ COBRA - É uma crítica ao governador. Ele errou e sabe que fez uma coisa... Tanto é que sentiu que não foi bem, que no último momento chamou o Serra. Foi ele quem chamou o Serra.

DIÁRIO - Assim, não fica evidente que existem dois grupos dentro do PSDB, um pró Alckmin e um pró Serra?

ZULAIÊ COBRA - Não tem grupo Alckmin. Eu não sei quem é o grupo Alckmin. Tem o grupo Serra, tem o Covas - eu sou Covas, ele morreu e eu não tenho mais grupo - e o do Fernando Henrique.

DIÁRIO - Mas o Alckmin não é uma liderança do partido?

ZULAIÊ COBRA - É uma liderança do partido. Mas nós não sabemos quem é o grupo dele. Não sei. Porque tem o grupo do Serra, que a gente sabe quem é. Tem do Fernando Henrique, que é visível, e do Covas. O grupo do Alckmin é novo. Não é nenhum dos deputados.

DIÁRIO - Mas Alckmin não tem nenhuma base?

ZULAIÊ COBRA - Ele tem a base geral do povo. Ele tem a base de todos os deputados, que gostam dele. Prestamos homenagens a ele. Mas ele não nos quer. Isso é uma verdade. Tanto é que na candidatura à Prefeitura de São Paulo ele foi buscar o Saulo. Agora, no governo de São Paulo, eu não sei o que vai fazer. Está nas mãos dele. Tenho certeza que ele vai decidir o candidato ao governo.

DIÁRIO - Mas não há uma sugestão de quem seria o escolhido?

ZULAIÊ COBRA - Têm três sugestões. Saulo, Gabriel Chalita (secretário de Educação) e o Emanuel Fernandes (secretário de Habitação), ex-prefeito de São José dos Campos, que aliás está muito citado nos jornais.

DIÁRIO - Do Alckmin, quem pode ser candidato ao Senado?

ZULAIÊ COBRA - Não tem ninguém. Por isso que no fundo ele está me apoiando. Quem ele teria, o Chalita? Ele é bom candidato, mas não ganha de mim no partido. E aí podem dizer: 'mas se o governador escolher, ele ganha'. Mas ele se acaba, porque eu já estou fazendo campanha desde o ano passado. Zé Anibal quer sair para governo. Ele já disse que me apóia para o Senado porque quer sair de qualquer forma para o governo.

DIÁRIO - Acha que o fato de ele pretender sair ao governo do Estado pode ter colaborado para perder a presidência da Câmara?

ZULAIÊ COBRA - Eu acho que aí alguma coisa tem para barrar. Seja Zulaiê, seja Zé Anibal, seja Walter Feldmann. Estamos todos barrados no baile. A sorte nossa é que Feldmann está bem com o Serra, Aluísio também. Serra é um outro poder que está surgindo. Agora é tudo uma incógnita.

DIÁRIO - O Serra quer sair para presidente?

ZULAIÊ COBRA - Ele bem que gostaria. O melhor nome é o dele. Mas o governador tem pesquisas que dizem que também está bem. Agora o Serra assinou um compromisso que não abandonaria a prefeitura. Acho que ele não sai à reeleição à prefeitura. Para Presidência, acho difícil. Aécio Neves (governador de Minas Gerais), que também tem pretensão, deve sair à reeleição de governador. Tanto é que ele bateu pesado e foi contra a verticalização, que não é boa para os governos. O PT quer, por causa do Lula. Alckmin está na dúvida.

DIÁRIO - A sra. acha que não há espaço no PSDB para as mulheres concorrerem a cargos no Executivo?

ZULAIÊ COBRA - Essa questão da palavra mulher é forte. A mulher não tem espaço em partido nenhum. Mas há mulheres muito fortes. Como a Marta Suplicy, que quebra o pau, a Erundina. Eu já não sou assim. Não sou de chegar e me impor e dizer 'eu quero, eu sou uma mulher que tem voto, apareço na televisão, falo no rádio, as pessoas gostam de mim na rua'. Eu já não sou assim. Há mulheres e mulheres. É muito difícil a vida partidária. Porque é aquele jogo.

DIÁRIO - E se o PSDB começar a tomar outros rumos, que a sra. discorde, troca de partido?

ZULAIÊ COBRA - Não, vai tomar o caminho certo. Eu não saio. Aí eu tenho de conquistar o PSDB. Tenho de me impor. A Marta não se impôs no PT? A Erundina não se impôs no PT?

DIÁRIO - Quais os planos daqui para frente?

ZULAIÊ COBRA - É fazer campanha. Ir para todos os diretórios. Criamos associação estadual dos vereadores, dos prefeitos, temos muitas entidades dentro do PSDB. Tenho apoio do (Antonio Carlos) Pannunzio, toda a bancada me apoia, quase todos da Assembléia me apóiam. E minha candidatura ao Senado é a salvação do PSDB, porque ninguém pensou nisso, para enfrentar o Suplicy.

DIÁRIO - E em termos de Grande ABC?

ZULAIÊ COBRA - Acho essa região maravilhosa. Tenho parentes em Santo André. Venho aqui desde os 20 anos, meu irmão viveu e morreu aqui. Então, tenho muitos amigos. Fui da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) por muitos anos, conheci o Lula e a dona Marisa aqui, fazendo palestras pela OAB de São Bernardo. Tenho ligação com advogados e mulheres da região. Vim muito fazer campanha aqui. Fiz campanha no ano passado para o Newton Brandão, em Santo André, Leonel Damo, em Mauá. É uma região rica, de muito voto, pode me dar votação boa para o Senado. Vim em torno da minha candidatura. Vou andar muito e enfrentar muita gente. Política se faz com corpo-a-corpo. Não tenho capacidade só de fazer articulações e esperar. Vou disputar. Se for para ser, vai ser. Mas vou até o fim. Mas que eu gostaria de disputar com o Suplicy, eu gostaria.




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