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Primeira trans do vôlei, Tiffany abre debate científico e vê repulsa de rivais

Desempenho avassalador na Superliga coloca em xeque os critérios usados para liberação da atleta

Por Anderson Fattori
19/03/2018 | 07:06
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Denis Maciel/DGABC


Primeira transexual do vôlei brasileiro, Tiffany Abreu está no centro da maior polêmica da temporada na Superliga: pode um homem que passou por tratamento hormonal e mudou de sexo disputar a competição feminina? O regulamento da Federação Internacional de Vôlei, em conformidade com as diretrizes do Comitê Olímpico Internacional, permite, mas o desempenho avassalador desta paraense de 33 anos trouxe à tona debate científico sobre o tema. 

Tiffany nasceu como Rodrigo, cresceu em Conceição do Araguaia, no Pará, cidade com menos de 50 mil habitantes. Superou adversidades e chegou ao vôlei competitivo em 2010, quando defendeu Foz do Iguaçu e depois Juiz de Fora na Liga Nacional – hoje, Superliga B. Obteve relativo sucesso, mas aos 30 anos, em 2015, se mudou para a Itália, onde realizou a cirurgia de mudança de sexo. 

Para poder atuar entre as mulheres, a regulamentação prevê que a transexual comprove nível de testosterona (hormônio masculino) abaixo de dez nanomols por litro de sangue por 12 meses consecutivos e seja monitorada frequentemente. Tiffany registra algo em torno de 0,2 nanomol, resultado do tratamento hormonal que, entre outras coisas, diminuiu consideravelmente sua impulsão. Se antes alcançava a bola a 3,50 m, hoje chega a 3,25 m, marca ainda significativa no vôlei feminino.

Mesmo atendendo às exigências, o desempenho de Tiffany chamou atenção. Atuando por Bauru, é a maior pontuadora da Superliga, com média de 5,4 pontos por set e quebrou o recorde do torneio, com 39 pontos em um jogo, marca que era de Tandara (37). O rendimento ampliou o debate e especialistas acreditam que, mesmo com as taxas hormonais adequadas, ela leva vantagem porque sua musculatura se desenvolveu 30 anos como homem.

A CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) argumentou que nada pôde fazer. “A diretriz médica que leva em conta o índice de testosterona está aquém da complexidade do caso. De qualquer forma, é o único parâmetro que temos até o momento. E ele foi respeitado para liberar a atleta”, explicou o coordenador da comissão nacional de médicos do vôlei, João Grangeiro.<EM>

Tiffany falou ao Diário que não se importa com o que dizem a seu respeito e tenta manter a concentração. “Estou aqui para mostrar que uma pessoa trans pode ir ao ginásio, pode estar nos jogos e conviver com qualquer um. Tento não saber o que falam de mim. Quero evitar polêmicas que desgastam a mim, ao meu time e a minha mente, por isso prefiro não dar entrevistas”, ressaltou.

Se encontra resistência nas rivais, que já expuseram ser contra a sua liberação, Tiffany atrai dezenas de fãs por onde passa. “Esperava por essa repercussão. Acho que na próxima temporada vai estar melhor. Toda novidade assusta, depois vai se acertando”, disse, sem saber se poderá seguir no vôlei. 

À espera de nova diretriz, atleta diz que pode viver sem o esporte 

Defender a Seleção Brasileira certamente é um desejo de Tiffany, mas sua condição não lhe permite sonhar com passos maiores, pelo menos por enquanto. Ela espera para os próximos dias a divulgação de novas diretrizes do Comitê Olímpico Internacional, que está estudando o caso. 

“Caso eu não puder continuar, não tem problema. Vivi cinco anos sem o vôlei e posso conviver com isso. O futuro só Deus sabe. Vou continuar fazendo meu melhor. O que vier vou segurar o mais forte possível, indo para a Seleção Brasileira ou não, vou fazer meu melhor. Em Bauru ou em outro País. Vou continuar feliz”, garantiu.

Caso seja impedida de jogar, Tiffany deve optar por militar em defesa das transexuais, dentro ou fora da quadra. “Agora, com o espaço que conquistei na mídia, posso ajudar as meninas trans e conseguir diferentes trabalhos”, enfatizou a atleta. 




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