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Poder da arte

Ariadne Antico fala de inclusão e defende a não superproteção às pessoas com deficiência

Por Caroline Manchini
Especial para o Diário
18/03/2018 | 07:00
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André Henriques/DGABC


“Tenho tipo de paralisia cerebral. O diagnóstico dizia que eu não iria andar e falar, mas não foi o que aconteceu.” Assim começa a palestra-show Muros e Grades São Invenções Humanas, ministrada por Ariadne Antico, 33 anos, de São José dos Campos, mais conhecida como palhaça Birita.

No palco da Cia Circo do Asfalto, em Santo André, ela falou a respeito da arte de inclusão e mergulhou em pensamentos, relembrando sua trajetória desde a infância, quando os pais descobriram a deficiência. “Foram momentos difíceis. Durante sete anos fiz tratamentos de fonoaudiologia e fisioterapia, sofri bullying na escola, arremessei lanches sem ter dado uma mordida, joguei celular no bueiro e caí incontáveis vezes”, conta com muito bom humor. A deficiência de Ariadne preserva o desenvolvimento cognitivo do cérebro, mas provoca movimentos involuntários e afeta a região responsável pelo equilíbrio e postura corporal.

Os obstáculos não a desanimaram. Pelo contrário. Serviram como incentivo para que ela trilhasse um caminho de superação e fosse exemplo para milhares de pessoas. Formada em Recursos Humanos, com especialização em Inteligência Emocional e Gestão de Equipes, Ariadne decidiu, há um ano e meio, deixar o emprego e se dedicar, exclusivamente, ao projeto SER dEFICIENTE, que já percorreu diversos Estados brasileiros.

“Tudo começou quando fui convidada para contar minha história no auditório de uma faculdade. Eram mais de 200 pessoas. No fim, um homem, emocionado, me agradeceu por estar alí, contou que tinha um sobrinho com a mesma deficiência e estava saindo da palestra com a esperança de que ele tivesse um futuro brilhante, como o meu”, recorda.

Nesse momento, Ariadne percebeu que sua história não poderia ficar guardada apenas nos álbuns de fotografia, teria de ser compartilhada para incentivar outras pessoas: “Naquele dia tive consciência de que contar a minha trajetória transformaria vidas e, por isso, criei o projeto”.

Como já estudava Palhaçaria, ela decidiu que Birita seria sua ‘companheira’ de palestra. “Foi a melhor escolha que fiz na vida. A palhaçaria tem o poder de transformar e eu sou prova disso. Hoje, não me incomodo com os problemas decorrentes da deficiência. Em vez de lamentar, tiro algo engraçado disso para usar no palco. É realmente libertador.”

Além de mostrar que é possível superar as dificuldades, Ariadne defende a não superproteção dos pais com filhos deficientes: “Só estou aqui hoje porque meus pais me trataram como uma criança normal e me deixaram livre para descobrir o mundo”. Com sorriso no rosto, ela ainda diz: “Tem muita vida lá fora e perdemos tempo dentro de uma bolha que não nos leva a lugar algum. Estoure essa bolha e vá conhecer o mundo”.

A atriz Maria Aparecida da Silva prestigiou a palestra e acredita que ações como essa precisam de mais investimento e divulgação. “Tem criança deficiente trancada em casa com medo do preconceito. Temos de acordar, quebrar a barreira e incentivar esse tipo de projeto, porque é disso que a população está precisando”, reflete.

Termo diversidade é a aposta de cia de teatro
Na quarta-feira é o Dia Internacional da Síndrome de Down e, para celebrar a data, o espetáculo Reizinho Mandão, ganhador do Prêmio Incentivo ao Teatro Infantil e Jovem do Estado de São Paulo em 2015, chega ao Grande ABC, com apresentações em São Caetano hoje, às 20h, e em Santo André nos dias 7 e 8 de abril, às 19h.

A peça, protagonizada por três atores com a síndrome – Ariel Goldenberg e Rita Pokk (do filme Os Colegas) e Joanna Mocarzel (novela Páginas da Vida) – faz parte do Projeto Ruth Rocha – 50 Anos A Aventura de Ler. A ideia de produzir o espetáculo foi de Jô Santana, que, diferentemente de Ariadne Antico, prefere não usar o termo ‘inclusão’ na arte: “Não gosto dessa palavra, acho que diversidade é o nome certo. Incluir quer dizer que eles estão fora da sociedade e não é bem assim, estamos todos no mesmo barco. Somos apenas diferentes e devemos reconhecer e conviver com isso. O mundo precisa de mais tolerância e diálogo”, comenta.

Com 21 anos de carreira, o ator Ariel conta ao Diário que desde sua inserção nas artes cênicas muita coisa mudou. “Com as aulas de teatro eu pude melhorar minha dicção e a postura corporal. Além disso, a arte faz bem para a mente, é uma experiência única.”

O Reizinho Mandão, escrito por Ruth Rocha, teve adaptação do andreense Ricardo Gamba, que também faz parte da equipe de direção do espetáculo, ao lado de Ricardo Lage. Gamba ressalta que a montagem estimula o público a refletir. “Muitos pais assistem e percebem que, assim como os atores, os filhos deles também podem e são capazes de ser o que quiserem.” A peça ficou em cartaz em São Paulo e Rio de Janeiro, onde foi vista por mais de 25 mil pessoas.

O Reizinho Mandão – Espetáculo. No Teatro Santos Dumont – Avenida Goiás, 1.111, em São Caetano. Hoje, às 16h. Ingressos: Grátis (local). Repete: No Teatro Municipal de Santo André – Praça 4º Centenário, nos dias 7 e 8 de abril, às 19h. Ingressos: Grátis (local).




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