É dessa linha superexclusiva a mais emblemática peça da grife, a parka militar pintada à mão com motivos como cordas e temas náuticos, animais selvagens, flores e pássaros exóticos. "Quero que meu cliente sinta que não comprou um produto perecível", completa Fábio, explicando um dos fundamentos da grife, a promoção de mudanças menos abruptas entre uma coleção e outra.
No desfile que acontece na tarde deste domingo, 11, na Biblioteca Mário de Andrade, Alexandre e Fábio apresentam a quinta coleção da marca, 01-2018 (outra pequena adaptação para tempos atuais em que as estações já não fazem mais sentido para o consumidor), tendo como um dos elementos de referências os personagens de filmes da Universal Pictures, como E.T., Tubarão e De Volta Para o Futuro. "Não é uma coleção temática, são roupas que a gente tem vontade de usar, de ver por aí, é um mix", fala Fábio.
Dias antes da apresentação, numa cantina no Bom Retiro, onde fica o atelier da marca, Alexandre e Fábio falaram ao Estado sobre a moda e os novos tempos, as mudanças de hábito de consumo, política nacional e a fluidez de gênero das novas gerações.
O que podem contar da coleção nova da À La Garçonne?
Fábio. Não é uma coleção temática. São roupas que a gente tem vontade de usar, de ver por aí, é um mix...
Alexandre. Tem parka militar pintada à mão. Tem e vai ter até a última coleção (risos.)
Fábio. Essa é a grande diferença entre a À La Garçonne e a marca Alexandre Herchcovitch. Ele sempre foi conhecido por alterar as coleções radicalmente a cada semestre. Na À La Garçonne nem viramos coleção a cada semestre, ela vira a cada ano. Quero que meu cliente sinta que ele não comprou um produto perecível, é mais slow.
Quem são os parceiros dessa coleção 01-2018?
Alexandre. Estamos começando duas parcerias superimportantes: New Era e The North Face. Também firmamos uma parceria de dois anos com a Universal Studios. Durante esse período a gente vai usar uns 30 personagens. Em agosto a gente lança um licenciamento com Melissa de vários produtos.
Os desfiles já aconteceram no Masp, no Theatro Municipal, na Bienal, desta vez será na Biblioteca Mário de Andrade? Alguma razão especial para ser lá?
Fábio. Gostamos de ocupar espaços da cidade. Não tem regra: posso fazer dentro de uma loja ou de uma borracharia ou dentro da Prefeitura. É onde der vontade.
A marca tem uma identidade forte com a cultura urbana
e o streetwear?
Alexandre. Acho que a À La Garçonne é bem misturada. Num mesmo desfile tem camiseta, jeans, vestido de festa... Ficam algumas imagens mais fortes, como o street que você mencionou, porém o que a gente mais tem vendido são as roupas de festa.
A que vocês atribuem esse sucesso?
Fábio. É uma roupa mais sexy do que a que o Alexandre fazia na marca dele.
Alexandre. A marca Alexandre Herchcovitch foi construída de uma maneira tão forte que eu ficava preso à sua própria história. Aqui estou exercitando 500 outros lados.
Você tem acompanhado o que está acontecendo com sua marca, Alexandre?
Alexandre. Não muito? Acho que ainda tem produtos licenciados porque as pessoas postam e me marcam, mas não vejo muito movimento. Não procuro, mas o que chega para mim eu acompanho.
O sucesso da marca parece exceção no mercado? Como enxergam esse momento?
Fábio. Está difícil de maneira geral porque estamos vivendo dois movimentos. Um é a decadência política brasileira que está muito séria e afetou a economia de uma maneira bem drástica, então alguns segmentos estão se sobressaindo, mas são poucos. A grande maioria está sofrendo porque o cliente parou de consumir. A outra questão é que no passado as marcas de roupa concorriam com outras marcas de roupa. Hoje você concorre com celular, carro, viagem, as pessoas estão diversificando os gastos.
Por que as marcas grandes parecem sofrer mais?
Fábio. Porque as pessoas não querem mais usar o que o vizinho usa. Elas buscam exclusividade. Isso nos favorece porque priorizamos a exclusividade. Quando não é peça única, temos uma grade de 30 (exemplares de um mesmo item).
As questões de gênero, um tema que você, Alexandre, sempre abordou, hoje estão bastante em voga. O que acha disso?
Alexandre. Acho tudo maravilhoso. Tem uma mudança violenta. E que bom que as pessoas estão na dúvida de que gênero elas são. Que bom que elas não querem se encaixar em denominações. Tenho viajado bastante para dar palestras em faculdades e são duas as questões principais: moda agênero e reciclagem, reúso, sustentabilidade.
É um caminho sem volta?
Fábio. Tem exagero, tem modismo e tem oportunismo, mas não tem mais como você não abordar estes temas, não declarar onde você está colocando seu descarte. O aquecimento global está aí, embora o Trump diga que é mentira. Temos que falar do lixo, de reúso, as pessoas não querem mais ficar presas a um padrão, estamos vivendo uma grande mudança de tudo, da mídia, do consumo.
Várias celebridades usam - e postam - looks seus. É quase regra hoje em dia fazer ações com blogueiras e influenciadores. Vocês têm algum trabalho nesse sentido?
Fábio. A gente não veste celebridade. As celebridades que vestem e compram. É um movimento natural, somos uma marca pequena. Não temos recurso para pagar blogueiro.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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