O ex-presidente dos Correios, João Henrique Souza, sabia que na Diretoria Administrativa da estatal funcionava há anos uma central de corrupção especializada em fraudar licitações, mas não tomou providências. Relatório detalhando o esquema foi entregue a Souza pela Abin (Agência Brasileira de Informações), em 14 de abril, logo após a gravação da fita em que um dos envolvidos, o chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material da empresa, Maurício Marinho, aparece embolsando propina de empresários.
A Abin deu prazo de 10 dias para que Souza adotasse as providências, entre as quais demitir Maurício Marinho, abrir sindicância, realizar auditoria sobre as licitações da área e comunicar à Polícia Federal a ocorrência do crime. Passado o prazo, a agência continuou sem respostas, até que, na primeira semana de maio, a denúncia estourou na imprensa, resultando no escândalo que o governo tentou evitar.
Informada de que as fraudes estavam se generalizando nos Correios, a Abin abriu investigação em abril e infiltrou agentes junto a empresários insatisfeitos por terem sido alijados na partilha das licitações viciadas. Valeu-se para isso da amizade que um dos agentes tinha com o capitão José Fortuna Neves, cabeça de uma armação para flagrar Marinho recebendo propina.
Essa investigação, segundo nota oficial divulgada nesta sexta pela Abin, foi a causa do mal-estar causado com a PF, que, segundo o informe, teria confundido a presença de agentes da instituição como colaboração clandestina a atividades criminosas. A PF abriu inclusive uma linha de investigação para apurar o envolvimento de pessoas da Abin com a organização criminosa dos Correios.
A crise entre duas instituições do governo levou o ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu, a pedir explicações ao ministro chefe do Gabinete da Segurança Institucional, general Jorge Félix. O diretor-geral da Abin, Mauro Marcelo, subordinado a Félix, também teve que se explicar com o diretor-geral da PF, Paulo Lacerda. Marcelo atribuiu a crise a uma falha de comunicação entre as ações das duas instituições e prometeu que o fato não se repetirá. "A Abin e a PF se esforçam no sentido de que casos semelhantes não se repitam", diz a nota.
A PF, porém, não se deu por satisfeita e ainda poderá pedir novos esclarecimentos. Os agentes da Abin envolvidos no episódios foram ouvidos nesta sexta e estão de sobreaviso para novas convocações.
O esquema de fraudes teria sido montado pelo PTB para arrecadação de fundos e seus principais operadores seriam o Diretor de Administração, Antônio Osório Batista e seu assessor especial, Fernando Godoy, conforme o relatório da Abin ao presidente da estatal. A participação de Marinho foi descoberta no curso das investigações da Abin. Ele é tido como um cúmplice de menor calibre.
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