Clubes da região inserem analistas e adaptam mecanismos para a escolha de contratações
Contratar se transformou em desafio aos clubes de futebol. Não apenas pela concorrência ou ambição dos próprios jogadores, mas pelas regras cada vez mais comuns em competições que restringem o número de atletas inscritos por cada equipe. No Campeonato Paulista das Séries A-1, A-2 e A-3, por exemplo, há limite de 26 inscrições, sendo que três destas vagas têm de ser preenchidas por goleiros. Automaticamente, isso força dirigentes e comissões técnicas a observarem muito antes de fechar negócio com A, B ou C. Afinal, um erro pode significar queimar um cartucho. Para minimizar possíveis ciladas, os quatro principais representantes do Grande ABC têm seus métodos de contratação, seja à moda antiga ou utilizando os cada vez mais presentes analistas de desempenho.
“Faz uns cinco anos que os clubes têm utilizado a prospecção no futebol, que antes já existia com os olheiros. Fazemos o monitoramento de competições, análises técnico-táticas de reforços em cima das características e necessidades do treinador, levantamento sobre comportamento, viabilidade econômica... Tudo isso diminui a margem de erro nas escolhas”, explica Albert, profissional que compõe o departamento de análise de desempenho do São Bernardo FC.
Líder e invicto na A-2, o Tigre – pelo menos em estrutura – está à frente dos vizinhos. Conta com quatro profissionais voltados a isso: além de Albert, os analistas Neco, Guilherme, e o observador Nívio. Além disso, utiliza softwares repletos de informações vindas de competições e atletas de todo o País, casos do Sportscode e do iScout. “São ferramentas tanto de prospecção de atletas quanto análise para preparação dos jogos”, explica o diretor executivo Edgard Montemor Filho. “Duvido que algum clube médio e até alguns grandes tenham departamento que envolva tantos profissionais e com a estrutura que a gente tem.”
O departamento existe há sete anos e tem muito material no banco de dados, que levou às contratações do time no período. Entretanto, não é porque o time foi rebaixado da Série A-1 para a A-2 no ano passado que os profissionais consideram que o trabalho foi mal feito, por exemplo. Muito pelo contrário. “Às vezes (o time) não encaixa, não dá certo. Não é que contratamos errado. Se for ver os atletas que contratamos, alguns subiram para a Série A (do Brasileiro, casos de Iago Maidana e Vinicius Kiss pelo Paraná, além de Edno pelo América-MG) ou Série B (Edimar, no Fortaleza), outros estão em times grandes (Marcinho, foi para o São Paulo e está no Atlético-PR, e Walterson, passou por Atlético-GO e Figueirense, hoje no Santo André). Acabaram todos se empregando quando saíram”, diz Neco.
No Santo André, Eduardo Oliveira é o responsável pela análise de desempenho. Ajudou tanto na montagem do elenco fornecendo dados ao técnico Sérgio Soares e à cúpula dirigente, quanto no dia a dia, fortalecendo a comissão com dados sobre os próprios atletas e os adversários do Paulistão.
“(Análise de desempenho) É fundamental em qualquer clube do Brasil. E não só na questão de contratação, mas na hora que começa o campeonato, para fazer mapeamento do adversário, pegar os lances, passar ao treinador, municiar comissão técnica de situações de jogo e de como joga a equipe, edição de vídeo. Este profissional no futebol mundial é muito importante”, destaca o assessor da presidência Carlito Arini.
O dirigente andreense ainda comenta a transformação do mecanismo de contratação, destacando o que deve ser feito para evitar enganos. “A antiga fita, que virou DVD e hoje é link... Pegam os melhores momentos do jogador e inserem. Você vê e pensa que é baita jogador, mas ninguém contrata assim. Pode chamar atenção e a partir daí é outro processo, vai atrás, acompanha, vê jogo completo. Na tela todo mundo é bom”, alerta o dirigente, que chama atenção ainda à concorrência em cima de atletas que disputam, principalmente, o alguma divisão do Brasileiro.
“É uma guerra, porque entra o lado da competição com os outros clubes. Aí aquele jogador que a gente viu que é bom, outros também viram. O Campeonato Paulista tem mais visibilidade e se a gente quer um jogador, tem mais três ou quatro que querem. Particularmente não gosto de leilão. Então é mais na base do convencimento, entrar na mente. Se usa de tudo”, admite.
Azulão e Netuno à moda antiga
Marcelo Argachoy
Especial para o Diário
No São Caetano, até o mês passado não existia uma área específica voltada ao scout de atletas. Entretanto, o técnico Pintado foi contratado e trouxe com ele o analista de desempenho Gustavo, mais com a finalidade de observar adversários e o próprio Azulão. Ainda assim, as recomendações partem inicialmente da diretoria.
“Acompanhamos todas as competições. Série B, Série C, Copa do Brasil, estaduais e quando vemos um jogador que se encaixa nas características que o time precisa, fazemos um acompanhamento mais aprofundado”, diz o presidente Nairo Ferreira de Souza. “Mas temos que ver ao vivo no estádio, não fazemos contratação por vídeo ou WhatsApp”, esclarece.
A partir da indicação, um profissional do clube acompanha partidas do jogador indicado no estádio, procurando saber tudo sobre o jogador.
Já no Água Santa, as contratações são feitas de forma semelhante. Tudo começa com recomendações e ligações de empresários ou pedidos do treinador. Então, os dirigentes acompanham o atleta em algumas partidas. “Hoje em dia na internet podemos encontrar todo tipo de informação sobre o jogador”, afirma o diretor Márcio Ribeiro. “É fácil de saber onde ele jogou, quantos gols fez e em quantas partidas atuou”, completa. A busca por atletas dá preferência ainda a jogadores que já tenham trabalhado anteriormente com o atual técnico.
Coincidentemente, ou não, tanto Azulão quanto Netuno já trocaram de treinador na temporada após inícios ruins nas Séries A-1 e A-2, respectivamente. O time de Diadema, inclusive, já rescindiu com quatro jogadores trazidos para serem soluções, casos de Guilherme Andrade, Bruno Dybal, Leandro Cearense e Rodrigo Biro.
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