"Penso que Volpi foi um artista incrivelmente sintonizado com seu tempo", disse Caroline, a filha mais velha da princesa Grace Kelly e também duquesa de Brunsvique-Luneburgo. Formada em Filosofia na Sorbonne, Caroline disse que ficou fascinada pela pintura de Volpi, "especialmente por sua construção cromática". Bem informada sobre a influência do cromatismo de Matisse na pintura de Volpi, a princesa observou ainda que identificou claramente a ligação do pintor com os pintores pré-renascentistas italianos, citando Giotto e Cimabue.
A esses dois pintores do Trecento italiano, o curador da retrospectiva, Cristiano Raimondi, acrescentou um pintor florentino do Quatrocento, Paolo Uccello, referindo-se ao tríptico A Batalha de San Romano, pintado entre 1435 e 1460. "É possível ver na série de pinturas com mastros e bandeiras que Volpi certamente se inspirou nessa obra de Uccello, o que desfaz o mito de que ele era um pintor ingênuo". De fato, em sua visita à capela de Scrovegni, em Pádua, Volpi ficou tão impressionado com os afrescos em têmpera de Giottto que é possível dizer, segundo o curador, que há um antes e depois na pintura volpiana após essa viagem, em 1950.
"Poderia citar outros pintores italianos com os quais Volpi se identificou, tanto pré-renascentistas, como Margheritone d?Arezzo, como os modernos, especialmente Morandi, com o qual tinha afinidade, considerando sua exploração de uma espacialidade anti-ilusionista na tela, que deve algo à pintura metafísica." Volpi ficaria feliz ao ouvir essas observações do curador Cristiano, filho do grande baixo e maestro italiano Ruggero Raimondi, presente à inauguração em Mônaco. Muitas vezes reduzido ao estereótipo de pintor naïf e iletrado, que reproduzia bandeirinhas de festas juninas, Volpi foi elevado com a retrospectiva em Mônaco, que vai seguir para outros países europeus, ao mesmo patamar de suas grandes referências - de Matisse a Morandi.
Organizada pela galeria paulistana Almeida e Dale com o apoio do Instituto Volpi, a retrospectiva do pintor apresenta um conjunto com mais de 70 obras, cobrindo quase todos os períodos, de 1940 aos anos 1970. Há desde as paisagens que representam o prelúdio de suas composições geométricas abstratas até os mastros e bandeirinhas da fase final, passando pelas fachadas dos anos 1950 e 1960 (período mais reforçado pelo curador).
Vários colecionadores brasileiros contribuíram para a realização da mostra, emprestando obras raras e premiadas do artista, entre eles a família de Pedro Mastrobuono, diretor do Instituto Volpi - uma das suas telas, A Sereia, de 1960, ilustra o outdoor que anuncia a mostra no Jardin Exotique de Mônaco, ao lado do museu. Mastrobuono destaca a importância da retrospectiva para a divulgação da obra de Volpi na Europa, pois o pintor, que teve trabalhos expostos na Bienal de Veneza de 1962 e em galerias europeias, nunca havia sido contemplado com uma exposição em um museu do continente, apesar de ter nascido lá, em Luca, Itália, em 1896.
A pincelada volumétrica de Volpi e sua poética cromática já começam a dar frutos comerciais na Europa. Antes mesmo da mostra (não comercial) ser inaugurada no Museu de Mônaco, três colecionadores do principado haviam comprado obras da galeria que organizou a exposição. No dia 16, uma outra mostra (desta vez comercial) será aberta na galeria S2 da Sotheby?s, em Londres, organizada pela galerista paulistana Luisa Strina.
Na exposição, as obras que mais chamaram a atenção da princesa foram as telas da fase concreta de Volpi (anos 1960), especialmente aquelas que traduzem uma nova articulação formal depois do seu contato com os concretos paulistas. A princesa ficou um tempo razoável diante da uma tela com um triângulo vermelho sobre fundo branco (uma bandeirinha na horizontal, que explora a opacidade da têmpera). As telas dessa fase - curta e difícil para o artista pela reação às cores chapadas - são as mais disputadas (e caras) de Volpi.
A diretora do Museu de Mônaco, Marie-Claude Beaud, a esse respeito, destaca a autonomia de Volpi diante de movimentos que tentaram sua filiação. "Esta é uma das mostras mais originais que já exibimos e isso se deve justamente à singularidade de Volpi, muito ligado à tradição pictórica europeia, é certo, mas livre".
O REPÓRTER VIAJOU A MÔNACO A CONVITE DA GALERIA ALMEIDA E DALE
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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