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Recrutar voluntários é desafio para pesquisas clínicas
Por Caroline Garcia
Do Diário OnLine
08/02/2018 | 14:33
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Marcos Santos/USP Imagens/Fotos Públicas


Imagine se o telefone toca e do outro lado da linha uma pessoa se apresenta e afirma que você tem os requisitos necessários para participar de uma pesquisa clínica para testar gratuitamente um novo medicamento. “O primeiro pensamento é de achar que é um trote, e é natural”, diz Rodrigo Valdemarin Pavani, gerente de Pesquisa Clínica da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC). “Recrutar voluntário é, de longe, nossa maior dificuldade”, afirma.

Atualmente, o Centro de Pesquisa Clínica da FMABC está buscando pacientes para realizar testes de remédios em 24 estudos patrocinados por indústrias farmacêuticas em nove especialidades médicas, como dermatologia (psoríase, dermatite atópica e hidradenite supurativa), ginecologia (endometriose e mioma), cardiologia (insuficiência cardíaca e infarto agudo do miocárdio) e neurologia (esclerose múltipla com incontinência urinária, Alzheimer, polineuropatia, distúrbio do sono/insônia e Parkinson).

É correto lembrar que antes de o remédio entrar para a fase de testes, todos os projetos já receberam aprovação do CEP (Comitê de Ética em Pesquisa) da FMABC, do CONEP (Comitê Nacional de Ética em Pesquisa) e da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Apesar de o número de especialidades médicas parecer abrangente, não adianta o voluntário ser portador somente da doença que será analisada. É preciso preencher outros requisitos bem específicos. “São entre 30 e 40 critérios. Não pode, por exemplo, ter outras doenças e tomar medicamentos para tratá-las porque poderá haver interferência com a droga que está sendo testada”, pontua Pavani.

O primeiro passo para conseguir pacientes para os testes começa dentro dos equipamentos de saúde, no qual as instituições são parceiras. “Embora a FMABC tenha um guarda-chuva enorme, com UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e hospitais, o sistema de busca de alguns é precário. Há prontuários ainda em papel. É como procurar agulha no palheiro. De 500 cadastros nos hospitais, consigo 10 pacientes que ainda precisam aceitar ou não participar da pesquisa.”

Devido a essa dificuldade, desde junho de 2017, o Centro montou um grupo de quatro pessoas para ir atrás de possíveis pacientes. Além disso, são feitas campanhas nas redes sociais, divulgação na mídia e distribuídos panfletos em hospitais.

O Centro de Pesquisa Clínica do Hospital e Maternidade Dr. Christóvão da Gama, em Santo André, enfrenta o mesmo obstáculo, mas com um agravante: precisa somente de crianças e jovens de até 17 anos que tenham diabetes tipo 2. “É muito difícil encontrar esse perfil, já que o diabetes tipo 2 é mais ligado com adultos, com obesidade, com fatores genéticos e ambientais”, afirma o endocrinologista Márcio Krakauer, investigador principal da pesquisa.

A forma da procura também é a mesma, ou seja, feita, primeiramente, dentro do próprio hospital. “Atendemos várias pessoas, temos os nossos endocrinologistas, pediatras e vemos se há alguém sendo atendido dentro dos critérios que precisamos. Já temos uma paciente que está dentro da pesquisa. Nosso objetivo é conseguir dois ou três apenas, de tão difícil que é para encontrar”, conta o endocrinologista.

O próximo passo é tentar realizar uma campanha de detecção de diabetes e de obesidade nas escolas. “Dessa forma, conseguimos detectar se essa criança ou jovem é portador de diabetes e não sabe, e com isso a gente pode também recrutar para esse estudo”, diz Krakauer.

Acompanhamento médico

Todo paciente que concorda em ser submetido a um estudo clínico de novas drogas recebe todo o acompanhamento médico necessário durante o processo que, segundo Pavani, pode durar entre 3 meses e 5 anos. “O paciente assina um termo de consentimento, sabe tudo o que pode acontecer e tem a liberdade de sair do estudo a hora que quiser.”

Além do respaldo médico, há também outras facilidades, como transporte e alimentação no dia dos exames. “Os custos do transporte são pagos pelo centro de pesquisa, assim como a alimentação no dia das consultas e no dia de coleta de exames. A pessoa é atendida no horário marcado, não fica esperando em filas. Recebe também toda a orientação sobre dieta, atividade física e aspectos emocionais”, conta Krakauer.

De acordo com Pavani, apesar de não haver uma cultura da importância de estudos clínicos no Brasil, o fato de as pessoas se voluntariarem para tais projeto que verificam a eficácia e a segurança de novos remédios é primordial. “100% de todo medicamento que está na farmácia já passou por estudos clínicos.”

Krakauer ainda reforça que tais pessoas contribuem para o desenvolvimento da ciência, de novas drogas e, consequentemente, de novos tratamentos. No caso específico do remédio que está sendo testado para diabetes tipo 2, ele poderá aumentar para três as opções de terapia. “Vai ser mais uma medicação disponível para tratar jovens e crianças no futuro. A questão é que atualmente só temos uma ou duas medicações para tratar esse público. Então, se a gente tivesse outra opção, sem dúvida, o tratamento ficaria muito mais completo.”

Quem se interessar em fazer parte dos grupos de estudos na FMABC pode se inscrever pelos e-mails recrutamento.pesquisaclinica@fmabc.br e cemec.recrutamento@gmail.com ou pelos telefones 4930-4243 e 4317-0405. Já crianças ou jovens que têm diabetes tipo 2 podem ser inscritos no Centro de Pesquisas Clínicas do Hospital Christóvão da Gama, pelo telefone 4993 3700.




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