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As lições da Copa do Mundo

A Copa do Mundo é o mais belo exemplo do que pode ocorrer quando há um equilíbrio entre forças globais e identidades regionais

Wilson Marini
12/07/2010 | 00:00
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Por Wilson Marini

A Copa do Mundo é o mais belo exemplo do que pode ocorrer quando há um equilíbrio entre forças globais e identidades regionais. A Fifa, promotora do evento, transcende as nações. Formada por entidades futebolísticas nacionais, preserva a sua autonomia e aplica as leis de maneira soberana, fora do direito comum dos Estados. Quando na fase inicial o governo da França deu sinais de interferência no futebol do País diante do vexame da eliminação, a Fifa tratou logo de impor limites. Mas mesmo sendo o futebol um esporte regido por regras universais, as seleções jogam inspiradas na história, tradição e cultura de seus povos. Isso é a globalização bem arquitetada. Não massifica, valoriza diferenças regionais.

Quem acompanhou a Copa do Mundo na África do Sul, mesmo com equidistância, pôde assistir a um desfile de múltiplos símbolos, não apenas em formalidades como o hino nacional, mas no comportamento do público, no coro das vuvuzelas, nas polêmicas e em atitudes típicas dos jogadores.

Valor individual

E se a Copa do Mundo revela ao mundo a supremacia de um time em relação ao outro, a competição é uma oportunidade também para aflorar o valor do indivíduo. Diversos jogos foram decididos graças à inteligência e preparo de um único atleta, atacante ou goleiro, em lance ‘decisivo'. O uruguaio Loco Abreu teve a ousadia de bater pênalti com a sua marca própria e ganhou nesse dia mais destaque na mídia que o goleiro do seu time, mesmo este havendo defendido dois pênaltis. Em 1995, o goleiro colombiano Higuita fez uma defesa no Estádio de Wembley com incrível performance que é comentado até hoje entre os amantes do futebol. Isso ocorre apesar da mundialização do mercado de atletas e da padronização dos conhecimentos relativos ao preparo físico e esquemas táticos.

Diversidade

Lições da Copa do Mundo permeiam também os governos e a diplomacia. O mundo ainda não superou desafio do racismo, da xenofobia e da intolerância. É preciso aceitar nos corações, e não apenas na racionalidade, a diversidade cultural, étnica e religiosa. Quantas Copas do Mundo serão necessárias até que deixem de existir atitudes como a do ditador da Coréia do Norte, que censurou a transmissão das derrotas pela televisão?

Transpondo para o mundo das empresas, pode-se dizer que a globalização não é um bicho-papão que ameaça sufocar os pequenos, mas uma arena de oportunidades a empresas inovadoras, bem como aos profissionais ambiciosos e talentosos. E tudo isso é gestado na cidade onde se vive, por meio da Educação, dos costumes, das lideranças e dos projetos. Pelé precisou do campinho de futebol em Bauru, antes de se tornar o Rei. O mesmo é válido para qualquer setor da vida.

Apoio local

Daí a importância das ações nas áreas como a cultura e esportes nos municípios. O pequeno teatro pode ser o palco onde podem despertar artistas. É assim que nascem músicos, cientistas, empresários e políticos. Prefeitos preocupados apenas em tapar buracos de ruas estão desperdiçando oportunidades.

Neste mês de julho, cerca de 75 mil atletas de 35 modalidades, representando 429 cidades do interior Paulista, estarão mobilizados nos Jogos Regionais do Interior em oito cidades que sediarão os eventos - Guarujá, Lins, Sertãozinho e Assis na primeira fase; e Taubaté, Americana, Ilha Solteira e Itú, na segunda. São os preparativos da maior competição esportiva do Interior, os Jogos Abertos, que desta vez serão em Santos, na primeira quinzena de novembro. E podem também ser o embrião para a formação de atletas que disputarão os Jogos Olímpicos de 2012, em Londres. Mas a cada ano, os Jogos Abertos são o espelho da realidade nacional em relação ao esporte - a força do talento e do ânimo individual contra a falta de vontade política do poder público.

Incentivos - Entraremos agora numa década de grande projeção do País no esporte mundial, com a Copa do Mundo e a Olimpíada. Vale perguntar desde já: qual é o Plano Diretor de sua cidade para o Esporte? Os prefeitos atuais terão o seu mandato encerrado em 2012. Habituados pela cultura política de pensar apenas a curto prazo, muitos podem estar pensando que o Rio olímpico pertence ao futuro e está distante de seus olhos. Engano.

Agindo dessa forma, transferem para os seus sucessores em 2013 ações para dinamizar a atividade esportiva entre jovens que poderiam já ter sido desencadeadas no passado e no presente. Gasta-se muito mais em segurança pública e combate às drogas, quando muitos dos jovens infratores poderiam ser seduzidos por atividades mais sadias por meio do esporte. Se as sementes não forem plantadas agora, tudo continuará igual depois de 2016




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