É emblemática a informação que sustenta a manchete principal do Diário de hoje. Levantamento da Polícia Rodoviária mostra que, em média, um motorista é multado a cada minuto nas estradas que cortam o Grande ABC por estar trafegando acima da velocidade permitida. Foram 579.230 infrações anotadas de 1 de janeiro a 31 de dezembro de 2017 por essa razão, número que é 28,36% maior do que o de 451.264 registrado no exercício imediatamente anterior. Os dados suscitam a seguinte questão: por que o crescimento da fiscalização não torna o trânsito mais seguro?

Não se pode dizer, baseado nos últimos acontecimentos trágicos, que o excesso de infrações contribuiu para tornar os motoristas menos imprudentes. Muito pelo contrário. O acidente automobilístico mais violento dos últimos tempos – um racha entre dois veículos esportivos que acabou em duas mortes e seis pessoas feridas – aconteceu exatamente na Rodovia dos Imigrantes, que registrou em 2017, de acordo com a polícia, o maior número de multas (298.140) entre as estradas do Grande ABC.

Especialistas são unânimes em apontar a falha do sistema atual de punição para tornar o trânsito menos violento e os condutores mais conscientes. “Se o número de multas cresce isso mostra que a fiscalização não tem inibido esses motoristas. Caso contrário, ninguém iria ultrapassar a velocidade permitida”, considera, com propriedade, o advogado Maurício Januzzi, estudioso do tema.

Conclui-se que está errada a maneira como o Brasil lida com a formação de motoristas. Atualmente, a educação do indivíduo sobre os direitos e deveres na condução de veículos automotores começa na idade adulta, muitas vezes quando se atinge a maioridade penal e se vai até a autoescola em busca da CNH (Carteira Nacional de Habilitação). Trata-se de erro conceitual. Países que reconhecidamente possuem maior segurança no trânsito começam a cuidar do assunto logo na infância, nos primeiros anos de escola. Donde se comprova que boa instrução supera qualquer tipo de sanção.