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Áreas de risco voltam a ser ocupadas no Grande ABC

Mesmo com tragédias, famílias se arriscam em locais vulneráveis a desmoronamentos

Daniel Macário
Do Diário do Grande ABC
16/01/2018 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


 Menos de um mês após deslizamento de terra vitimizar criança de 10 anos, em Mauá,moradores do Grande ABC, voltam a mostrar que não aprenderam com as recentes tragédias e, de maneira ilegal, retomam ocupações irregulares espalhadas por áreas de risco na região. Embora prefeituras destaquem realizar a fiscalização dos espaços, os assentamentos precários têm avançado sem qualquer controle em áreas historicamente conhecidas por suas vulnerabilidades estruturais.

Motivadas, em sua maioria, pela falta de moradia e desemprego, famílias da região que assumem o risco de viver em áreas de alto risco declaram ver nas ocupações irregulares o sonho de uma vida melhor.

É o caso de Robson Ferreira Cesar da Silva, 25 anos, que, junto de sua mulher e três filhos, vive num pequeno barraco de três cômodos improvisados à beira de um barranco no assentamento Golden Park, na região do bairro Montanhão, em São Bernado.

O local, que atualmente é classificado de alto risco, ou seja, deve ter suas famílias removidas o mais breve possível, é uma das áreas da região que seguem recebendo novas construções. “Sabemos que aqui não é o lugar adequado para morarmos, mas não temos para onde ir. Na falta de opção, optamos por improvisar aqui”, destaca Silva, que há oito meses mora no assentamento.

O cenário se repete no núcleo Cruzado 2, em Santo André, e que também é classificado pela Prefeitura como de alto risco. Ali, na tentativa de uma vida melhor, o ajudante geral Ivanildo Rodrigues, 25, também improvisou pequena construção de alvenaria no topo de um morro. “Ou a gente se mudava para cá ou ficava sem ter onde morar”, destaca.

Embora a ocupação já dure mais de dois anos, o ajudante geral afirma nunca ter recebido visita de profissionais da Prefeitura desde quando mudou-se para a área. “Até ficamos com medo de eles virem e tirarem a gente daqui. No fundo sabemos que aqui é área de risco.”

Problema acentuado nos últimos meses com a crise econômica, que em fevereiro do ano passado fez a região atingir o contingente de 244 mil desempregados – maior índice registrado desde 2004 –, o crescimento de ocupações irregulares na região nada mais é do que reflexo da falta de planejamento de gestores públicos, segundo o especialista em gestão e Segurança pública Newton de Oliveira, docente da Mackenzie Rio de Janeiro.

“Não adianta promover ações paliativas, como é o caso da Operação Verão, que não passa de um tapa-buraco. É preciso ter planejamento ativo no que diz respeito a política habitacional, caso contrário o problema dificilmente será solucionado”, enfatiza Oliveira.

Principal instrumento para nortear o planejamento de prefeituras na execução de obras de contingência a fim de evitar tragédias após desmoronamentos, comuns em períodos de fortes chuvas, o mapeamento de áreas de risco da região foi elaborado pelo Consórcio Intermunicipal do Grande ABC em 2014.

“É preciso que prefeituras tenham em mãos dados consolidados sobre sua real situação habitacional, caso contrário nada poderá reverter este quadro”, destaca o especialista em gestão e Segurança pública.

Segundo Oliveira, embora moradores que ocupam áreas irregulares possam ser penalizados, conforme a legislação municipal de cada cidade, o problema só será amenizado com criatividade e planejamento. “Não é algo fácil de combater, mas se houver uma estratégia bem definida e trabalho constante é possível, sim, reverter este quadro.”

Embora tenham em mãos documentos defasados com o mapeamento de áreas de risco de seus respectivos territórios, municípios da região declaram fazer regularmente trabalho preventivo em locais vulneráveis.

Em Santo André, onde existem 32 áreas consideradas de risco, que correspondem aos assentamentos precários, a estimativa é a de que 2.000 famílias estejam envolvidas nas ações rotineiras da Defesa Civil durante a Operação Chuvas de Verão.

Municípios destacam trabalho preventivo da Defesa Civil

No município de São Bernardo, onde está prevista para o início de fevereiro a realização da atualização do mapeamento das áreas de risco da cidades, por equipe de especialistas da UFABC (Universidade Federal do Grande ABC), são 42 áreas com 162 setores de risco mapeados. Nesses locais, é realizado monitoramento regularmente por equipes da Defesa Civil por meio de vistorias programadas ou em atendimentos às solicitações dos munícipes.

Em Mauá, cerca de 10,6 mil famílias são assistidas atualmente, sendo que 3.100 estão em situação de risco muito elevado. Todas possuem cadastro na Secretaria de Habitação para viabilizar o atendimento adequado e são acompanhadas pela Defesa Civil. Situação que se repete em Ribeirão Pires, onde moradores que residem em locais de alto risco e recusaram-se a sair são monitoradas.

Em Rio Grande da Serra, duas famílias são ‘acompanhadas’, enquanto em São Caetano não há moradores neste perfil. Diadema não retornou.




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