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Bituca em releitura com voz e cello

Zélia Duncan e Jaques Morelenbaum revisitam obra de Milton Nascimento em ‘Invento +’

Por Vinícius Castelli
24/12/2017 | 07:00
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Leo Aversa/Divulgação


Mergulhar no incrível baú musical de Milton Nascimento e, depois de absorver o que há lá, sair dele criando possibilidades é desafiador, no mínimo. Pois é exatamente isso o que apresentam agora a cantora Zélia Duncan junto do músico e arranjador Jaques Morelenbaum no disco Invento + (Biscoito Fino, R$ 34,90, em média), que acaba de ganhar vida.

Com voz e cello, o projeto, que já esteve nos palcos e possivelmente retornará em 2018, apresenta temas compostos por Milton e outros de autorias diferentes, mas conhecidos na voz do artista carioca. E, ao longo do passeio sonoro, ilustrado por 14 canções, a dupla explora novos rumos para temas já tão conhecidos, como é o caso de O Que Será, escrita por Chico Buarque, e que ganha agora ares melancólicos com a nova – e belíssima, diga-se de passagem – versão.

A ideia do projeto, criado pelo produtor André Midani há cerca de dois anos, era justamente dar novo rumo às canções de Milton. Ao Diário, Zélia conta que a proposta sempre foi “desafiar a sonoridade”. Ela diz que fazer esse disco foi algo muito desafiador. “Cantar sem harmonia e ao lado de um grande músico como Jaques Morelembaum é uma aprendizagem enorme”.

Morelenbaum buscou fidelidade total às obras. “Em outras palavras, meus primeiros passos neste projeto foram transcrever ‘para o papel’ cada nota e cada célula rítmica de cada melodia cantada e registrada por Milton. Ele conta que chegaram a pensar em ter percussão no projeto. Inclusive cogitaram Naná Vasconcelos, que morreu em 2016. “Depois assumimos o desafio de fazer um show inteiro praticamente ‘à capella’, ou seja, apenas voz e cello. A partir daí a questão foi apenas criar os arranjos e ensaiar”, explica o artista.

Entre as canções pinceladas estão O Que Foi Feito Devera, que abre o álbum, e Caxangá, ambas resultado da parceria de Milton com Fernando Brant. Zélia conta que a escolha do repertório foi afetiva, antes de mais nada. Morelenbaum diz que costurar esse repertório foi uma loucura, “pois era como para um pai e uma mãe escolherem os filhos de quem mais gostam (apesar de sermos apenas intérpretes). A vontade era tocar, cantar e gravar um repertório composto por centenas de canções que povoaram nossos imaginários e corações durante a adolescência e uma substancial parte de nossas vidas.” Ilustram ainda o disco as canções Cravo e Canela, Beijo Partido, Cais e Travessia, para citar alguns destaques.

A gravação do álbum foi toda realizada ao vivo, no estúdio, com voz e cello ao mesmo tempo. E para Zélia não poderia ser de outra forma. “Esse é o espírito desse encontro”, diz. Para Zélia, trabalhar nesse formato, com voz e cello, “põe uma lente de aumento sobre nós, que nunca tinha experimentado”.

Morelenbaum explica que, evidentemente, um cello sozinho não poderia cumprir todas as funções de uma banda inteira, “então aí está a hora de fazer minhas escolhas, e eleger o que acho fundamental que transpareça no arranjo”. E para o artista, o interessante desta formação de cello e voz é que, “enquanto arranjador, estou sempre a esperar e desejar que o público subentenda o que não está sendo explicitado pelas notas que toco (ou deixo de tocar)”.




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