Setecidades Titulo Saúde mental
Terapia gera renda a pacientes

Projeto que existe há 20 anos em Santo André usa oficinas de marcenaria, culinária e orquidário para reabilitar pessoas com problemas mentais

Bia Moço
Especial para o Diário
17/12/2017 | 07:07
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Nario Barbosa/DGABC


 O trabalho realizado nas oficinas de terapia ocupacional do Nupe (Núcleo de Projetos Especiais da Rede de Atenção Psicossocial) de Santo André – que existe há 20 anos – tem mudado a vida de pelo menos 60 pessoas que passam por tratamento nos Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da cidade. A partir do aprendizado obtido em cursos de marcenaria, culinária e orquidário, por exemplo, os pacientes que têm algum tipo de transtorno mental conseguem, além da reabilitação e inclusão social, uma fonte de renda.

Com a venda dos produtos que produzem, o dinheiro conquistado é vislumbrado como salário e utilizado para que possam empoderar-se e sentirem que têm autonomia. É o que acontece com paciente de 55 anos que trata da esquizofrenia desde os 24. Ele destaca que, agora, se vê parte da sociedade, já que usa o “dinheirinho” que consegue vendendo peças de marcenaria para realizar pequenas conquistas, como levar os tios (com quem mora) para comer hambúrguer.

Sorridente, ele conta ainda que faz parte do projeto há dois anos e que pretende ficar por muito tempo. Isso porque, segundo o paciente, nunca pensou que seria tão bem recebido por um grupo, cujos integrantes acabaram se tornando grandes amigos. “Sou muito feliz aqui, e extremamente bem tratado. Minha vida mudou completamente depois que cheguei nesse lugar, e me sinto muito bem. Antes de frequentar o Caps eu era muito nervoso e, depois que passei a fazer o tratamento, percebi que consigo cuidar da minha cabeça. A oportunidade de participar do Nupe e poder fazer minhas peças foi o que me fez entender que a vida pode continuar”, revela.

Outros participantes do programa utilizam o dinheiro recebido pela venda das produções para realizar pequenos reparos em suas residências, como, por exemplo, comprar saco de areia para consertar a calçada, ou até mesmo adquirir fiação para cuidar da parte elétrica do imóvel. Com diversas parcerias, o núcleo recebe encomendas e participa de feiras e exposições.

Emocionada, a terapeuta ocupacional Ellen Pereira, 50, explica que o trabalho devolve para essas pessoas a confiança que perderam, muitas vezes, trabalhando. Segundo ela, grande parte dos pacientes teve os transtornos gerados dentro do ambiente profissional, portanto, voltar a ter ocupação traz segurança. “Nos emocionamos com eles e aprendemos muito. Quando vemos um usuário reabilitado, indo embora porque conseguiu um emprego, é uma grande vitória, tanto para eles quanto para nós, em ver que conseguimos ter mais um cidadão, com sua dignidade recuperada”, ressalta.

Embora o Nupe seja um equipamento municipal, seus funcionários são contratados e mantidos pela Associação De Volta Para Casa. Ex-participante do programa, um dos monitores do espaço, de 43 anos, diz que chegou ao Nupe “com a vida destruída”. Após seis meses de tratamento e diante de recuperação impressionante, ele foi contratado pela associação. “Ele chegou aqui um bagaço, hoje é outra pessoa. Terminou os estudos, fez faculdade de Tecnologia da Informação e pode ajudar outras pessoas que estão em uma situação que ele conhece bem, pois já passou por isso”, comenta Ellen.

NA REGIÃO

Outras organizações espalhadas pela região oferecem trabalho semelhante ao do Nupe. Em São Bernardo existe o Nutrarte (Núcleo de Trabalho e Arte), parceiro do Nupe de Santo André.

Em Mauá, além dos programas de terapia inseridos no Caps, há o CER IV (Centro Especializado de Reabilitação), que tem o caráter de reabilitação e estimulação. O serviço é destinado a pacientes que apresentem alguma deficiência e que tenham indicação de participar de terapia ocupacional com vistas à reabilitação ou habilitação funcional.

Ribeirão Pires informou que possui atendimento de terapia ocupacional e oficinas como parte do atendimento no Caps.

As demais cidades não retornaram até o fechamento desta edição.

Grupo conquista sonho do carro próprio com venda de nhoque

Com a produção e venda de nhoque, usuários e supervisores do Nupe (Núcleo de Projetos Especiais da Rede de Atenção Psicossocial de Santo André) conquistaram um sonho: a compra de uma Kombi para transportar mercadorias encomendadas. Unida, a equipe passou todos os dias 29 de cada mês, por um ano, na produção da massa de origem italiana.

“Pensamos em como poderíamos gerar renda e comprar um carro, então surgiu a ideia de vender nhoque. Foi um planejamento grande, precisamos da colaboração e união de todos, sem exceção. Vendemos muito. Não tenho nem como estimar a quantidade. Por fim, juntamos R$ 6.000 e, com a colaboração da UFABC (Universidade Federal do ABC), por meio de parceria, recebemos mais R$ 3.000”, relata a terapeuta ocupacional Ellen Pereira.

Hoje a Kombi é a principal aliada e maior orgulho da equipe. “Para eles, as conquistas em união é de grande valia, até porque o veículo foi conquistado graças ao trabalho dos pacientes. Todos falam desse projeto como um troféu. E, de fato, foi”, considera Ellen. 




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