Pela primeira vez, 70 estudantes adultos que têm deficiência se apresentam no palco do teatro do Cenforpe
A primeira vez ninguém esquece. Embora a frase pareça clichê, é praticamente certo que isso é o que vai acontecer com os 70 alunos da Emebe Rolando Ramacciotti, escola que atende adultos a partir dos 22 anos com deficiência intelectual no Jardim Hollywood, em São Bernardo. Depois de quatro meses de preparação, eles farão suas estreias no palco amanhã, às 11h, no teatro do Cenforpe. A apresentação de encerramento do ano será em homenagem ao Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, comemorado no último dia 3. A entrada é gratuita.
O ensaio final, realizado na tarde de ontem, deixou no ar que o evento será de pura emoção. A peça batizada de Na Próxima Estação tem o texto baseado na obra original O Trem da Amizade, do alemão Wolfgang Slawski, e fala sobre a importância de estar sempre aberto às mudanças da vida. Envolvendo toda a comunidade escolar, desde as responsáveis pela faxina e merenda à direção, o evento contará com a participação de aproximadamente 90 pessoas. A escola toda se envolveu para que a adaptação fosse impecável, e para auxiliar os alunos com maiores dificuldades.
A ideia da montagem foi da educadora Elci Bernardino Correia, pedagoga com experiência no desenvolvimento de ações voltadas aos deficientes intelectuais e uma das voluntárias na escola. “A peça de teatro é algo que une a equipe, movimenta as famílias e os alunos, dando a oportunidade de celebrarem o momento deles. O aluno com deficiência intelectual, especialmente em um contexto de situação de vulnerabilidade social, não tem a vivência dos demais estudantes. A maioria não terá celebrações normais da vida das pessoas, como uma formatura ou um casamento. É um momento diferente para os pais, que sofrem um distanciamento das próprias famílias, que dirá da sociedade”, explicou.
Com animação, alegria e muita emoção, ao longo da peça é possível notar o envolvimento e esforço de cada um dos alunos, mesmo diante de suas dificuldades. Sem conseguir segurar o choro, a diretora da unidade, Magali de Oliveira Xavier, disse que é a maior oportunidade para a família ver o que eles são capazes de fazer. Para ela, a arte é a única forma que eles conseguem, verdadeiramente, vivenciar a inclusão, além de ser a maior oportunidade de se expressarem de forma natural. “No palco eles sentem que são respeitados como os grandes seres humanos que são. A plateia que tiver a sorte de prestigiar o evento poderá sorrir e chorar com apresentações divertidas e surpreendentes.”
A dona de casa Simone Aparecida Augusto Lima, 44 anos, é mãe do aluno Wesley Augusto Lima, 24, que, a seu modo,contou que estava feliz e que achou difícil todo o ensaio. O menino, que tem deficiência intelectual e baixa visão, costuma ser quieto, porém, está explorando o projeto e tirando o maior proveito possível, tanto que será o Teleco, personagem principal da peça.
Orgulhosa, a mãe comentou: “Ele mal dormiu à noite de tanta ansiedade. É a forma que ele demonstra seus sentimentos. Desde o início ficou muito empolgado com a atuação, está mais feliz e sorridente”.
Ao som de Bohemian Rhapsody, do Queen, Victor Fernandes Azzi, 24, incorporou o verdadeiro e lendário cantor Freddie Mercury. O rapaz, que tem deficiência mental, emocionou sua babá e cuidadora, Esmeralda Teresa Caetano Oneda, 70. Quase sem conseguir falar, a segunda mãe de Victor, como ele mesmo diz, contou o quanto se orgulha. “Muito esforçado, dedicado e guerreiro. Ele se entregou de corpo e alma a essa apresentação.”
O característico bigode do cantor não poderia faltar, e Victor fez questão de deixar igual. Além de trabalhar, ele é atleta e, conforme disse a cuidadora, “da um show no palco e no atletismo”, o que o motiva diariamente.
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