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Viadutos em risco

Especialistas ouvidos pelo Diário apontam série de problemas nas estruturas e cobram manutenção

Por Daniel Macário
04/12/2017 | 07:00
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André Henriques/DGABC


Comprometidos pela falta de manutenção periódica não realizada por municípios, viadutos da região correm sérios riscos estruturais. O alerta é feito por especialistas em engenharia consultados pelo Diário.

Ao longo da última semana, a equipe de reportagem percorreu 12 dos principais viadutos do Grande ABC sob responsabilidade das prefeituras e constatou falta de manutenção preventiva e degradação decorrente do excesso de veículos em praticamente todos.

Problemas como afastamento das vigas, infiltrações, buracos e ondulações, além da falta de limpeza e da desobstrução dos bueiros, foram apenas alguns dos pontos críticos citados por especialistas.

“É um retrato claro da omissão das prefeituras quanto à manutenção periódica dessas passagens. São problemas que se agravam a cada ano e com riscos estruturais que podem afetar motoristas e pedestres que circulam por essas estruturas”, avalia o engenheiro e inspetor do Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo) André Sobreira de Araújo.

Para os especialistas, parte das estruturas necessita de intervenções imediatas, como são os casos do Viaduto Independência, em São Caetano, e Castelo Branco, em Santo André.

Na primeira estrutura, remendos feitos entre as vigas causaram desnível em praticamente todo o asfalto da via, o que, segundo especialista, compromete a estrutura. “Fizeram um verdadeiro tapa-buraco aqui, onde o correto seria identificar os problemas internos, como juntar as vigas, para depois refazer o asfalto”, explica Araújo.

No viaduto de Santo André, conhecido por motoristas como ‘treme-treme’ por causa do balanço intenso, ferros em decomposição colocam em risco a queda de trechos da estrutura. “Quando temos um cenário como este, de o ferro estar à vista, é um sinal claro de que a estrutura está toda deteriorada.”

Em Mauá, nos dois pontos visitados no Centro da cidade, problemas estruturais também foram diagnosticados. No Juscelino Kubitschek, além da falta de acessibilidade para munícipes, as juntas de dilatação – encontro entre os pilares e as vigas – estavam separadas por espaço fora do recomendado. Já no Prefeito Élio Bernardi o sistema de escoamento de água estava totalmente corroído.

“Ferros aparecendo já são problema. Se aparentes no meio das vigas de suporte, vistos por quem passa por baixo, indicam maior gravidade. Se os ferros estiverem rompidos, reparo urgente, com possível fechamento da passagem veicular”, afirma o professor de Engenharia da FEI (Fundação Educacional Inaciana) Creso Peixoto.
No José Fernando Medina Braga, em São Bernardo, a falta de limpeza em bueiros e infiltrações foram os problemas mais recorrentes encontrados.

“A maioria dos viadutos da região apresenta patologias ou problemas que simples manutenções preventivas solucionariam. Nada de complexo ou algo que necessita de interdição total do viaduto”, explica Araújo.


Municípios assumem falta de verba para manutenção

Sem verba em caixa, prefeituras do Grande ABC assumem a ausência de recursos para custeio de intervenções preventivas em viadutos da região.

Em Santo André, a administração afirma que aguarda recursos para viabilização das obras de recuperação nessas estruturas.

Segundo o Paço, os cinco viadutos visitados pela reportagem passaram por manutenção, no entanto, há mais de cinco anos. O Castelo Branco e o Pedro Dell’Antonia, por exemplo, sofreram intervenções entre os anos de 2006 e 2007. O Viaduto Adib Chammas passou por reformas em 2010, aguardando-se atualmente recurso do BID para ampliação de capacidade viária, não possuindo problemas estruturais.

As intervenções de recuperação da passarela Luso-Brasileira já tiveram início, e as obras se estenderão até o começo de 2018.

A Prefeitura de São Bernardo destaca que faz a fiscalização e realiza as manutenções conforme as demandas apresentadas. Porém, aguarda a melhora no fluxo financeiro para contratar empresa especializada neste trabalho.
São Caetano e Mauá não responderam às demandas até o fechamento desta edição.


Motoristas temem queda de estruturas e citam descaso

Infraestrutura precária e abandono. Para motoristas que passam por algum dos cerca de 40 viadutos do Grande ABC, esses são problemas recorrentes em todas as passagens.

“Do jeito que está dá até medo de cair. Sempre que passo aqui comento com minha esposa sobre a tremida que o viaduto dá”, relata o aposentado Humberto Lopes da Silva, 66 anos, ao passar pelo Viaduto Castelo Branco, em Santo André.

Para o comerciante João Nunes, 44, os problemas do Viaduto Independência, em São Caetano, já são velhos conhecidos. “É uma coisa feia demais. Tem ferro para fora do viaduto, buraco, ondulação. Não sei como isso ainda está de pé”, afirma.

Embora destaque, de modo geral, que as condições poderiam ser piores, motoristas ressaltam o descaso do poder público em relação aos problemas estruturais recorrentes de viadutos da região. “Em São Paulo tem viaduto pior, mas aqui não fica atrás. Nunca vi ninguém da Prefeitura arrumando nenhum viaduto”, disse o manobrista Alberto Lima, 33.

Pedestres que circulam pelas estruturas também são enfáticos ao avaliar o estado de depredação das estruturas. “Se para carro já é ruim, imagina para nós. É buraco, sujeira. Dá medo, mas vamos fazer o quê?”, questiona a doméstica Silvana Maria de Souza, 52. 




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