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Espera por cadeira de rodas é de 2 anos

Burocracia e falta de verba comprometem a reabilitação de pacientes do Grande ABC que dependem de aparelhos de Saúde fornecidos via SUS

Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
20/11/2017 | 07:33
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Nario Barbosa/DGABC


Encaminhamento falho, recursos escassos. A junção desses dois fatores compromete a reabilitação de pessoas com deficiência que dependem do SUS (Sistema Único de Saúde) para ter acesso à cadeira de rodas, próteses (utilizadas como substitutas de membros e articulações do corpo), órteses (aparelhos que servem para alinhar ou regular determinadas partes do corpo) e aparelhos auditivos. A espera pode chegar a até dois anos para uma cadeira de rodas.
A situação de aguardar angustia a autônoma Sandra Avelino de Souza Silva, 41 anos, de Mauá. Desde 2015, a filha Jade, 21, está na lista da Apraespi (Associação de Prevenção, Atendimento Especializado e Inclusão da Pessoa com Deficiência), de Ribeirão Pires, para receber uma cadeira de rodas adaptada. A entidade é credenciada no Ministério da Saúde para dispensar, com aporte do SUS, órteses, próteses e meios de locomoção.

Jade tem toxoplasmose cerebral e demanda cadeira de rodas que atenda suas necessidades. “Ela cresceu, está mal acomodada nessa cadeira. Já tem até partes escurecidas no corpo de tanto ficar apertada. Além disso, os parafusos estão frouxos. A Apraespi diz que a demanda é grande e a verba é pouca”, lamenta Sandra. “É uma luta que não anda, você fica perdida e não tem a quem recorrer”, completa. Segundo ela, a expectativa é a de que receba nova cadeira em dezembro.

A situação pela qual Jade passa dificulta o trabalho de reabilitação. “No caso de crianças, como ela vai crescendo, a cadeira começa a não servir. Pode aumentar a deformidade e até machucar. Com os adultos, da mesma fora, a pessoa precisa sentar na cadeira certa para ela, para ajuste da postura e ter melhor equilíbrio do tronco. Se ela ficar mais acamada, vai aumentar os problemas respiratórios”, explica a fisioterapeuta da Apraespi Irma Aparecida de Oliveira, 54.

A prótese que o eletrotécnico Erinaldo da Silva Santos, 41, de São Bernardo, utiliza na perna direita desde que sofreu amputação traumática entre o joelho e o quadril, devido a acidente de trânsito em 2007, lhe traria mais qualidade de vida caso estivesse em boas condições. “A média de tempo de uso da prótese não chega a dez anos. Ela está muito deteriorada e não consigo mais andar rápido como eu andava. Espero por outra desde 2015 e, se eu ficar sem ela, vou depender de muleta e não conseguirei exercer minhas atividades”, fala.


DEMANDA
Ao menos 219 pessoas aguardam na fila de espera por itens como órteses, próteses ou cadeiras de rodas, e 604 por aparelhos de amplificação sonora individual, números que correspondem apenas a pacientes de Santo André e Mauá (as demais cidades não informaram).

A Prefeitura de São Caetano afirmou que existe um convênio estabelecido com a AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) para confecção de órteses, próteses, cadeiras de rodas e outros materiais adaptativos e facilitadores de locomoção, mas não informou números.

A Apraespi recebe do SUS 40 mil por mês para fazer a dispensação de órtese, prótese e meios de locomoção e R$ 10 mil para a adaptação de cadeiras de rodas. Em relação aos aparelhos auditivos, existe a limitação de 66 pacientes ao mês, mas há 412 pessoas na fila de espera interna da associação. A entidade só não atende nessa questão as cidades de São Bernardo, São Caetano e Diadema, que estão a cargo da Funcraf (Fundação para o Estudo e Tratamento das Deformidades Craniofaciais).
O Diário procurou o Ministério da Saúde para comentar a questão de repasses insuficientes, mas não teve retorno até o fechamento desta edição.  




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