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Dia de cobrar direitos e exaltar a cultura afro

No feriado da Consciência Negra, hoje, população alerta sobre prejuízos do racismo institucional

Por Matheus Angioleto
Especial para o Diário
20/11/2017 | 07:45
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Nario Barbosa/DGABC


 Criado em memória a Zumbi dos Palmares, líder quilombola, o Dia da Consciência Negra, celebrado hoje, corresponde a data oportuna para que se discutam as necessidades de grupo de 135,2 mil indivíduos do Grande ABC cuja cor da pele é preta, conforme classificação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Representantes de movimentos afro ouvidos pelo Diário são unânimes em destacar que são fundamentais políticas públicas capazes de contribuir para a diminuição das dificuldades enfrentadas no dia a dia, tais como o racismo institucional. Em contrapartida, o feriado também se traduz em oportunidade de destacar a manutenção de costumes da cultura de origem africana entre as sete cidades.

“Grande parcela das mortes poderia ser evitada se não olhassem para a cor da pele”, considera a integrante do coletivo afro de Rio Grande da Serra Neusa de Jesus, 48 anos. Para ela, hoje, a principal demanda do movimento negro na região é a aplicação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, criada em 2009 como resposta do Ministério da Saúde às desigualdades em Saúde que acometem esta população. Isso porque, conforme Neusa, “O racismo institucional (sistema de desigualdade que pode ocorrer em órgãos públicos, corporações empresariais privadas e universidades) é conhecido como uma das maiores causas de morte”, lamenta.

O maestro João de Campos, 77, um dos fundadores do movimento negro andreense, em 1972, acredita que a região pode pensar em soluções por meio do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC. “Quando se fala de consciência negra, se pensa que o problema é só do negro, mas é de toda a sociedade. É necessário combater o racismo, a desigualdade social e lutar pela equidade de direitos”, ressalta.

Já a arte educadora de Santo André Sheylla Ayó, 39, que leciona para crianças e jovens há dez anos, considera que a solução ao racismo está na Educação.“É necessário investir na capacitação dos educadores, porque o primeiro lugar onde sentimos o preconceito é na escola. Quando você é agredido por um colega e o professor nada faz, você se sente sozinho e isso vai crescendo. É necessária a reformulação dos livros didáticos para que a história do Brasil seja contada da forma correta”, aponta.

Para Benedito da Silva Lemes, 65, o Ditinho da Congada, ainda está longe o dia em que “ninguém vai ser julgado pela cor da pele”. Apesar disso, o morador de São Bernardo tem fé na humanidade. “O negro é símbolo de perseverança, luta, fé e persistência. Temos que lutar juntos por um País onde todos sejam respeitados”, destaca o mantenedor de manifestação cultural e religiosa afro-brasileira na região, a congada, há quase 40 anos. A tradição, sustentada pela família Lemes no Parque São Bernardo, representa a dança e o batuque trazidos pelos escravos africanos no século 16.

A preservação da cultura afro por meio da profissão é motivo de orgulho para o cabeleireiro Carlos Magno dos Santos Roberto, 45. Lynho, como é conhecido pelos clientes e amigos, mantém salão especializado em Santo André. “Sou negro, com cabelos dreadlocks até o chão (estilo associado a guerreiros do Quênia), e o corpo coberto de tatuagens”, diz ele. Sobre o preconceito, o profissional considera que sua família seja uma resposta “divina”. “Quando um negro gera dois filhos brancos, é para quebrar qualquer tipo de preconceito de pele”, afirma ele, que pensa em se tornar pastor.




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