Cultura & Lazer Titulo Especial
Dublês em ação

Grupo de profissionais enfrenta grandes perigos e desafios para trazer mais realidade às produções

Por Marcela Munhoz
12/11/2017 | 07:00
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André Henriques


 Como seria bom, em certos momentos da vida, ter um ‘outro’ de nós. Enfrentar a conversa decisiva, fazer o teste complicado, dar a notícia amarga ou pular em chamas do 11º andar direto na piscina parecem situações perfeitas para um substituto. Pena que as três primeiras fazem parte da vida real e, portanto, devem ser encaradas pelo protagonista. Para a quarta, porém, existe profissional bem preparado, que gosta do que faz e que ganha dinheiro para executá-la. É o dublê (em inglês, double ou duplo), cuja missão é tornar o mais verossímil possível a cena para o filme, série, novela, programa ou propaganda.

“Nós nos arriscamos no lugar do ator ou da atriz principal. Para seguir na profissão é preciso ter dom, muita técnica, um bocado de coragem e ser um pouco louco também”, explica Bruno Santana, 28 anos. O dublê, ator, produtor, diretor e cineasta esta à frente da Duble & Atores (http://dublesatores.com.br), agência que começou a funcionar em São Paulo desde o início do ano e já conta com casting de 100 nomes. “Somos chamados para vários tipos de trabalhos, como saltar de carro em movimento, colocar fogo no corpo, pular de lugares altos”, conta. Para tanto, é preciso mesmo gostar de adrenalina, caso de Dayane Albuquerk, 26. “Sempre fui de me aventurar, de me arriscar. Curto me impor desafios.” Apesar de ter crescido bastante, o número de mulheres na profissão ainda é pouco se comparado ao de homens.

Ter uma habilidade específica ajuda na carreira. Santana, por exemplo, atua desde criança e adolescência, época em que começou na dança de rua. Frequentou, inclusive, aulas na Casa de Hip Hop de Diadema. Artes marciais, acrobacias, parkour e até patinação estão no currículo dos alunos da agência. Luis Roberto ‘Mosquito’, 35, começou a trabalhar na área depois que foi ‘descoberto’ por um olheiro quando treinava na pista de skate de São Bernardo. Ele é patinador profissional. “Fiz o filme Rio-Santos, no qual eu substitui cenas do ator Fernando Alves Pinto. Meu perfil batia com o do ator. Depois, passei a aprender a pular de lugares mais altos, fazer manobras com carros”, conta Mosquito, que gostaria de realizar a profissão também fora do País.

Durante o curso, eles desenvolvem outras áreas – dança, canto e dramaturgia – além, claro, de técnicas de rolamento ou aprender a ‘cair’ sem se machucar, por exemplo. Para começar a fazer trabalhos simples, como uma briga, é necessário período de, no mínimo, seis meses. Santana só manda para projetos mais complicados, como capotamentos, que mexam com fogo e altura, apenas profissionais com bem mais experiência, que treinam exaustivamente e têm técnicas apuradas. “Treino, ao menos, três vezes por semana, faço exercícios e me fortaleço. Nunca quebrei nada, preparo meu corpo para o desafio”, diz Orlando Supera, 32, um dos pioneiros do parkour no País.

O cachê para as cenas mais perigosas também aumenta e chega a R$ 100 mil. “Antes de aceitar, porém, analisamos cada caso. Se possível vamos até o local. Uma vida não tem preço”, reforça Santana. A primeira dica para quem quer ser dublê, segundo Supera, é procurar uma escola especializada e séria. “Não pode ver na televisão e tentar fazer sozinho, não dá para executar nada sem orientação. O gel que usamos para colocar fogo no corpo (no máximo 30 segundos) é específico, vem de fora. É um grande risco fazer qualquer coisa por conta”, finaliza.

É possível substituir o corpo ou partes dele
Na agência de Bruno Santana os alunos aprendem tudo do início. A começar pela postura. “O corpo deve ser livre e a pessoa precisa ter a consciência dela, até onde pode ir. O grande ator não precisa dizer uma só palavra para emocionar. E isso depende de muito treinamento e técnica”, explica o professor da agência, Geraldinho Mário. Assim, conseguem reproduzir gestos e até o andar do ator principal. Apesar de não ser necessário ter DRT de ator, eles priorizam a formação completa. “O ator tem que sair daqui assim. Para o diretor que contrata é bom já ir alguém que também sabe ser dublê.”

Isso porque também existem trabalhos só para substituir corpo ou partes dele. Na novela A Força do Querer, da Globo, a personagem Ivana (da são-bernardense Carol Duarte) mudou de sexo e fez cirurgia para a retirada dos seios. Na cena, o corpo que aparece – além do uso de alguns efeitos especiais e maquiagem – é do modelo Leonardo Guinther.

VOCÊ SABIA
Alguns atores se recusam a usar dublês e Tom Cruise, 55 anos, é um deles. Em agosto, durante as gravações de Missão Impossível 6, ele quebrou o tornozelo tentando executar uma de suas cenas.

Apesar de todo o preparo e técnica, às vezes, os acidentes com dublês são fatais. Em 2017, foram registradas mortes nos sets da série The Walking Dead, em julho, e do filme Dead Pool 2, em agosto.




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