O depoimento de Lobão andava pouco frutífero até que ele pediu para ir ao banheiro. Foi quando um agente da PF que o escoltava encontrou quatro bilhetes escondidos no bolso da calça dele. Os manuscritos traziam anotações diversas sobre produção e lucro, com nomes de empresas e valores cotados em três moedas diferentes (real, dólar e guarani - dinheiro do Paraguai). Segundo o presidente da CPI, deputado Luiz Antônio de Medeiros (PL-SP), os bilhetes contêm orçamentos de cigarros falsificados produzidos e vendidos pela quadrilha comandada por Lobão.
Depois de tomar conhecimento das anotações, Medeiros afirmou que Lobão transformou a superintendência da PF num 'escritório particular' para o comando de atividades criminosas.
Quando os bilhetes foram revelados, Lobão se defendeu alegando que os papéis haviam sido plantados pelo agente da PF que o levou até o banheiro. Mas ele foi desmascarado pouco depois, graças a uma gravação feita pela Polícia Federal. No diálogo, o contrabandista relatou o caso a um interlocutor desconhecido e confirmou que já levava os bilhetes ao sair da superintendência da PF. Lobão ainda admitiu que colocou a culpa no agente da PF para se vingar.
Sonolento - Desafiador e debochado, Lobão fazia questão de bocejar enquanto os deputados o questionavam. Nas poucas ocasiões em que se dispunha a responder alguma coisa, o interrogado caía em contradição e dava explicações vazias. Ele até chegou a negar a alcunha. "Não tenho apelido. Sou chamado de senhor Roberto Eleutério da Silva." Mas atendeu perfeitamente quando foi chamado de Lobão pelos deputados.
Perguntado sobre seus negócios, Lobão respondeu que comprava e vendia "todo tipo de mercadoria com nota fiscal". Ele também rebateu as acusações. "Quando se prende alguém como contrabandista, tem de achar a mercadoria. Cadê a mercadoria?"
Ao ser questionado se a sonolência evidente havia sido resultado de alguma medicação, ele retrucou. "Só se for para ficar mais elegante" Quando foi perguntado se usava drogas, outra resposta enviesada. "Se eu nem fumo, como posso me drogar?"
Após o depoimento, a CPI promoveu uma acareação entre policiais acusados de envolvimento com contrabando e Lobão, que negou conhecer os investigadores Arnaldo Ferracini e Jean Wagner Cabral – ambos acusados de trabalharem como guarda-costas do acusado.
Cabral disse que não conhecia Lobão. Ferracini, por sua vez, afirmou que recebia dele R$ 36 mil por mês para "dar proteção".
Segundo a CPI, cerca de 90 policiais civis, militares e federais estão envolvidos com o esquema do contrabandista. Os agentes são acusados de dar cobertura para o transporte de cargas, entre outros crimes.
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