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Misturando bem, fica livre
Carlos Brickmann
01/10/2017 | 07:18
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É tudo muito simples: os petistas agora têm de falar mal de Antonio Palocci, falar bem de Paulo Maluf (PP) e defender Aécio Neves (PSDB). Os parlamentares do Centrão têm de falar bem de Michel Temer (PMDB) e Aécio, dizer que não existe Quadrilhão, esquecer Maluf (as alas que hoje comandam o PP operaram sozinhas no esquema do Mensalão) e ignorar Palocci. Os tucanos falam bem e mal de Temer, esquecem Maluf, ignoram Palocci e defendem Aécio, que foi seu candidato à Presidência. Mas nem todos defendem Aécio: Geraldo Alckmin (PSDB), José Serra (PSDB), Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Tasso Jereissati (PSDB), os caciques do partido, mantêm-se em estrondoso silêncio.

Todos, petistas, tucanos das mais diversas alas (há aproximadamente uma ala por parlamentar), a turma do chamado Quadrilhão, se aliaram em defesa da democracia deles, especialmente das normas que dificultam prisões. Onde já se viu, punir senadores apenas porque fizeram o que não deviam? E até onde isso vai, considerando-se que metade dos senadores está sendo investigada?

Suas excelências descobriram que gritar ‘fulano na cadeia’ para fins eleitorais virou algo perigoso: o grito vira eco, vai e volta. Querem mudar. Só falta combinar com o Supremo. Mas aí tudo é mais suave: o julgamento da Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade), que os partidos propuseram em defesa dos parlamentares atingidos por decisões do Supremo, está marcado para breve, 11 de outubro. E a presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, já disse que Supremo e Senado “estão na boa”. Estão na boa, pois.


O objetivo final

Como presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Cármen Lúcia tem papel da maior importância. Frase sua: “O fim do Direito é a paz, a finalidade do Direito é a paz. Nós construímos a paz”. A paz, portanto, será construída.

Nem burros...

Há muitos anos, a deputada estadual paulista Conceição da Costa Neves, a temida rainha da Assembleia, dizendo a este repórter que os deputados eram o retrato do povo, exemplificou: “Na Assembleia há honestos e ladrões, estudiosos e ignorantes, preguiçosos e trabalhadores. Só não tem burro nem bobo, porque burro e bobo não conseguem chegar aqui”.

Todo esse comportamento de suas excelências, que nós consideramos esquisito, eles sabem que é mesmo esquisito. Burro e bobo não chegam ao Congresso. Eles têm motivo para agir assim; na verdade, motivos. Alguns querem livrar-se de problemas futuros com grades e tornozeleiras; outros só se preocupam em manter o padrão de vida, sem devoluções, sem multas.

...nem bobos

O fato é que não há partido importante livre de escândalos. Quem parece lutar pelo senador tucano Aécio Neves está é salvando Lula; quem diz que Lula não deveria passar por tantos problemas está lutando por Aécio – e todos, inclusive Renan Calheiros (PMDB), que fez discursos oposicionistas, por Michel Temer, que sabe o que fazem aliados e adversários quando ninguém está olhando. Em cada caso, seguem a regra básica de sobrevivência congressual: “no meu, não”.

Do chão não passa

Michel Temer está a ponto de bater um recorde mundial: daqui a pouco seu índice de aprovação poderá ser divulgado com nome por nome dos que o apoiam. Na última pesquisa Ibope, Temer está com 3%, menos da metade de Dilma na sua pior fase. E 77% acham seu governo ruim ou péssimo.

Aliados já querem botar a culpa no pessoal de comunicação, já que os bons resultados econômicos – um pouco menos de desemprego, uma leve alta no consumo, a tendência ao retorno do crescimento econômico, a forte baixa nos juros, a inflação em queda – não têm contribuído para evitar a má imagem de Temer e do governo. O problema é que, no momento, os resultados econômicos teriam de ser fenomenais para elevar a popularidade do presidente. Na hora em que cada prisão é saudada antes que se saiba seu motivo, esperava-se que Temer limpasse a área, cortando despesas, combatendo privilégios, implantando austeridade. E ele assumiu com Romero Jucá, Eliseu Padilha, Moreira Franco, e apareceu conversando com Joesley Batista – aquele que não resistiu e caguetou a si mesmo. Não há popularidade que aguente.

As tropas-ioiô

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, e o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), anunciaram a retirada das tropas que cercaram a Rocinha. Ambos dizem que houve significativos avanços para a paz na favela e que, “se necessário”, os militares podem voltar. Lembremos: o traficante-chefe da favela, Rogério 157, escapou do cerco. Como não será aceito em outros morros (cada um já tem seu traficante-chefe), nem se converterá a alguma religião contemplativa, tem mesmo é de voltar para a Rocinha. O chefão anterior, Nem, que comanda a guerra contra 157, tem seu quartel-general num presídio federal de Segurança máxima, a milhares de quilômetros do Rio. Mas agora querem prendê-lo no Rio mesmo, pertinho da favela. Sairia mais barato manter as tropas na Rocinha, em vez de fazê-las ir e voltar.
 




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