Cotidiano Titulo
É tempo de delatar
Rodolfo de Souza
21/09/2017 | 07:00
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O momento é de delação. Delata-se o pai, delata-se a mãe ou ambos, caso esteja em jogo uma compensação que normalmente vem por meio de um desconto nos dias de cadeia, o que não deixa de ser uma grande vantagem, afinal de contas. Oportunidade que não se pode menosprezar, sobretudo, se o coro do meliante estiver jurado, com poucas chances de voltar logo às ruas para gastar seu rico dinheirinho que por certo guardou em algum colchão que só ele sabe em que cama repousa.

Mas é preciso que se esclareça, antes de mais nada, que o sujeito preso é favorecido pela rigidez do seu dedo, somente quando desfruta da hospitalidade penitenciária por atos concebidos e executados, de preferência na calada da noite, em que o dinheiro alheio é objeto de espoliação em grandes volumes subtraídos dos cofres públicos. Claro que o sucesso da operação depende sempre da presença de vários elementos, peças-chave para que o dividendo possa render excelente quantia a todos os envolvidos, que não são poucos, uma vez que a máquina é imensa e, por conseguinte, repleta de mãos a serem regadas. E é este, aliás, o motivo que torna indiscutível a importância destas mãos no programa de delação.

Falamos aqui de grupos de pessoas que se organizam e montam esquemas para, por meio de manobras mirabolantes, terem acesso ao ganho fácil de muita, mas muita grana. Isso tudo em razão do poder que exercem. Poder este conferido pelos cargos que ocupam dentro da esfera e que, sem os quais, ficaria difícil roubar uma coxinha que fosse da cantina local. É máquina corroendo as entranhas da máquina.

As negociatas incluem também e, principalmente, negócios com o setor privado, que libera vultuosas somas para essa gente que, mergulhada até o pescoço em sua piscina de dinheiro, ordena então que se escancare os cofres do governo para que as empresas executem obras País afora, cobrando sempre o olho da cara por serviços que não valem um terço ou um décimo das cifras cobradas. Montantes astronômicos que cabem à população pagar com o suor da cara.

E, para que a trupe esteja completa, entra em cena o extraordinário time dos delatados, que é composto por inocentes figuras que juram não saber do que se trata a acusação que lhes pesa impávida nos ombros. Até porque nunca estiveram lá, nunca conversaram com quem quer que fosse e tudo não passa de um plano malvado arquitetado para encher de mácula sua imagem de homem público trabalhador e resplandecendo honestidade. Tem ainda aquele que, de olhar santo, afirma, com toda a cara de pau que lhe é peculiar, que deseja ver tudo apurado, nos mínimos detalhes.

Culpado denunciando culpado, bandido julgando bandido é o quadro que a mídia não se cansa de esfregar na cara do povo deste País, que, embora aprecie um circo, parece que já cansou e não acredita mais na declaração de quem quer que seja. São tantos dados, um sem número de acusações todos os dias, tanta chateação que fazem o povo perder o interesse, embora seu destino esteja diretamente ligado a tudo isso.

E o brasileiro anda mesmo quieto, parece até meio anestesiado. Talvez por causa dos furacões, terremotos, megalomania nuclear, golpes de estado, corrupção, violência, desemprego, desânimo, desesperança, segue cabisbaixo, entregue ao bom e velho campeonato de futebol, que pega fogo.

Acho que vou seguir seu exemplo.




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