O Grande ABC tem aproximadamente 14,6 mil quilômetros de instalações subterrâneas entre fiação de telefonia, tubulação para abastecimento de água, captação de esgoto e distribuição de gás natural encanado. Porém, as prefeituras conhecem apenas o volume de canos e dutos para saneamento. Nenhuma administração sabe aonde exatamente existe gás encanado ou onde passam conexões para telefonia e internet.
Se as instalações fossem colocadas em linha reta, seria possível ir sete vezes para Salvador (BA). A rede de distribuição de água é a maior, com mais de 5,5 mil quilômetros entre as sete cidades. A somatória das extensões do subsolo regional foi prejudicada, pois a Prefeitura de Mauá não repassou qualquer tipo de informação.
Especialistas argumentam que essa falta de dados mostra a incapacidade dos Poderes Executivos de se antecipar a acidentes, como aconteceu neste ano no Rio.
Sem o mapeamento do subsolo não é possível, por exemplo, uma prefeitura diagnosticar se dutos para gás estão em locais proibidos, como em áreas de preservação ambiental ou de risco à população.
Para o geólogo e professor da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo), Leandro Eugenio da Silva Cerri, as prefeituras têm de ter responsabilidade pelo o que está abaixo das cidades. "Com essas informações é possível ao poder público evitar um acidente durante escavações, por exemplo."
As administrações municipais informaram que, antes de realizar qualquer tipo de intervenção que necessita a perfuração do solo, todas as empresas e concessionárias que mantêm instalações soterradas são procuradas.
"O poder público não pode transferir uma responsabilidade para a iniciativa privada. Se alguma empresa precisa realizar um trabalho em uma rua, a Prefeitura tem de saber se naquele local passa uma rede de gás, por exemplo", continuou o geólogo.
Para o engenheiro elétrico e diretor da Faeng (Faculdade de Engenharia da Fundação Santo André) Mario Gonçalves Garcia Júnior, a probabilidade de acontecer uma explosão no subsolo do Grande ABC é mínima. O especialista explicou que as condições do subterrâneo carioca são totalmente diferentes do que existe abaixo das cidades da região.
"No Rio há galerias por onde passam a tubulação de gás e energia elétrica. Um curto-circuito em um transformador pode ter ocasionado aquele acidente (a tampa de um bueiro foi jogada para cima). Aqui é diferente, o gás está enterrado e a fiação está nos postes", explicou.
Júnior também esclareceu que o material dos dutos de gás encanado usados pelas empresas paulistas é resistente à corrosão e à umidade da água. "Existiria algum risco se a tubulação fosse antiga, tal como a maioria instalada no Rio de Janeiro", disse o professor.
"As empresas sinalizam com discos indicativos CW-30onde existem tubos de gás. Esses sinais ajudam os operários a identificar o local onde não pode ser perfurado sem supervisão da distribuidora", ressaltou o professor.
Por outro lado, em 2008, moradores do bairro Jardim, em Santo André, temeram pela segurança local. O Semasa (Serviço de Saneamento Ambiental de Santo André) escavou a Rua Padre Manoel da Nóbrega, e os técnicos perfuraram uma rede da Comgás. Na época, a empresa informou que o mapa do local não foi solicitado pela autarquia. Outro caso aconteceu ano passado na esquina das ruas MMDC e Cásper Líbero, no bairro Pauliceia, em São Bernardo, quando uma retroescavadeira atingiu tubulação de gás e o quarteirão foi interditado.
Comgás repassa informações via internet
Uma ferramenta on-line permite que qualquer prefeitura saiba onde estão as ligações da Comgás no Grande ABC. Basta o órgão público informar a rua e a empresa ainda se compromete a enviar técnicos para acompanhar a perfuração.
A falta de mapas se deve à atualização das informações operacionais. Quem explica é o gerente de assistência de cadastro da Comgás, José Antonio Nogueira. Ele informou que nos sete municípios existem 530 quilômetros de tubos para gás.
"Se fornecermos um mapa para cada cidade, essas informações vão ficar rapidamente desatualizadas pelo número de novas ligações. Isso pode dar a falsa sensação de segurança às prefeituras", explicou o funcionário da Comgás.
De acordo com Nogueira, a empresa possui polos para reparar danos e fazer com que não haja acidentes. "Temos toda a estrutura para evitar que uma tragédia aconteça", garantiu.
Ele explicou que a Sabesp (Companhia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo) é o órgão que mais solicita informações sobre ruas e pavimentações. "Temos preocupação com qualquer tipo de perfuração nas ruas onde temos instalações. Por isso, para a Sabesp, todas as informações técnicas são repassadas em menos de uma hora", afirmou. Para as prefeituras, o detalhamento do local pode demorar até cinco dias após a solicitação. "Nunca tivemos problemas com obras de prefeituras, que nos requisitam os dados com antecedência."
Para acontecer uma explosão de grandes proporções, conforme Nogueira, é necessário três fatores. "Tem de haver oxigênio, gás e chama. Se não existir volume de oxigênio o bastante, a explosão não acontece , diferentemente do GLP (Gás de Petróleo Liquefeito)", explicou.
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