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Lobo e cordeiro, agora amigos
Carlos Brickmann
23/08/2017 | 07:00
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Surpreenda-se (ou não): Lula disse na segunda, numa entrevista em Sergipe, que Michel Temer não fez nada de errado para conseguir derrotar na Câmara, logo no início, seu processo de impeachment: “Eu acho que o Temer fez o que qualquer presidente faria, buscar maioria para evitar que ele fosse cassado”. Veja o vídeo em https://twitter.com/claudiotognolli.

Lula, bom político, sabe que o pau que bate em Chico bate em Francisco e que os problemas de um são os mesmos do outro. Talvez variem em grau, mas bastam para encerrar carreiras políticas e colocar em risco o gozo, em liberdade, das aposentadorias pelas quais tudo fizeram. Lula sabe que, do outro lado, também há bons políticos, que preferem desfrutar as delícias do poder (ou da oposição) a evitar que seus adversários as desfrutem.

Fernando Henrique, por exemplo, já disse que buscar doações para o acervo de ex-presidentes (como a que o Instituto Lula obteve da OAS, mais de R$ 1 milhão) é absolutamente normal. Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, lembrou que ex-presidentes são obrigados legalmente a manter o acervo presidencial, mas não há destinação de recursos nem de locais para isso. E Lula disse que Aécio jamais pediu algum cargo em seu governo – com isso, livrou-o da acusação de ter cobrado propinas no período lulista.

Quem é lobo, quem é cordeiro? Tanto faz – ora um é um, ora é outro.

Time articulado

A direção nacional do PMDB promete punir os políticos do partido que se mostram mais amigos de Lula do que seria conveniente. O governador sergipano Jackson Barreto e seus seguidores seriam os primeiros, pelo calor da recepção a Lula, ora peregrinando pelo Nordeste. Outro alvo podem ser os Renans de Alagoas – o senador Renan Calheiros e seu filho Renanzinho, governador. Mas não é bem assim: o PMDB não vai perder governos cheios de bons cargos só para manter a coerência. E, a propósito, que coerência? Temer foi vice de Dilma. Romero Jucá, Renan e Padilha, até mesmo Gabriel Chalita, todos trabalharam juntinhos com o PT até que ficar com Dilma se mostrou inviável. O governador paranaense Roberto Requião é ainda tão pró-PT que até apoia Nicolás Maduro. Os dirigentes nacionais do PMDB fazem cara de bravos. Bem conversados são muito mais suaves.

Jogo profissional

Mas essa história de brigar no palco e acertar-se nos bastidores não é para todos: só para os profissionais. A senadora Kátia Abreu, por exemplo, que se transformou de líder ruralista em amiga de infância de Dilma, pode ser punida. Ela poderia até parecer muito amiga, mas só de mentirinha.

O mundo gira

No mundo real, a Lava Jato fez estragos de verdade: mesmo que grandes alvos escapem da prisão, imagens e popularidade foram prejudicadas. Um exemplo: em Miguel Leão, município de 1.474 eleitores no Interior do Piauí, o prefeito foi cassado pelo TRE por abuso de poder político e houve eleições para substituí-lo. O Piauí é governado por um petista, Wellington Dias (que, segundo Lula, é um gênio da política). Em 2006, Lula teve 87% dos votos em Miguel Leão. O candidato de Wellington Dias e de Lula foi Jaílson de Souza, do PT. Lula gravou vídeo de 30 segundos, enviado aos celulares dos eleitores, dizendo: “O Jaílson é do PT, e você sabe que o PT sabe governar o Brasil, sabe governar Miguel Leão. Por isso, no domingo não esqueça, vote em Jaílson”. Mas quem ganhou, com 51,48% dos votos, e tomou posse na segunda, foi Roberto César, Robertinho, do PR. “O eleitor”, disse Robertinho, “sabe que Lula não é o santo que imaginava”.

A semana Lava Jato

Suas excelências trabalham contra, mas a popularidade da Lava Jato se mantém em alta. Nesta semana, saem dois livros sobre caça a corruptos. O do procurador Rodrigo Chemim, do Ministério Público, Mãos Limpas e Lava Jato: A Corrupção se Olha no Espelho (Citadel Editora), compara a Lava Jato à italiana Mãos Limpas e sugere mudanças para que nossa investigação vá ainda mais longe. Já à venda, R$ 40. E o do jornalista Carlos Graieb, PF – A Lei é Para Todos, Editora Record. Primeira edição, 10 mil exemplares, já vendida. Também estreia um filme com o mesmo nome. 




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