O beliscão que o gerente A.Q. levou da mulher dentro do carro não passou desapercebido e nem foi à toa. Entre os quase 400 postos de combustível estabelecidos na região, ele estacionou justamente naquele que as frentistas Bárbara Lopes, 19 anos, e Pamela Cristina de Souza, 21, trabalham, na avenida João Ramalho, no Centro de Mauá.
O uniforme feminino – minissaia sobre uma calça de cotton e baby look – e o sorriso estampado nos rostos das funcionárias talvez não tenham agradado a mulher de A., que partiu para a repreensão.
Já não é raro encontrar mulheres frentistas nos postos da região. Somente no último semestre, a participação feminina nos estabelecimentos cresceu 20%, segundo estimativa do Sindicato dos Frentistas do ABC. “Até evito parar aqui para não ganhar um beliscão”, brincou A.. Atendimento mais atencioso e cortês são os principais argumentos utilizados pelos gerentes e proprietários de postos que optam pela equipe de trabalho feminina. Muitos também não descartam que manter mulheres nas bombas é uma estratégia para atrair os clientes.
“Infelizmente, chama mais atenção. Você sabe como homem é. Aqui o movimento aumentou bastante”, conta Elaine Cristina, gerente de um posto na avenida Capitão Mário Toledo de Camargo, na Vila Luzita, em Santo André. “Quando comecei há três anos, eram poucos postos com mulheres. Agora tem em todo lugar. Elas atraem mais clientes e o atendimento é melhor”, relata Gisele Viana, 22 anos, que há menos de um mês deixou de ser frentista para virar gerente.
Há quatro meses abastecendo, calibrando e verificando água e óleo dos carros, as frentistas Bárbara e Pamela confirmam o mais provável. “A maioria prefere abastecer com a gente. Eles dizem que é porque o atendimento é melhor e porque somos bonitas”, diz Bárbara. “Teve um que disse que só veio porque é mulher que abastece”, recorda Denice Maria da Silva, 20 anos, frentista há três semanas em Santo André.
Os clientes – Depois que o preço do combustível deixou de ser tabelado, no início da década de 1990, o atendimento deixou de ser um diferencial apresentado pelos postos. Os recorrentes e elevados casos de adulteração também fizeram com que os motoristas priorizassem a qualidade da gasolina e do álcool. As frentistas são um atrativo a mais para vencer a concorrência. Mesmo assim, as opiniões são divergentes quando se fala na preferência, até entre os homens.
“Para mim é indiferente. Não vou parar no posto só porque é mulher que abastece”, conta o desossador Severino Ramos Melo. “O atendimento é melhor. Elas estão sempre sorrindo e bem-humoradas”, contrapõe o caminhoneiro Ricieri Luvizotto, que fala que a onda de mulheres frentistas também tomou as estradas. Já o eletricista Regivan de Oliveira Silva mostrou-se mais empolgado: “O visual é bem melhor, né?”
As mulheres não recriminam. “Acho legal. É um atrativo diferente”, acredita a fisioterapeuta Juliana Hass. “Trabalhando decentemente, para mim tudo bem”, conta a costureira Maria Helena Dias. “A mulher tem que ser feminina em qualquer lugar”, completa a professora Lídia Arnosti ao comentar os uniformes das frentistas mulheres.
Assédio – Mas é por conta das vestimentas mais justas, que em alguns casos chegam a ser atraentes segundo alguns motoristas, que as frentistas costumam ser diariamente assediadas. “É muito assédio mesmo. Já ganhei flores, CDs e até calcinhas”, relata uma frentista de São Bernardo que não quis se identificar. Há apenas quatro meses trabalhando como frentista, Suelen Cristine Monico, 19 anos, confessa que as cantadas e os elogios são freqüentes. “Mas às vezes alguns passam dos limites”, conta. A única reclamação quanto ao modelo do uniforme é quando chega o fim de tarde. “Aí a gente passa frio. Já pedi para eles trocarem os uniformes”, afirma Maria Regina Ferreira, 20 anos.
De acordo com o secretário-geral do Sindicato dos Frentistas do ABC, Valdecir Dias Guimarães, os uniformes mais chamativos são característicos de postos sem bandeira (sem vínculo específico com distribuidora). “Nos postos bandeirados já existe uma padronização do uniforme.” Um exemplo é um dos postos da avenida dos Estados, em Santo André, onde as sete mulheres frentistas usam camisetas pólo, jaleco e boné. “Não gostaria de trabalhar com uma roupa mais colada e curta. Mas acho que o homem não dá atenção para isso”, afirma Jocivana Maria do Nascimento, 28 anos, frentista há três.
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