Cultura & Lazer Titulo
Sonho gay
Por Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
19/02/2006 | 08:10
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No rastro dos caubóis gays do filme O Segredo de Brokeback Mountain, vem aí Calhambeque, o novo longa de Cristina Reis, atriz e diretora carioca formada na ELCV (Escola Livre de Cinema e Vídeo) de Santo André. A fita mostrará o sonho de ser uma drag queen e a estréia está prevista para junho, na Galeria Olido, Centro de São Paulo, concomitante à parada do orgulho gay. Da mesma forma que o diretor Ang Lee não recorre a estereótipos para narrar um romance homossexual entre duas figuras que o cinema popularizou como machões, Cristina pretende contar sua história sem fixações do tipo ser gay é ruim ou ser gay é bom.

O roteiro tem 12 personagens no total, cada qual com uma história pessoal. Dois deles lembram os dias de diversão na boate Calhambeque, particularmente um concurso de drag queen lá realizado anos antes. O filme será um flashback deste casal. “Busco a sensibilidade. Quero mostrar uma questão gay sem preconceitos, sem prostituição, sem violência. O objetivo de alguns personagens é participar do concurso, de outros não. No fundo, é uma história de quem quer ou não ser drag”, diz a diretora e roteirista.

Tudo começou na pizzaria Calhambeque, localizada na Zona Norte de São Paulo, que nas noites de sexta-feira se torna exclusiva para drag queens e simpatizantes. Cristina foi com amigos e ficou encantada. “A maioria que freqüenta lá é jovem, garotos de 17 a 20 anos, com muito entusiasmo. Vi um garotinho falando de sua vontade de ser drag, acho que sua mãe nem sabia que ele estava lá. Voltei na outra sexta, o mesmo cenário cheio de sonhos, sem brigas e com respeito. Consegui a boate como locação e comecei a escrever a história”, afirma.

A equipe já está a postos para as filmagens que se iniciam em abril. Estão mantidos os atores que trabalharam com Cristina no média-metragem Fora dos Trilhos (2004), seu trabalho de conclusão da ELCV: Val Mataverni, de Santo André, Fábio Sá, ex-aluno da ELCV, Daniel Ziaugra e Diógenes Yrwing nos papéis principais. Márcio Costa, diretor de produção, cursa a ELCV. Gláucia Gomes e Natália Tibério, produtoras, também se formaram com Cristina na ELCV. Waldemar Lima, que fez direção de fotografia para Glauber Rocha em Deus e o Diabo na Terra do Sol e foi professor na ELCV também está na equipe.

Serão dez dias de filmagens, quatro dos quais no interior da Calhambeque. As locações são em São Paulo, Rio e Santo André, aqui, no Teatro Municipal. Prazo curto, grana idem. Orçado em R$ 94 mil será um dos longas nacionais mais baratos do ano. Dinheiro ainda não tem, mas acostumada a “correr atrás” e a produzir com o mínimo em recursos, Cristina confiava captar alguma verba no dia seguinte ao fechamento desta edição, na quinta-feira. “Quando comecei o projeto nem sabia que Brokeback Mountain estava em produção. Acho que ele vai abrir um bom caminho para meu filme. Mas quem vai correr atrás de divulgação sou eu mesma”.




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