No Jardim das Maravilhas, em Santo André, ação criminosa para furto de diesel trouxe transtornos; na madrugada, houve escape de gás
Ação criminosa de grupo especializado em roubar combustível diretamente de dutos da Petrobras levou ontem série de problemas a moradores do Jardim das Maravilhas, em Santo André. Um vazamento de GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) fez com que nove pessoas fossem removidas de suas casas. Também houve corte de energia no bairro, em um perímetro de cerca de 1,5 quilômetro, somente restabelecida à tarde.
Galpão onde os criminosos cavaram buraco de três metros e um túnel de seis para chegar até o terreno onde os dutos passam de forma subterrânea foi localizado ontem, após a Transpetro, empresa responsável pelos dutos, acionar a PM (Polícia Militar) e demais órgãos. Ele foi alugado por uma mulher, já identificada, há cerca de 15 dias com a alegação de sediar local de manutenção de máquinas industriais (veja mais informações ao lado). A estimativa é a de que ao menos mais cinco pessoas agiam no esquema.
Conforme o delegado titular da Dicma (Delegacia de Investigação de Crimes contra o Meio Ambiente), Márcio Antônio Pereira Macedo, responsável pela investigação, há indícios de que houve furto de óleo diesel da tubulação. “Tudo indica que sim. Eles chegaram até os dutos e acoplaram válvula para fazer a retirada, o que não é procedimento simples”, explicou.
Na madrugada, um deslocamento de terra, causado por retroescavadeira da Transpetro ou de empresa contratada, teria caído em cima de uma válvula do tubo do gás. Conforme o delegado, ela deve ter sido colocada no local pelos ladrões, até mesmo por engano. “Pedimos uma perícia ambiental no local para verificar os danos ao meio ambiente. Os resultados devem estar prontos em cerca de 30 dias”, afirmou Macedo.
A empresa chegou a se manifestar por nota, na parte da manhã, afirmando que o rompimento da tubulação ocorreu durante o conserto. “A equipe de manutenção da Transpetro estava trabalhando na reparação de um duto de diesel onde havia sido detectada uma derivação clandestina de combustível quando a máquina que fazia a escavação no local bateu em válvula instalada em um segundo duto, paralelo ao de diesel, provocando então o vazamento de GLP”, informou.
Porém, no fim da tarde, a Transpetro alegou que um furto causou o vazamento. “O local continua isolado para a conclusão dos reparos. Equipes da Transpetro trabalham para esvaziar o duto, o que está sendo feito por meio de bombeamento de água. Em seguida, será feito o reparo. O procedimento segue criteriosos protocolos de segurança”, informou.
As equipes permaneciam no local até o fechamento desta edição. Os nove moradores que haviam sido retirados foram liberados para retornar às suas casas. A operação tem apoio da Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, PM e Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo).
Grande parte do comércio permaneceu fechado, mas o proprietário de padaria localizada em frente ao local abriu as portas após a energia elétrica ser retomada. Mesmo assim, o prejuízo de Valdemir Gomes da Silva, 42 anos, chegou a R$ 5.500. “Sem energia elétrica não dá para fazer nada. A primeira fornada de pão saiu por volta das 14h30, sendo que a padaria já abre 5h com pão quente. Também não conseguimos servir o almoço. Tive de jogar muita coisa fora”, lamentou.
A coordenadora de projetos Elena Guimarães, 60, que mora no local há um ano, afirmou que o sentimento foi de medo. “Ficamos sem energia elétrica e ninguém sabia muito bem o que tinha acontecido”, disse.
“Hoje (ontem) pela manhã senti cheiro de gás. Como moro mais para cima, acabei ajudando vizinhos, guardando produtos em minha geladeira”, contou a vendedora Santa Medei, 60.
Galpão pertence a família de vereador
O galpão localizado na Avenida Sapobemba é de propriedade da família do vereador de Santo André André Scarpino (PSDB). O parlamentar afirmou que ninguém sabia da intenção do grupo. “A propriedade alugada é do meu tio. Eles falaram que iam fazer reforma no local, mas fizeram um furo para chegar até os dutos da Petrobras, levando transtornos para todos”, afirmou.
Segundo Scarpino, a família prestou esclarecimentos à investigação. “Os ladrões invadiram e ninguém foi preso. Minha família prestou esclarecimento como locatária. Eles tamparam tudo, mas provavelmente podem ter sido filmados pelas câmeras do comércio”, ressalta o vereador.
Conforme o delegado titular da Dicma (Delegacia de Investigação de Crimes contra o Meio Ambiente), Márcio Antônio Pereira Macedo, as investigações prosseguem para que a mulher identificada seja encontrada, assim como os demais integrantes do grupo. “A mulher é a que assinou o contrato. No momento da assinatura ela estava com pelo menos mais dois homens”, disse.
Os responsáveis podem ser autuados por furto e crime ambiental, já que pode ter ocorrido contaminação do rio e solo. YF (colaborou Humberto Domiciano)
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.