Setecidades Titulo Meio Ambiente
Ações para garantir água seguem lentas
Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
22/03/2012 | 07:00
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Orlando Filho/DGABC


Hoje, Dia Mundial da Água, o Grande ABC tem mais motivos para se preocupar do que comemorar. A lentidão com que as companhias executam os planos para garantir o abastecimento - aliada ao consumo desenfreado - coloca a região diante da ameaça de racionamento a partir de 2015.

Daqui a três anos, segundo estudo da ANA (Agência Nacional de Águas), 55% dos municípios do País terão deficit na oferta. Na região, só estão fora da lista Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.

Para especialistas, o uso racional da água deve ser somado a medidas como despoluição de rios e preservação de mananciais, o que ampliaria a produção de água e garantiria melhor qualidade.

A explicação para o problema é simples. Houve aumento da demanda populacional na Região Metropolitana e poluição das bacias, o que diminui o potencial de produção e captação de água limpa. No Grande ABC, são 2,5 milhões de habitantes - 612.176 ligações de água - que consomem, em média, 170 litros de água por dia, o que equivale a quase 425,2 milhões do recurso hídrico.

Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), o consumo na região deveria economizar 145 milhões de litros , já que a média considerada ideal é de 110 litros por dia por habitante.

O doutor em Geografia Humana pela USP Maurício Waldman explica que vivemos fenômeno classificado como "estresse hídrico". "Se nada de concreto for feito, seremos uma metrópole sedenta à beira de um reservatório como a Billings", destaca. Para ele, o ideal é investir em educação ambiental e fontes de energia poupadoras de água.

O diretor-presidente da ANA, Vicente Andreu, defende o retorno da discussão sobre criação de reservatórios não vinculados a geração de energia. Para ele, é necessário investir em tratamento de esgoto para livrar as nascentes da poluição.

O Grande ABC é cortado pelo sistema Billings-Tamanduateí, que integra a Bacia do Alto Tietê, a mais populosa do Estado. Segundo a ANA, até 2015, deveriam ser investidos R$ 5,4 bilhões na ampliação de todos os reservatórios, entre os quais três que atendem a região - Rio Grande, Rio Claro e Cantareira.

INVESTIMENTO

A Sabesp, responsável pela distribuição de água em São Bernardo, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra e de quem os demais municípios adquirem água por atacado, prevê investimento de R$ 220 milhões em oito anos para garantir o abastecimento. Entre as metas está a expansão do sistema da ETA (Estação de Tratamento de Água) Rio Grande em dois metros cúbicos por segundo (chegando a 7.000 litros por segundo) até meados de 2013 e construção de 45,5 quilômetros de coletores-tronco por São Bernardo para levar o esgoto coletado para tratamento na ETE-ABC.

Vazamentos consomem 35% da água disponível na região

As companhias também trabalham para reduzir o índice de perda d'água - a diferença entre o montante produzido e o volume lido pelos hidrômetros dos clientes -, na casa dos 35% no Grande ABC. Em Rio Grande da Serra o índice é um dos menores da Região Metropolitana (10%), sendo que 3% da água produzida e consumida não é contabilizada, seja por fraudes ou problema nos hidrômetros (perda aparente) e 7% não chegam ao consumidor devido a vazamentos nas adutoras (perda real).

A taxa em São Bernardo é de 33% (13% de perda aparente e 20% de perda real), de 31% em Ribeirão Pires (13% aparente e 20% real) e de 38,63% em Diadema (13,12% aparente e 25,51% real). Em Santo André, perde-se 25,7% da água produzida e em São Caetano a perda física é de 24,08%.
Diadema conta com o Preserva (Programa Educacional de Sensibilização, Redução de Perdas e Valorização da Água), que recebeu R$ 100 mil em operação de caça vazamentos subterrâneos por 250 quilômetros de redes.

Em Santo André, houve troca de redes antigas de ferro fundido por tubulações novas, em PVC e de hidrômetros, além de otimização do sistema para detecção de vazamentos não visíveis. O DAE (Departamento de Água e Esgoto) de São Caetano finalizou em 2011 a troca de 10 mil hidrômetros, com mais de dez anos de uso, instalou válvulas reguladoras de pressão e investiu em pesquisa de vazamentos não visíveis.

Racionamento faz parte do dia a dia de bairros altos 

Enquanto muitos desperdiçam água, há comunidades do Grande ABC que ainda sofrem com a intermitência no abastecimento. Geralmente localizados nos pontos mais altos dos municípios, esses moradores utilizam criatividade para armazenar água e reutilizá-la. Tarefas básicas do dia a dia, como tomar banho e lavar roupa e louça, exigem planejamento antecipado.

No Jardim Caçula, em Ribeirão Pires, intermitência no abastecimento sempre esteve presente na vida do aposentado Arilton Aparecido Cristo, 55. Morador do bairro há 30 anos, ele destaca a necessidade de recorrer à bica próxima de sua residência por diversas vezes.

Distante da fonte, a dona de casa Ivani Borges dos Santos, 35, criou alternativas para reaproveitar a água da chuva para jogar no quintal, nos banheiros e lavar roupa. Instalada no ponto mais alto do bairro, ela armazena o recurso hídrico em um tanquinho quebrado e também em reservatório desativado. "Estou criando sistema de captação de água da chuva que deve ficar pronto daqui a seis meses", conta.

Falta de água também é comum em pontos dos seguintes bairros de São Bernardo: Vila São Pedro, Jardim Santo Inácio e Vila Kiko. Em Mauá, moradores de algumas vias do Feital, Parque das Américas, Jardim Primavera, Jardim São Gabriel e Vila Mercedez também chegam a passar dias com torneiras secas. Já em Diadema, há problemas em ruas do Jardim Inamar.

RESOLUÇÃO

Para minimizar os problemas com abastecimento, a Saned (Companhia de Saneamento de Diadema) investirá R$ 28 milhões na construção de oito quilômetros de adutoras, substituição de redes de água, trocas de ramais, ampliação em 17% da reservação, além de projeto para reforma dos reservatórios com objetivo de melhorar o atendimento à população e eliminar a possibilidade de intermitência no abastecimento.

Já a Sama ampliou o número de boosters - bombas de recalque - no decorrer do ano, sendo que três unidades deverão ser implementadas. Outro projeto é a implantação de reservatório no Jardim Zaíra, que está em fase de licenciamento ambiental e deverá contar com recursos do PAC 2. Também deverá contribuir para minimizar o problema a Interligação do Reservatório Mauá com Reservatório Zaíra. Tal ação deve ser implementada ainda neste ano, já que o texto da licitação está sendo elaborado.




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