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Burocracia emperra acesso a pílulas
Maíra Sanches
Do Diário do Grande ABC
18/03/2012 | 07:00
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O acesso à pílula de emergência - conhecida como do dia seguinte - na rede pública de Saúde exige paciência. Mulheres que recorrem ao contraceptivo têm dificuldades para retirar a medicação nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde) da região. A equipe do Diário percorreu dez delas, em cinco cidades do Grande ABC, e em apenas uma, em Santo André, era possível conseguir o medicamento de imediato.

O principal entrave é a exigência de receituário. O problema é que muitas vezes não há médicos disponíveis para assinar a receita, o que obriga a maioria das mulheres a buscar opções em farmácias. O prazo máximo de 72 horas para tomar o contraceptivo após a relação sexual inviabiliza a marcação de consulta para retirada da receita médica. A espera para passar no médico pode durar semanas ou meses.

De acordo com as prefeituras, o Ministério da Saúde enviou, ano passado, para Santo André, São Bernardo, Mauá e São Caetano 6.318 pílulas de emergência, mas nem todas foram utilizadas. Em Mauá, por exemplo, nos últimos dois anos, o governo federal entregou 1.133 cápsulas. Hoje, o estoque é de 1.910. Já em São Bernardo, onde são recebidas 1.500 cápsulas anualmente, apenas 900 são utilizadas no período. Em algumas UBSs, os próprios atendentes revelaram que a procura não é frequente. Em farmácias comuns, o preço da pílula pode variar de R$ 11 a R$ 21 e não é exigida a receita.

A obrigatoriedade estipulada pelo Ministério da Saúde não tem unanimidade. Para a professora de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina do ABC Alessandra Palma, é preciso encontrar meio-termo na discussão sem que o controle de natalidade seja prejudicado. "É preciso ter controle mais rígido na distribuição. Talvez, fornecer apenas uma vez em caráter emergencial e cadastrar aquela retirada. Na segunda vez, recomendar que a paciente consulte um ginecologista. É só deixar uma lista no posto de Saúde." Em contrapartida, defende o uso responsável da pílula, que é prejudicial à saúde se ingerida com frequência. "Há efeitos colaterais e a dosagem hormonal é muito alta. Se não houver regulação, vira bagunça."

Em Santo André, São Bernardo, Mauá e Ribeirão Pires as pílulas são distribuídas nos postos de Saúde.

Em São Caetano, o contraceptivo é distribuído no Centro de Atenção Integral à Mulher e, em casos de menores, é preciso consentimento dos pais.

 

Especialista defende orientação às adolescentes em postos de Saúde

Grande parte da demanda por pílulas do dia seguinte vem de adolescentes de até 19 anos que tiveram relação sexual desprotegida. A burocracia no acesso ao contraceptivo acaba por afastar essa faixa etária da rede pública de Saúde no Grande ABC.

A solução para o problema é encontrada por elas em farmácias comuns e sem qualquer fiscalização. "É uma oportunidade que o sistema de Saúde não pode perder. É preciso aproveitar a chance de abordar essa adolescente e fazer trabalho de conscientização. Os funcionários precisam estar preparados para atender a esse público. Essa informação pode evitar novo uso irresponsável", recomenda a gerente de Políticas para Mulheres e Questões de Gênero da Prefeitura de São Bernardo, Dulce Xavier, também coordenadora do GT (Grupo de Trabalho) de Gênero do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC.

A alternativa de comprar a medicação sem orientação pode ser perigosa e significar atentado à saúde. Em excesso, a bomba de hormônios pode causar doenças como câncer de mama e de útero, problemas na gravidez, além de trombose e embolia pulmonar.

Para Dulce, falta praticidade e atenção para frear o perigo do consumo desenfreado da pílula, principalmente entre adolescentes. "Dessa forma, não está funcionando. Essa exigência inviabiliza o acesso e é preciso ser revista pelo governo federal. O índice de gravidez indesejável entre adolescentes é tão grande quanto o índice de meninas com Aids aos 15 anos", compara.




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