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Mulheres que fizeram história divertindo na telinha
Por Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
07/10/2008 | 07:00
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De Lucy (Lucille Ball) dormindo em cama de solteiro, mesmo tendo um casamento feliz em I Love Lucy, nos anos 1950, a uma quase sempre harmônica comunidade lésbica na Califórnia dos anos 2000, retratada em The L Word, as séries acompanham, mesmo que tardiamente, a caminhada feminina. São aspectos como esse, que podem vir escondidos até em histórias fantasiosas como A Mulher-Maravilha, que a autora Fernanda Furquim aborda em As Maravilhosas Mulheres das Séries de TV (Panda Books, 368 páginas, R$ 52,90).

A jornalista, especializada em televisão, divide o volume em décadas, a partir das contemporâneas de I Love Lucy até as mais ‘fresquinhas'. Apresenta o contexto histórico mundial e norte-americano a cada época antes de esmiuçar os principais títulos, com sinopse, crítica e biografias, além de deliciosas curiosidades de bastidor. Fernanda organiza ainda os textos em aventuras, comédias e dramas. O último capítulo é dedicado às produções brasileiras, que têm entre seus ícones Eva Wilma (Alô Doçura), Regina Duarte (Malu Mulher) e Malu Mader (A Justiceira).

A década de 1950, em que as noivas eram precoces e só algumas sortudas mantinham seus empregos da época da guerra, era rica em humor. Atrasadas em relação ao avanço comportamental, as séries ainda eram conservadoras - por isso Lucy tinha de dormir em cama de solteiro ao lado do marido.

Apesar de séries de sucesso dos anos 1960 terem ensaiado um maior compasso com a realidade, foi só a partir da década posterior que os personagens mostravam mulheres mais reais e independentes, com seus problemas expostos de maneira mais direta.

Em pleno fim dos anos 2000, o que se vê são histórias estreladas por mulheres darem uma surra nas que têm homens à frente. O mercado também proporciona às atrizes gama variada de papéis. Elas podem ser tudo: de sensitiva (Medium) à espiã (Alias).


Trechos
I Love Lucy (1951 a 1957)
"Lucy e Ethel criaram as bases para as personagens femininas que estavam surgindo na televisão. Lucy é irreverente, determinada, que não aceita o que lhe é imposto e não tem medo de expressar sentimentos e opiniões; é ingênua, insegura e carente de atenção e afeto. (...) Ethel é cautelosa, racional, inteligente, experiente, irônica e mal-humorada, que com freqüência sacrifica sua vida pessoal para fazer o que é certo."


Malu Mulher (1979 a 1980)
"Um marco na TV brasileira, em que as questões sociais e íntimas da personagem feminina eram discutidas abertamente, como as relacionadas à perda da virgindade na adolescência, ao uso do anticoncepcional e ao aborto, entre outros temas.Tratava-se da situação da mulher após o divórcio, do machismo da época (...)"

 

Gossip Girl (no ar desde 2007)
"Com base nos livros publicados por Cecily von Ziegesar, a série apresenta um grupo de garotas de classe alta de Nova York que freqüenta uma escola particular. Lidando com assuntos típicos da adolescência, elas enfrentam situações ligadas a drogas, sexo, relacionamentos, estudos e família."

Jeannie é um Gênio (1965 a 1970)
"A idéia do amor livre ainda não tinha chegado às sitcoms dos anos 1960, embora ela corresse solta fora das telinhas. No entanto, ter uma mulher solteira e seminua - para os padrões da época - que vive com um homem igualmente solteiro, poderia ser uma metáfora do ‘faça amor e não a guerra', protagonizado por um major e uma mulher de espírito livre."

Commander in Chief (2005 a 2006) "Seguiu uma linha política que tendia à esquerda e apresentava como temas centrais questões administrativas e a imagem da mulher no cargo. Por esse recorte, a série foi encarada como uma forma de preparação do público para aceitar a candidatura de Hillary Clinton ao cargo em 2008, tanto para os telespectadores quanto para o meio político e a crítica especializada."

Mary Tyler Moore (1970 a 1977)
"De maneira aberta e sincera, a série apresenta o cotidiano de uma mulher solteira, dedicada ao trabalho, que se preocupa com as discriminações sociais e com os relacionamentos profissionais e de amizade. Atitudes típicas de outras personagens (...), no entanto, Mary é uma mulher auto-suficiente e, o mais importante, não é uma virgem à caça do príncipe encantado a quem outorgaria a felicidade. (...) Não levanta bandeiras, vai à luta, mesmo que muitas vezes seja discriminada no local de trabalho. (...) Este e outros aspectos (...) a fizeram conquistar seu público e seu lugar na história da televisão."

A Feiticeira (1964 a 1972)
"A Feiticeira foi uma das poucas séries americanas que explorou toda a potencialidade da figura humana e ainda apresentou um dos mais ricos universos de personagens coadjuvantes. Em suas histórias aparentemente construídas apenas para divertir, vêem-se questões como a velhice, a solidão, o divórcio, a relação que se mantém mesmo depois que o amor acaba, a mulher livre, a competição de mercado, a ganância e a competitividade, o voyeurismo, o ego, a inconformidade, a inveja, o amor acima de tudo e ainda inúmeras outras questões, como o ciúme, o preconceito, o abandono... A lista é enorme."

A Mulher-Maravilha (1976 a1979)
"(...) é uma produção muito importante para o universo feminino da televisão americana, justamente pela transformação que a personagem sofreu ao longo de sua história. Na primeira fase, tem-se uma personagem insegura, que tem de aprender a viver no mundo dos homens, e, para tanto, deve esconder sua verdadeira identidade e assumir uma outra, até que possa revelar-se."

Medium (no ar desde 2005)
"Ao contrário das produções dramáticas estreladas por personagens femininas, em especial os dramas juvenis, apresenta a vida o mais real possível. (...) É uma das poucas que conseguiu criar uma ambiente familiar estável, saudável, aconchegante. Uma espécie de oásis em meio a tantas séries com famílias desmembradas, com parentes que não se suportam, ou desajustados."

 




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