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Israelense e palestino abrem série da Tucca
13/03/2017 | 07:33
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Em 2008, o pianista israelense Yaron Kohlberg recebeu um convite: fazer um recital em Oslo, cidade que abrigou importantes negociações entre palestinos e israelenses. A proposta era a de uma "apresentação em nome da paz". Mas Kohlberg teve uma ideia: se a proposta era falar de paz, por que não convidar para subir ao palco ao seu lado o pianista palestino Bishara Haroni? Nascia assim o Duo Amal, termo que se pode traduzir como "esperança", aqui por meio da arte como caminho de aproximação.

O duo abre, no dia 19 de abril, a temporada de apresentações internacionais da Tucca (Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer), na Sala São Paulo. Ao todo, serão seis atrações, entre o jazz e o clássico. Depois dos pianistas, apresenta-se em maio do Quinteto de Daniel Binelli, em noite de tango; em julho, César Camargo Mariano apresenta Joined, espetáculo em que atua ao lado de músicos de grupos como a Filarmônica de Berlim, em releitura do repertório da bossa nova; em setembro e outubro, duas estrelas: Jane Monheitt e Chick Corea, acompanhado da Steve Gadd Band, respectivamente; e, no encerramento do ano, em novembro, a violoncelista Natalia Clein e os Solistas de Câmara de Salzburgo.

"A música é uma forma maravilhosa de promover a união entre as pessoas, não importa de onde elas vêm, qual a nacionalidade delas", diz Kohlberg. "Todos nós podemos aproveitar a música e outras formas de manifestação artística e, ao fazer isso, há sempre a possibilidade de deixar para trás outros problemas que nos consomem no dia a dia. É daí que vem o poder da música."

Nesse sentido, Kohlberg e Bishara Haroni tiveram como referências importantes dois grandes músicos da atualidade: Daniel Barenboim e Zubin Mehta. Barenboim fundou, ao lado do pensador palestino Edward W. Said, o Divã Ocidente Oriente, que levou à criação de uma orquestra jovem formada por músicos palestinos e israelenses. Mehta, diretor da Orquestra Filarmônica de Israel, tem advogado em favor da ideia de aproximação entre culturas por meio da música.

"Barenboim é um grande músico e está fazendo coisas incríveis com sua orquestra. O grupo tem sido capaz de chamar a atenção para o Oriente Médio, mas de forma distinta, mostrando que a realidade pode ser diferente", diz Kohlberg. "E Zubin Mehta é uma grande inspiração para qualquer artista, aprendemos muito com eles e nos sentimos honrados pela conexão que temos com ele."

A associação entre arte e manifestação política, sugere Kohlberg, carrega sutilezas e é mais complicada do que se pode supor. Ele conta que, desde o início do duo, a atividade ao lado de Bishara Haroni foi vista como uma forma de afirmação política. "Para nós, no entanto, desde o início, o mais importante foi a relação pessoal que se construiu entre nós e o nosso amor pela música", ele explica. Por causa disso, eles nem sempre utilizam o termo "Amal", incluindo nos programas apenas os nomes dos dois pianistas. "Nossa percepção a respeito dessas questões todas passou por algumas transformações com o passar do tempo, mas foi ficando claro para nós que o importante era focar na música, porque, no fim das contas, é o que de fato une as pessoas."

Kholberg e Haroni ainda não fecharam o programa do recital em São Paulo. Mas Kohlberg oferece uma pista do que interessa o duo na hora de escolher as peças a serem apresentadas. "Um duo de piano é um formato excitante, que não costuma ter tanto espaço quanto outras formações de câmara. Ele pode soar como uma grande orquestra, afinal um piano já tem um som forte, imagine então dois. Normalmente, lemos obras, ensaiamos, e então percebemos com quais peças conseguimos desenvolver uma relação direta. Apenas tocamos peças que amamos e a respeito das quais sentimos que temos algo a dizer", explica o pianista. "De qualquer forma, esta será nossa primeira vez no Brasil, ouvimos muito sobre o país e sobre São Paulo, sobre a hospitalidade e o acolhimento do público. Estamos honrados de tocar em um projeto como o da Tucca".




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