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Caos e saques aumentam a indignação contra EUA em Bagdá
Da AFP
12/04/2003 | 11:29
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Três dias depois dos tanques americanos entrarem em Bagdá, seus habitantes perdem a paciência diante da indiferença dos militares estrangeiros em relação aos saques, à desordem e à destruição que tornaram a cidade um caos.

"Bagdá é como um grande barco à deriva. A dor e a morte aumentaram quando a coalizão entrou. Era uma cidade linda, mataram a vida que havia nela", garantiu neste sábado Salah Jamir, um comerciante do bairro de Chorga, no Centro de Bagdá.

Os edifícios oficiais em chamas, os ministérios completamente saqueados, civis armados para proteger seus pertences, as ruas transformadas em formigueiro de ladrões, livres para roubar, matar ou realizar ajustes de contas: o espetáculo enche os olhos de lágrimas de muitos iraquianos que se dirigem inutilmente aos tanques americanos para lhes pedir ajuda.

"Não somos ladrões. Esta gente rouba porque pensa que isto pertence a Saddam. Foram privados do indispensável durante muito tempo e levam tudo agora sem saber para quê", segundo Safar Hussein Hasem, um joalheiro de Bagdá, que se viu obrigado a guardar todas suas mercadorias em casa para salvá-las dos saques.

Os habitantes da capital criticam a indiferença dos soldados americanos diante dos caos reinante e o abandono do povo a sua própria sorte, sem governo nem polícia. Apesar disso, era possível ver hoje militares americanos começando a patrulhar as ruas.

"Precisamos de defesa, mais que de ocupação. Somente eles têm neste momento o poder de colocar fim a este desastre", garante Abdel Hussein Hattab.

Sem hesitar, Amar Al Kaadi, um professor que assiste impassível a destruição de uma estátua de Saddam Hussein no centro da cidade, acusa o Exército americano de contribuir para a anarquia e incentivar os ladrões a furtar, destruir e queimar.

"Os tanques romperam a porta do banco Rafidain, no bairro de al-Jamila, dos ministérios e incentivaram as pessoas a roubar tudo. Fizeram o mesmo na sede do partido Baath, eu vi", garante.

Segundo eles, os soldados americanos estão contribuindo para o caos "porque querem pôr no poder o presidente que eles querem e destruir tudo com o objetivo de atrair suas próprias empresas para reconstruir o país".

"Se este caos durar mais de um mês, lutaremos contra os americanos e os expulsaremos. Destruíram nosso país, que é uma civilização antiga, não é como os Estados Unidos, que não têm história", diz Hassem Jalil Fahed em frente ao Ministério do Petróleo, completamente protegido por centenas de soldados e tanques.

"Por que vigiam somente o Ministério do Petróleo e deixam nossas universidades, escolas e museus serem destruídos? Era necessário bombardear também a televisão, a empresa de eletricidade? As pessoas de Bagdá estão assustadas. Os Estados Unidos não estão dizendo a verdade", acrescentou.

No coração comercial de Bagdá, centenas de centros comerciais foram invadidos pelos ladrões, no edifício olímpico da cidade apenas a estátua de Saddam continua intacta, ninguém ousou destruí-la, os ministérios do Planejamento e da Habitação foram reduzidos a cinzas.

Muitos hospitais foram saqueados e até os médicos devem andar armados para proteger seus locais de trabalho dos ladrões. Em depósitos próximos, peças de ferro, mercadorias e gasolina são roubados diante de olhar atônito de um grupo de iraquianos. "Que tipo de liberdade os Estados Unidos estão nos dando", questiona Adnan Hassen, mostrando uma parede derrubada por tanques americanos, que, segundo ele, deram acesso ao local a todo tipo de ladrões.

Para muitos moradores de Bagdá, a única autoridade da cidade são os imãs e os xeques que estão pedindo aos fiéis que devolvam os roubos. Várias mesquitas teriam recebido mercadorias roubadas de ladrões arrependidos e vão redestribuí-las. "Todos nós estamos contra Saddam, mas também somos contra as mentiras americanas. Este é o nosso povo", diz Adnan.

A poucos metros do local, pode-se ver uma imagem insólita: um grupo de soldados americanos hasteia de novo a bandeira iraquiana, que caiu no chão na praça dos mártires da guerra Irã-Iraque.




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