Implementado por moradores do bairro Nova Petropólis, em São Bernardo, o Vizinhança Solidária já planeja dar os próximos passos. Além de 100 placas com informações do projeto e 40 sirenes, instaladas ontem, a partir de janeiro serão discutidas a instalação de câmeras de monitoramento nas 14 ruas.
Conforme o comerciante Walter Resende Filho, 58 anos, coordenador do projeto, será formada uma comissão para fazer o orçamento de todo o equipamento, que deverá ter o valor rateado entre os moradores, assim como aconteceu com as sirenes (cada uma custou R$ 58).
“É importante que quanto mais pessoas se juntarem, o valor fica menor. O custo é somente com a implantação e com a mensalidade da internet. A partir daí, cada morador vai ter acesso as imagens no celular ou no computador”, contou.
Cerca de 40 moradores acompanharam a instalação da sinalização dos postes, que também contou com o apoio da GCM (Guarda Civil Municipal) e da PM (Polícia Militar). Para o aposentado Carlos Alberto Dias, 52, morador desde 2013 e que possui sistema de câmeras em casa, a instalação do sistema no bairro é fundamental. “No ano passado cedi imagens para a polícia três vezes para ajudar a esclarecer três roubos em residência. É através das filmagens que nos sentimos mais seguros. Só a sirene não resolve o nosso problema.”
Uma moradora de 64 anos, sendo 40 no bairro, que preferiu não se identificar, passou por experiência traumática em agosto deste ano. Ela foi roubada por três homens que estavam em um carro e ao perceber que o intuito era um sequestro, reagiu.<EM>Por causa disso, foi agredida e ficou com o braço quebrado. Há 10 anos, ela também foi roubada em casa, porém nunca tinha passado por situação de violência. “Foram três meses de recuperação. Desde então, mudei a minha rotina. Gostava muito de andar a pé, o que agora eu só faço em último caso”, disse.
O sucesso do programa é a última aposta para que ela permaneça no bairro. “Eu já coloquei a minha casa para vender, mas essa ação me deu um pouco de esperança de que as coisas mudem. Acredito na união dos moradores”, afirmou.
A ação surgiu a partir de reuniões no Conseg (Conselho de Segurança) Centro (veja mais informações no texto ao lado) e também foi impulsionada por um grupo de Whatsapp dos vizinhos, que mantém 180 contatos. A perspectiva é que esse número ultrapasse 250 após o início do programa.
Conforme o presidente do conselho, André Vial este é o terceiro projeto a ser implantado na cidade (também há vigilância solidária na Vila Duzzi e na Vila Olga). “Foi criado em São Paulo para ser um complemento do trabalho da polícia. Ele é implantado a partir da demanda dos moradores, que são apresentadas nas reuniões, que são importantes para o diálogo.”
Como exemplo, Vial citou que foram discutidos roubos na Rua Nicola Spinelli, uma das principais do bairro. Conforme dados da Polícia Civil foram cinco registros de roubos de janeiro a novembro do ano passado e quatro no mesmo período desse ano. “Após a apresentação do problema até a PM, houve aumento no patrulhamento e os responsáveis foram presos.”
Conforme o soldado do 6º Batalhão, Rodolfo Vianna, os índices no bairro apresentam queda nos últimos meses. “Mesmo assim, realizamos um patrulhamento de rotina em toda a área.”
OPINIÃO
O ex-coronel da PM (Polícia Militar) e ex-secretário nacional de Segurança Pública José Vicente da Silva Filho acredita na efetividade do programa. “É uma experiência que acontece muito nos Estados Unidos e na Inglaterra, A resposta da polícia acabava sendo muito rápida e pode gerar queda de mais de 50% nos casos de furtos e roubos”, projeta. “Um ladrão não vai roubar uma casa em que encontra mais dificuldades, mas é uma prática que aponta para deficiência de prevenção no combate aos crimes na área”, pontua a professora especialista em Segurança Pública da UFABC (Universidade Federal do ABC) Alessandra Teixeira.
Especialistas têm opiniões divergentes sobre os Conselhos de Segurança
Os Consegs (Conselhos de Segurança) foram criados em 1985 e tem como atribuição ser entidade de apoio a polícia nas relações comunitárias. Porém, a efetividade das reuniões mensais entre comunidade, polícias Militar e Civil, e na maioria das vezes integrantes da GCM (Guarda Civil Municipal) é discutida.
Conforme dados do site da Coordenadoria Estadual dos Conselhos Comunitários de Segurança, o Grande ABC registra 21 Consegs. Sendo Santo André com sete, seguida por São Bernardo com seis, Diadema com três e Mauá com dois. São Caetano, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra têm um.
A professora, especialista em Segurança Pública da UFABC (Universidade Federal do ABC), Alessandra Teixeira, pontua que os conselhos devem debater uma proposta maior de segurança pública. “Na prática, são grupos de vizinhança ou comerciantes, que acabam levando seus interesses. É uma experiência pouco democrática, que não dá para se comparar com conselhos de Saúde e o Orçamento Participativo, por exemplo.”
Já, para o ex-coronel da PM (Polícia Militar) e ex-secretário nacional de Segurança Pública, José Vicente da Silva Filho, as reuniões ajudam na troca de informações. “Muitas vezes, até por falta de boletim de ocorrência, algumas informações não chegam a polícia. Também é oportunidade para dar sugestões.”
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